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Artigo: Coletes amarelos não são camisas da seleção brasileira

Por CESÁRIO CAMPELO BRAGA*

No ano de copa do mundo os franceses têm muito a comemorar no futebol e uma lição para ensinar à seleção brasileira, “os azuis” estamparam as capas de todos os jornais do planeta no primeiro semestre com uma seleção embalada pela jovialidade de seu craque Kylian Mbappé, o talentoso Antoine Griezmann e seu meia Paul Pogba. Craques de uma nova geração vitoriosa, que fazem morrer de inveja nossa talentosa seleção que ainda não acertou o prumo no futebol.

Nesse segundo semestre, a França continua estampando as capas dos jornais e apresenta mais uma lição para o Brasil, dessa vez, na política. Manifestações protagonizadas por trabalhadores franceses vestidos com coletes amarelos estão nas ruas em busca de melhores condições de vida. Vale ressaltar um detalhe sobre o perfil desses manifestantes, são trabalhadores e trabalhadoras da zona rural e urbana da classe menos abastada.

No país símbolo da revolução burguesa, referência global em proteção social, o povo está tomando as ruas contra a queda do poder de compra (personificado nas altas do preço do combustível), ampliação da taxa de desemprego e as benesses dadas aos mais ricos pelo presidente Macron, que abriu mão de arrecadar 3,2 bilhões de euros por ano com o fim do imposto sobre fortunas que era cobrado sobre os bens das famílias mais ricas do país.

Mas o que o Brasil pode aprender com isso? Tudo! Os problemas da França, que levaram a classe trabalhadora às ruas, são fichinhas se comparados aos que vem acontecendo no Brasil, pós impeachment das camisas e patos de borracha amarelos.

Para dialogar com as três grandes matrizes de problemas franceses – custo de vida, alta dos combustíveis, taxa de desemprego e favorecimento dos ricos -, vamos citar exemplos do que está rolando no Brasil pós 2015.

1. Vivemos o maior ciclo de altas dos combustíveis dos últimos 10 anos. Só entre outubro de 2017 e outubro de 2018, o preço médio da gasolina no Brasil subiu 22%, aumentos que são seguidos nos preços do Etanol, Diesel e Gás de cozinha. Esses aumentos culminaram na greve dos caminhoneiros em maio deste ano.

2. Segundo o relatório do IBGE, a taxa de desemprego no Brasil em 2013 era de 5,4%, em 2014 caiu para 4,8%, mas em 2015 subiu para 8,5%. Não para por aí, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff a taxa de desemprego cresceu assustadoramente para 11,5% em 2016, 12,7% em 2017. Sendo que a expectativa é que feche em 12,9% em 2018.

3. O Brasil deixou de arrecadar, em 2017, R$ 354,7 bilhões com renúncias fiscais. Os benefícios fiscais para este ano de 2018 estão estimados em R$ 376,3 bilhões e já no orçamento para 2019 está previsto R$ 376,00 bilhões em incentivos, sem falar na MP 795/2017, que beneficia petrolíferas estrangeiras até 2040, que significa uma renúncia fiscal de R$ 40 bilhões ao ano, o equivalente a R$ 1 trilhão nos próximos 25 anos. Lembrando que todos esses benefícios atingem empresas e empresários e não a classe trabalhadora.

Aliado a isso tudo que já poderia ser um estopim de mobilização, o relatório da OXFAN de 2018 aponta que no Brasil pela primeira vez nos últimos 15 anos paramos de reduzir as desigualdades, e ainda segundo o estudo os 10% mais pobres do Brasil viram uma redução de 11% nos seus rendimentos, enquanto os 10% mais ricos viram um crescimento de 6%.

Alguns dados desse estudo lançam luzes sobre alguns fatos relevantes, como o crescimento diretamente proporcional das desigualdades com a diminuição investimentos nas áreas sociais. Comprovado com a estagnação da diminuição das desigualdades já no período de vigência do “teto de gastos” que quase encerrou os investimentos nas áreas sociais do Brasil (Saúde, Educação e Assistência Social).

Outro fato que o estudo desmistificou é que, a crise econômica atinge todas as classes sociais de forma isonômica, um ledo engano, perceba que mesmo em meio à crise econômica e política os 10% mais ricos tiveram seus rendimentos ampliados. Ou seja, a crise no Brasil gera lucros para os mais ricos enquanto castiga severamente os mais pobres.

Mas, por que no Brasil diferente da França os trabalhadores ainda não ganharam as ruas? Eu particularmente não entendo, talvez ainda estejamos enebriados com as camisas amarelas sob a cobertura da grande mídia que nos trouxe até esse momento da história, ou simplesmente ainda não conseguimos ver que camisas amarelas do Brasil não representam os interesses dos trabalhadores brasileiros.

*Cesário Campelo é ativista político e militante do PT/AC

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