Já não se faz crise como antigamente, mas o que tem dá pro consumo diário

A síntese da situação

Nos últimos tempos, que passei longe do jornalismo diário e sem ler o noticiário local, de vez em quando ficava sabendo da vida pública na província pelo sempre bem informado jornalista Altino Machado, que me enviava o link para os fatos. Mas a “análise de conjun-tura” era feita através de uma rápida troca de mensagens com outro amigo jornalista, Itaan Arruda. Eu perguntava “e aí, como vão as coisas?” e ele respondia invariavelmente com uma avaliação completa, embora sucinta: “tá espatifado”. Já era o suficiente pra eu saber que tudo continuava normal, na ordem e progresso de sempre. Agora, que estou de volta ao noticiário cotidiano, de posse das informações proporcionadas pela leitura diária dos sites e jornais, posso fazer minha própria análise de conjuntura. Se o Itaan perguntar, já sei o que responder. Tá espatifado.

Dentro das regras

Ontem, na Assembléia Legislativa do Estado do Acre (por extenso, para destacar a importância solene da instituição, que a sigla ALEAC não mostra), aconteceu o primeiro barraco da atual legislatura -que começou há poucos dias. Fiquei animado com a notícia de que os seguranças tiveram que intervir para impedir que os nobres deputados chegassem ao caminho das tripas (procurei um sinônimo para “vias de fato”, foi o que pude encontrar). No final, tudo se resumiu a um bate-boca mais alterado que o normal entre vossas excelências. Todos os parlamentos do mundo tem isso, alguns mais, é claro. E a diferença entre UFC e MMA, como todos sabem, é a regra do que é permitido ou proibido na briga. O regimento interno da casa não permite unhada, dentada, chute nos países baixos e tirar a gravata. Mas o que achei melhor, na notícia da luta legislativa, foi o comentário de um leitor: “por mais sessões raiz como essa”, escreveu ele, expressando uma reivindicação que deve ser generalizada entre os eleitores, pelos menos os que não são da ala nutella. Estes, certamente, preferem que os debates parlamentares tenham regras semelhantes às do badminton.

Não valeu o ingresso

Decepcionante mesmo foi a “crise” com demissão do Ministro Bebianno. Uma semana de fofoca na imprensa e nas redes sociais, com as ameaças de “revelar tudo” sendo reduzi-das a uns áudios que parecem de duas comadres se desentendendo por causa de uma briga em família. Muita incompetência desse governo, que não faz nem uma crise que preste. A imprensa tem que ficar valorizando cada palavra, como atacante pedindo pênal-ti. E a petezada urrando como se agora fosse o caso de sair às ruas gritando “fora!”. Cal-ma, talvez não demore a aparecer coisa mais cabeluda que o peito bombado do vereador filho 02 ou 03, não sei exatamente a hierarquia. Mas, por enquanto, só bobagem para distrair a atenção de coisa mais importante. A nova oposição não tem ainda com o quê se animar.

Fases e rituais

Já entendi que cada governo tem duas fases: a primeira, de arrumar a bagunça deixada pelo governo anterior; a segunda, de desarrumar tudo, para que o governo seguinte tenha que passar ao menos um ano arrumando a casa. O governador foi a Brasília pedir ajuda ao Ministro da Economia. Tudo dentro do roteiro. As audiência do chapéu na mão deveriam ser oficializadas como parte do ritual da posse.

Leite de soja

Não vou acompanhar a visita da Ministra da Agricultura, que vem ao Acre. Tenho meus próprios meruins pra cuidar. Mas gostaria que ela voltasse a falar sobre o “desmame” do agronegócio, que ela acha que não deve ser rápido nem completo. Pra quem não sabe, o agronegócio, que faz tanto sucesso no exterior, é fartamente amamentado pelos créditos, facilidades fiscais e tributárias, compra de estoque, assistência, todo tipo de apoio do Es-tado que o Ministro ultraliberal da Economia já ameaçou cortar. A torcida se divide. Uns gritam “corta, Ministro” e outros pedem “chora, Ministra”. E eu fico querendo que um eco-nomista isento faça os cálculos e diga qual é realmente, o tamanho da mamada.

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