Opinião: “Os homens falam demais?”

Allow me to womansplain. Explico como as feministas criam soluções utópicas para problemas que não existem. Valho-me do meu “lugar de fala” como mulher – descendente de paupérrimos imigrantes, com carteira assinada desde muito cedo, professora há quase uma década – que dedicou alguns anos a ler e entender o feminismo. As informações podem não ser woman-agradáveis, mas são honestas.

Rebecca Solnit é autora de Os homens explicam tudo para mim, pequeno livro que explora o conceito de mansplaining usado recentemente pela youtuber Kéfera para desqualificar o discurso de seu oponente só porque era homem. Resumidamente, as feministas têm partido do pressuposto adotado por Simone de Beauvoir (1908-1986) de que as mulheres estão sempre em desvantagem por representarem “O Outro” enquanto os homens representam “O Absoluto” e, por isso, precisam reagir em todas as esferas: da linguagem à política. Daí parte o desprezo forçado das feministas no geral em relação ao sexo masculino.

É inquestionável, foi evidenciado pela impostura da famosa youtuber contra um espectador anônimo e comum, mas é também evidente na literatura. Consigo lembrar de várias histórias baseadas em comunidades de mulheres sem homens – como as amazonas –, mas não é tão fácil recordar de comunidades masculinas onde mulheres não sejam bem-vindas. As mulheres têm descartado os homens com facilidade, procurando meios de torná-los dispensáveis, enquanto os homens continuam gostando cada vez mais de estar com uma, duas ou setenta mulheres – ainda que após a morte. Se alguém duvida, pode se jogar na literatura e ler com seus próprios olhos: Mizora publicado em 1890; Herland,em 1915; The female man, em 1975; Les guerilleres, em 1969 e Wanderground, em 1978.

Os homens não estão acusando as mulheres de womansplaining ou de serem o assunto preferido do Ocidente.

Durante minhas pesquisas apressadas, encontrei apenas três obras sobre a condição específica masculina e quase uma centena de obras sobre mulheres, feminismo ou feminilidade. Não bastando, esses três livros que encontrei tratavam dos homens pejorativamente. Essa dificuldade não é somente minha: em 2004, o site da Amazon tinha cinco vezes mais livros sobre mulheres do que sobre homens. Hoje, essa diferença deve ter aumentado, pois nunca se produz tanto livro feminista quando quanto menos se precisa deles. A maioria dos livros sobre conduta criminosa ou problemas psicológicos também descrevem pesquisas preocupadas com o bem-estar das mulheres. Mesmo quando o assunto é sexo – o suposto mundo dos homens – as mulheres lideram o mote da produção de tratados e investigações sobre prazer sexual e orgasmo. Até agora, ninguém alardeou ou encarou esses dados como reflexo de uma cultura antimasculina. Aliás, os homens não estão acusando as mulheres de womansplaining ou de serem o assunto preferido do Ocidente, provavelmente porque, diferentemente das feministas, eles veneram o sexo oposto.

É preciso ser historicamente míope para considerar que realmente os homens explicam mais coisas do que as mulheres quando conversam entre si. Se pararmos para pensar em quantos anos e por quanto tempo as crianças do sexo masculino passam sob a tutela explicativa das mães, pedagogas e professoras – que são majoritariamente mulheres –, acusar os homens de adotar um tom professoral fica ainda mais incongruente. Aliás, será que todos se esqueceram do quanto os maridos reclamam de que suas mulheres falam demais e querem discutir a relação o tempo todo? Se quisermos deixar as impressões do dia a dia de fora e pensarmos em termos empíricos, pesquisas recentes que buscaram calcular a quantidade de palavras que homens e mulheres dizem todos os dias têm mostrado que a diferença é irrelevante. Mas, afinal, se a realidade demonstra uma coisa e as feministas negam histericamente, como entender tanta polêmica?

Isto é o que geralmente acontece: quando existem menos imposição feminina em determinado campo, logo se lançam pesquisadores em busca de medidas igualitárias; mas quando os homens são minoria, o assunto é ignorado. Talvez isso aconteça exatamente pelo que a feminista Beauvoir apontou: os homens foram tomados como universais e quase ninguém se interessa em entendê-los ou estudá-los especificamente. Também porque o movimento feminista não está interessado em mostrar a verdade sobre a difícil relação entre homens e mulheres; o verdadeiro interesse é difamar os homens, forçá-los à resignação e impedir qualquer tipo de reação.

Em uma entrevista no início de 2018, o professor Jordan Peterson passou por uma situação exemplar. Ele foi questionado por uma apresentadora feminista sobre a razão de existirem mais usuários homens do que mulheres no YouTube. A entrevistadora tentava induzir o espectador a pensar que essa diferença tinha raízes machistas, mas Peterson lembrou que as mulheres são maioria em outras redes sociais como o Instagram. Além disso, uma pesquisa Ibope revelada em 2015, mostrou que, no Brasil, as mulheres são a maioria entre usuários de internet. Os homens também são minoria quando se trata de fazer compras online. Na área da educação, os homens brasileiros estão ficando para trás há décadas . Aqui no Brasil, também são a minoria dos beneficiados com aposentadorias e pensões.

Outro caso recente comprova esse fenômeno. Quando a ativista feminista Cassie Jaye começou pesquisas sobre os direitos e a condição do homem contemporâneo, as feministas se rebelaram contra ela. O documentário chamado Red Pill mostra quais são as principais queixas dos homens, quais as reivindicações e preocupações masculinas. Os canais de mídia fizeram o possível para esconder. Entender é simples: “quando há menos homens do que mulheres às voltas com uma questão – como acontece, por exemplo, com o estudo de línguas estrangeiras – ninguém se importa” . Mas não existe exemplo melhor do que o caso Kéfera versus Wallace. Depois de uma entrevista inteira dispondo do microfone, depois de anos gravando vídeos para o YouTube explicando uma centena de futilidades, depois de enriquecer e entrar para o rol dos globais, uma mulher famosa acusa um homem desconhecido de querer se explicar demais.

Ana Caroline Campagnolo, deputada estadual eleita em Santa Catarina, é professora de História e autora de “Feminismo: perversão e subversão”, com lançamento previsto para fevereiro de 2019.

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