Há alguns anos, tem-se percebido um aumento da procura por atendimento psiquiátrico por parte de professores do ensino médio de escolas públicas, sejam elas municipais ou estaduais. Depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático têm sido os principais diagnósticos para esses trabalhadores e, não raras vezes, muitos deles acabam necessitando permanecer afastados do trabalho por longos períodos.
E por qual motivo? O nome da “doença” que causa essa doença é violência. O professor tem sido vítima de vários tipos de violência, um monstro de várias cabeças que não ataca silenciosamente: gestores truculentos e insensíveis, perseguições e assédio moral no ambiente de trabalho; violência psicológica e mesmo física por parte de alunos e até pais de alunos; remuneração insuficiente, que obriga professores a cargas horárias triplas, exaustivas e inviáveis do ponto de vista da saúde. Tudo isso muitas vezes vem em bloco e se soma aos problemas nas vidas pessoais desses que, muitas vezes, escolheram a profissão pelo sonho em exercer a vocação de ensinar, o que tem se tornado cada vez mais difícil nesse contexto tão árido.
A violência não para por aí. Grande parte dos professores que precisa recorrer ao atendimento psiquiátrico nos hospitais aos quais tem direito, se vê desamparado e descoberto de um atendimento de qualidade. E quando necessitam se afastar do trabalho, têm seus direitos muitas vezes negados, com suspensão e negativas de licenças. Além disso, quando afastados do trabalho, perdem muitas das premiações e seus rendimentos são drasticamente reduzidos, num momento bastante crítico de suas vidas.
Mais recentemente, um novo ataque: a chamada “Escola sem partido” e o aumento da vigilância sobre o livre pensamento daqueles que teriam por função primordial desenvolver o senso crítico e a capacidade de reflexão nas mentes dos indivíduos em formação.
Diante de problemas tão complexos, o risco de adoecer mentalmente se torna uma rápida e crescente realidade. Entretanto, uma vez que se adoece é imprescindível que se busque por tratamento, sendo que muitas vezes o apoio psiquiátrico com medicações se faz necessário. Além disso, o apoio psicológico é de fundamental importância, porque é preciso, com a ajuda de um profissional capacitado, fortalecer-se para poder garantir a volta ao trabalho ou até tomar decisões que envolvam novos rumos profissionais.
Mas antes de adoecer, é recomendável que esses profissionais procurem apoio psicológico preventivo: psicoterapias, atividade física, atividades artísticas e de lazer podem funcionar como válvulas de escape para o estresse ocupacional e afastar as doenças para longe.
*Marcelo Niel, Médico Psiquiatra – CRM 97.875 / Doutor em Ciências pela UNIFESP.