Segundo as autoridades policiais e também os psicólogos, conceitos e pensamentos estão mudando a respeito de um assunto: o abuso sexual. Quem é vítima tem encontrado cada vez mais coragem e meios de denunciar e dar um basta a esse tipo de crime. A vontade de sair de um cenário de violência fez uma jovem ter coragem e denunciar o agressor, neste caso, o próprio pai.
“A primeira vez que ele abusou realmente foi com cinco anos. Quando minha mãe se separou dele, ela trabalhava viajando e deixava a gente com ele. E eu me acordei de madrugada com ele fazendo sexo oral em mim. Na minha cabeça era uma coisa normal porque ele sempre dizia que era uma coisa mais normal entre pai e filha. Com dez anos, foi que eu comecei a recusar e ele, com raiva, foi e fez o estupro realmente com 11 anos”, falou a jovem que não quis se identificar.
O pai da jovem está preso desde 2017. Ela não se arrepende de ter denunciado e dado um fim nos abusos cometidos dentro da própria casa. “Uma pessoa que você acha, assim, que está protegendo é o verdadeiro monstro que está maltratando, tem que perder o medo”, ressaltou.
Dados da SDS
Conforme dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), no interior do Pernambuco foram registrados, de janeiro a dezembro, 1.371 casos de estupro durante todo ano de 2018. Destes, só em Caruaru foram 99 registros, casos que envolvem crianças, adolescentes e adultos.
Quando a mulher é vítima de abuso sexual, os dados da Delegacia da Mulher de Caruaru indicam que, em 2017, 1.448 boletins de ocorrência foram registrados. Em 2018, foram 1.572, um aumento de 8,56% em situações denunciadas à Polícia Civil.
O que faz a Polícia Civil?
Foram solicitadas pelas vítimas 531 medidas protetivas em 2017, e em 2018 foram 728, uma média de 37% de procedimentos remetidos à Justiça. “Todo ano a gente sente esse crescimento, da mulher procurar a delegacia e contar o que está acontecendo com ela para que a gente faça o devido enquadramento legal e ajude aquela mulher a sair da situação de violência doméstica, porque ela não está condenada a viver aquilo pra sempre”, disse a delegada da Mulher, Jimena Gouveia.
A delegada ainda destacou que “a partir do momento que ela [a mulher] dá o primeiro passo, procura os órgãos públicos, procura a Delegacia da Mulher, é dado o direcionamento para que ela saia daquela situação. Uma das medidas bastante eficiente em relação a isso são os requerimentos de medidas protetivas, que é a ação mais imediata que se pode fazer”.
Acompanhamento psicológico
Independentemente da idade ou gênero, é fundamental oferecer apoio psicológico à vítima de abuso sexual. “Nesse acolhimento psicológico tudo vai ser refeito, ela vai conseguir se restabelecer, ter autoconfiança, entender o que aconteceu com ela. É refazer o sentido da vida, é muitas vezes tentar entender de novo quem ela é, que aquilo que aconteceu não é algo que ela merece”, explicou a psicóloga Tarcya Rayanne.