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A incrível peleja do amigo do meu amigo contra o inimigo do meu inimigo

Por ANTÔNIO ALVES, PARA CONTILNET

Pelo contrário

Outro dia vi, num texto de minha líder, Marina Silva, uma referência aos que só conseguem “construir por oposição”. Está claro que esta é uma daquelas expressões muito particulares que Marina costuma usar, para desespero e delírio dos que fingem que não entendem e a acusam de “falar difícil”. Mas a idéia é clara e tem história, aliás, várias histórias, no Brasil e no Acre.

Na província acreana, lembro de uma entrevista, há coisa de uns 15 anos, na qual o então vice-governador Binho Marques contestou uma formulação do jornalista sobre “os dois projetos em disputa”, afirmando que só conhecia um projeto, o do governo da época, pois a oposição não tinha um projeto, tão-somente era contra o que existia.

Tem muitas histórias sobre isso, de quem define sua identidade menos por ser alguém e mais por ser anti-alguém. Procuro os fundamentos disso e encontro tantas possíveis causas que nem me animo a resumir. Num dos mundos em que vivo, o da arte-ciência do Xadrez, vi ainda ontem uma explicação de um mestre sobre a grande competitividade nesse esporte da mente: a tristeza da derrota é muito maior que a alegria da vitória. Também na política, que é um esporte do Ego, extremamente competitivo, as vitórias costumam ser menos deliciosas que a derrota do adversário.

Vai daí que a uma vitória eleitoral segue-se uma grande confusão, em que a pergunta “e agora, o que vamos fazer?” vai aos poucos se impondo e fazendo mudar as opiniões e argumentos anteriores, que não tinham base na realidade e serviam apenas para o combate contra o malévolo inimigo. Por isso, chegando ao poder, os governantes muitas vezes pensam e fazem exatamente igual -ou muito parecido- ao que mais criticavam nos seus antecessores.

A beleza irônica da democracia, com sua tão falada e pouco desejada “alternância no poder” revela-se nesses momentos. E vale tanto para a situação quanto para a oposição. Aqueles que passaram os últimos anos fazendo uso dos “direitos” governistas, agora querem retirar esses “privilégios” do novo governo. E os novos governistas acham que é a sua vez de ter os direitos que antes chamavam de privilégios.

Mas o tempo, inexorável, implacável, vai emendando as histórias umas nas outras. Logo saberemos quem tem algum projeto, quem apenas é contra alguém, quem é um ator que faz um papel diferente em cada novela… E a polarização nós-contra-eles, no final das contas, pode não ser mais que um espelho onde cada um encara sua própria imagem.

Por outro lado

Por conta dessas ironias do tempo é que recomendo moderação aos tantos amigos que hoje encontro nas redes sociais, de um lado e de outro do espelho. A defesa fanática de um personagem, mas, principalmente, o combate feroz contra o personagem inimigo nas novelas da política, é garantia de vitórias superficiais e derrotas profundas, euforia fugaz e depressão demorada.

No final, os “seguidores” são apenas números que justificam maior “monetização”, proporcional à quantidade de visualizações das propagandas neste admirável mundo virtual. E aquele sujeito chato cujos comentários ofensivos você responde com sincera indignação, às vezes nem existe, é o perfil fake criado e operado pelo funcionário de alguma agencia de marketing digital contratada… pelo partido do teu ídolo, pra estimular tua adesão e avaliar tua fidelidade.

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