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Huawei: como a prisão da executiva da empresa chinesa pode atingir em cheio a Apple

Por POR BBC

Loja da Apple em Pudong, distrito financeiro de Shanghai, na China. — Foto: Carlos Barria/Reuters

Loja da Apple em Pudong, distrito financeiro de Shanghai, na China/Foto: Carlos Barria/Reuters

Não é preciso fazer esforço para perceber como o The Global Times- o jornal estatal chinês- está interpretando a prisão de Meng Wanzhou, diretora financeira da gigante de eletrônicos Huawei.

“Banir empresas chinesas como a Huawei vai isolar os Estados Unidos da economia digital do futuro”, diz uma manchete.

É essa ameaça de isolamento que pode deixar as empresas americanas de tecnologia em alerta. Meng está presa há 12 dias no Canadá. A CFO foi detida a pedido dos Estados Unidos, sob a acusação de infringir sanções econômicas impostas pelo governo americano ao Irã – o que ela nega.

Essa detenção deve significar, no mínimo, mais dificuldades de mercado para as gigantes americanas de tecnologia, que conseguiram estabelecer presença no importante mercado da China.

Cerca de 20% das receitas do ano passado da Apple, por exemplo, vieram da China. “Alguns países ocidentais estão recorrendo a meios políticos para resistir às tentativas da Huawei de entrar em seus mercados”, disse um artigo do The Global Time.

“O fracasso em garantir uma abertura recíproca significa que as empresas deles não receberão qualquer benefício da economia digital da China”, sentenciou o jornal chinês.

Meng Wanzhou foi presa durante uma conexão em Vancouver/Foto: EPA

Vendas bloqueadas

Há tempos que a China vem reclamando que os Estados Unidos são injustos com suas grandes firmas de tecnologia, em particular a Huawei, que é empresa chinesa que mais se aproxima de ser concorrente importante da Apple.

Embora ainda não chegue perto da lucratividade anual da companhia americana (o lucro da Apple é de US$ 266 bilhões contra US$ 100 bilhões da Huawei), a empresa chinesa superou a americana na venda global de smartphones no início do ano. A Huawei só ficou atrás da Samsung nesse quesito.

Na terça, um tribunal chinês baniu a venda de alguns modelos antigos de iPhone como consequência de uma ação judicial contra quebras de patente entre as americanas Apple e Qualcomm. A empresa alega que a Apple utilizou em alguns modelos de iPhone um chip feito com tecnologia patenteada pela Qualcomm, sem o devido reconhecimento autoral.

A tecnologia envolve a operação de redefinição do tamanho das fotos tiradas com o smartphone e a capacidade de usar o toque na tela para o uso de aplicativos. As duas empresas estão brigando por ações semelhantes movidas pela Qualcomm em diversos países.

A maioria dos especialistas avaliava que a China rejeitaria o pedido da Qualcomm. Portanto, o banimento dos modelos de iPhone surpreendeu. A Apple entrou com recurso o que garante que a empresa possa manter os aparelhos em venda na China até a decisão final da Justiça.

Não há ligação direta entre essa medida e a polêmica envolvendo a Huawei. Mas o fato de ter sido adotada após a prisão de Meng e em meio à guerra comercial de tarifas de importação faz com que seja vista como uma demonstração de força por parte dos chineses.

A verdadeira história de sucesso da Huawei, porém, não vem dos smartphones em si, mas dos equipamentos que fazem com que faça sentido ter um telefone tecnológico. A Huawei está se posicionando como provedora de tecnologia 5G, a próxima geração de rede de celulares.

Em resumo, se a China achar que os Estados Unidos estão prejudicando injustamente a oportunidade da Huawei de ser um dos protagonistas da tecnologia 5G, poderá retaliar a Apple. E a gigante americana poderá sentir os efeitos dessa agressão.

“A última coisa que investidores de tecnologia não desejavam ver é essa notícia sobre a CFO da Huawei”, diz Dan Ives, da consultoria de investimentos Wedbush.

“Isso é combustível para retaliações.”

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