Um dos principais anfitriões da ministra da Agricultura Teresa Cristina em visita oficial ao Estado nesta sexta-feira (22) foi o presidente da Faeac (Federação da Agricultura no Estado do Acre), Assuero Veronez. Ele aproveitou a oportunidade para relatar um conjunto de dificuldades para a ampliação das áreas rurais da região, assim como o elevado custo para a produção, as altas taxas para a compra de máquinas, as questões burocráticas que impedem a exportação de carne bovina, além das dificuldades de alfandegamento e operacionalização junto à Receita Federal.
“A vinda da ministra de uma pasta tão importante, logo no início do governo, demostra o compromisso assumido pelo governo do Estado de trabalhar para fomentar o agronegócio”, disse Veronez, com o qual a ministra se comprometeu em visitar os ministérios do governo federal e definir agendas para atender as demandas apontadas pelo setor como estraves.
Os assuntos a serem levados a Brasília incluem desburocratização do acesso ao crédito, as questões alfandegárias e também a regularização fundiária. “O Ministério estará à disposição do Acre, do governo, da bancada federal e da iniciativa privada. Vamos buscar parcerias para garantir o sucesso das políticas de fomento do agronegócio. Vamos simplificar os processos, cumprindo as leis”, disse a ministra, para a alegria do dirigente. Ele, como sempre, não poupa críticas aos ambientalistas e aos críticos da expansão da soja no país. A seguir, os principais trechos de uma entrevista de Assuero Veronez sobre a visita da ministra ao Acre e também sobre a proposta do Governo do Estado de abrir o Acre ao agronegócio:
ContilNet- Como o senhor interpreta e avalia as críticas de determinadores setores – um deles, um setor importante da sociedade acreana, o dos ambientalistas – à ideia de abertura do Acre para a abertura do agronegócio, principalmente para a plantação de soja?
Assuero Veronez – Isso é uma questão de caráter ideológico e de uma burrice sem tamanho. Em todo lugar que a soja entrou no Brasil – e não só no Brasil, mas em outros países – só levou progresso e melhoria de vida para a sociedade, mais renda, mais riquezas. Imagine quantas cidades nasceram no norte do Mato Grosso – são mais de cem cidades! – a partir da plantação da soja. Rondônia mesmo agora experimenta um grande progresso por causa da soja. A soja está na mesa de todas as pessoas, é comida de pobre! É a soja de cozinha, é o frango que dela se alimenta para crescer, o suíno… Além do que é um produto mundialmente requisitado, que só traz riquezas. Então não faz sentido esse tipo de crítica. O ambientalismo escolheu alguns produtos para serem combatidos. É a cana, é a soja, o eucalipto. Não há uma explicação lógica para isso, porque esse negócio de monocultura já é algo superado.
ContilNet- E como seria possível plantar soja sem fazer mais desmatamento?
Assuero Veronez – A agricultura é incompatível com a floresta. Para se fazer uma, tem que se tirar a outra porque as duas não cabem no mesmo espaço. A soja não vai entrar em área de floresta nova. Para se plantar soja é necessário se pegar áreas antigas, de pastagens antigas, que desagradas, limpas. Onde se planta soja não pode haver um toco, uma raiz, nada… Isso é impossível para uma área nova de floresta.
“Contemplar a natureza não enche a barriga de ninguém”
ContilNet- Mas o que o Acre tem de floresta desmatada, algo em torno de 15% por cento de sua cobertura, segundo algumas estimativas, é suficiente para a pretensão de buscar a redenção econômica do Acre a partir da soja?
Assuero Veronez – Na verdade, o que temos eu acho muito pouco. O Acre precisaria desmatar pelo menos 20, a 25%…
ContilNet- Foi isso que a ministra disse que o Acre pode desmatar ainda até 20%. O senhor vai defender isso?
Assuero Veronez – Existem áreas no Acre disponíveis legalmente para serem desmatadas, até 20%. Havia dificuldades para se conseguir licenças até o governo passado. No atual governo, eu espero que essas licenças sejam facilitadas. Mas isso ainda é muito pouco. Nós precisamos avançar em algumas coisas. A reserva de 80% (de preservação), no meu ponto de vista, é inadmissível. Nós não quisemos mexer na reforma do Código Florestal nesta questão, mas isso, nesses quatro anos vindouro, tem que ser revisto para casos específicos, para regiões específicas, de acordo com o zoneamento agrícola, com topografia de solo, de tipo de solo. Há locais em que você não pode retirar a floresta para fazer produção. Isso não faz sentido, é irracional. Mas, nós precisamos, em determinadas regiões, delimitadas, com a vocação mais apurada para o agronegócio, flexibilizar um pouco mais essa legislação.
ContilNet- Os senhores do agronegócio acha que conseguem isso?
Assuero Veronez – Não sei se conseguimos porque o desmatamento ficou uma coisa demonizada. É muito difícil você conseguir convencer à sociedade e à mídia de que é preciso avançar em desmatamento. Quando se diz que não é preciso mais se derrubar nenhuma árvore do Brasil, porque o Brasil já desmatou muito, eu também concordo. Mas quando você faz essa análise não olhando o Brasil, mas uma região, um município, pondo uma lupa num determinado lugar, onde o desmatamento ainda não chegou, você vai ver que esse lugar está condenado à pobreza.
ContilNet- Exemplos, por favor?
Assuero Veronez – Cidades como Lábrea, no Amazonas, Jordão, Thaumaturgo e outros, no Acre, todos vivem na miséria por que as suas populações vão viver de quê?
ContilNet- Mas, nas localidades que o senhor citou, o conceito de pobreza de algumas pessoas é diferente. Pobres seriam, na verdade, quem vive, como nós, nas cidades e nessa corrida louca da sobrevivência. Quem lá vive se julga rico porque respira ar puro, está em contato com a natureza, sem poluição… Como se contrapor a isso ?
Assuero Veronez – Isso é mera filosofia de ambientalista. Viver assim não é a aspiração do ser humano. A nossa aspiração natural é crescer, desenvolver. Quando as pessoas não vêem nenhuma chance de sair daquela vida, acabam se conformando com ela, com o verde, com a natureza, com as belezas naturais, mas o fato é que isso não enche a barriga de ninguém.