Pesquisador descobre dez novos sítios arqueológicos no interior da Amazônia

Restos de cerâmica com pinturas e incisões, carvões e a presença de terra preta arqueológica ajudam a contar a história de como viviam e se comportavam os antigos habitantes da Amazônia. No início de janeiro, o Instituto Mamirauá mapeou dez novos sítios arqueológicos no interior do Amazonas. Os vestígios coletados estão associados a populações produtoras de cerâmicas que ocuparam a região cerca de três mil anos atrás.

O levantamento foi conduzido dentro e ao redor da Estação Ecológica (Esec) Jutaí-Solimões e da Reserva Extrativista (Resex) Rio Jutaí. Ambas são unidades de conservação ambiental que, juntas, somam mais de 500 mil hectares. O trabalho científico é parte de uma colaboração com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão destas áreas protegidas.

Figura cerâmica com forma animal encontrada durante o levantamento arqueológico/Foto: Márcio Amaral/Instituto Mamirauá

Segundo o arqueólogo do Instituto Mamirauá que identificou os novos sítios, as descobertas ajudam a ter um melhor entendimento sobre o passado.

“Os estudos arqueológicos são complementares aos levantamentos de fauna e flora nas unidades de conservação e contribuem com dados para conhecer o passado da região e pensar em formas de proteger o território”, contou.

Antepassados

Durante 12 dias, o pesquisador percorreu comunidades e trechos de floresta nas calhas dos rios Jutaí e Solimões à procura de traços da influência dos antepassados na paisagem. Os sinais estão por toda parte: das manchas do solo arqueológico escuro e cheio de nutrientes, conhecido popularmente como terra preta de índio, até a copa das palmeiras de açaí, pupunha e outros frutos que foram selecionados pelos ancestrais amazônicos para alimentação e são apreciados até hoje.

Arqueólogo do Instituto Mamirauá, Márcio Amaral, que mapeou os dez novos sítios arqueológicos — Foto: Amanda Lelis/Instituto Mamirauá

“Existe uma associação muito próxima entre terra preta, sítios arqueológicos e plantas úteis aos seres humanos, como a bacaba, o açaí a pupunha e o ingá. Por vezes, os arqueólogos não conseguem achar a terra preta, nem fragmentos cerâmicos, mas conseguem ver a vegetação diferente. A antropização da área indica que ali provavelmente existe um sítio arqueológico”, explicou Márcio.

Tradições milenares

A coleta nos recém-descobertos sítios arqueológicos revelou fragmentos de dois conjuntos cerâmicos da história pré-colonial da Amazônia: a tradição Pocó e a tradição Polícroma da Amazônia.

O conjunto Pocó foi produzido por povos cujos registros mais antigos de ocupação no território amazônico datam do primeiro milênio antes da era Cristã e foram catalogados primeiramente nos rios Nhamundá e Trombetas, região do Baixo Amazonas. Entre as características mais marcantes das cerâmicas Pocó, está o uso diverso de cores, com destaque para o amarelo, laranja e vermelho sobre um fundo branco, e a recorrência de figuras geométricas incisas como retângulos, quadrados, círculos, faixas e linhas.

Sítios arqueológicos foram descobertos ao longo das calhas dos rios Jutaí (foto) e Solimões, no Amazonas — Foto: Amanda Lelis/Instituto Mamirauá

“Esse tipo de incisão geométrica é encontrado em sítios arqueológicos como o da Boa Esperança (na Reserva Amanã, centro do Amazonas), dentro do Rio Juruá e em Santarém, no Pará. Os registros chegam também às regiões do Rio Xingu e ao Rio Tocantins. O que nos dá a dimensão que alcançou a tradição cerâmica Pocó há três mil anos dentro dessa ampla região”, destaca o arqueólogo.

Os artefatos revelam a história e tradições das populações antepassadas da Amazônia.

“Através dessas peças, é possível observar a dinâmica dessas populações, que não estavam estáticas, não necessariamente na questão de mobilidade total, mas de pessoas que tinham funções específicas para fazer essas pontes entre áreas distintas. O alcance das cerâmicas Pocó parece estar associado a fatores que incluem agricultura, sedentarismo, aumento populacional e à comunicação entre regiões por meio das antigas e complexas redes de interações sociais de curta, média e longa distância”, diz o pesquisador do Instituto Mamirauá.

Fragmentos cerâmicos coletados da tradição Pocó, que podem datar 3 mil anos — Foto: Bernardo Oliveira/Instituto Mamirauá

O Instituto

O Instituto Mamirauá é uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e realiza há mais de uma década estudos arqueológicos na Amazônia Central, ajudando a expandir as fronteiras do que se conhece a respeito do passado da região.

“O trabalho desenvolvido pelo Instituto Mamirauá é importante para que possamos compreender essas dinâmicas antigas na Amazônia, que antes se pensava que eram muito simples e efêmeras, mas o que os resultados recentes mostram é que muitos aspectos culturais tiveram grande continuidade e dispersão dentro das terras baixas amazônicas”, afirma Márcio Amaral.

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