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Jovem que acusa padrasto de tortura diz que tem medo e relembra drama: ‘Chegava a ser estuprada 2 vezes ao dia’

Por G1

“Foram nove anos sendo abusada praticamente todos os dias. Era algo cotidiano, coisa rotineira. Perdi as contas de quantas vezes fui vítima. Tinha vez que chegava a ser estuprada duas vezes no dia”. O relato é da estudante de Direito Eva Luana da Silva, de 21 anos, que usou as redes sociais para relatar que ela e a mãe foram constantemente violentadas e torturadas durante anos pelo padrasto.

A jovem conversou com o G1, nesta quinta-feira (21), e falou que ainda se sente com medo mesmo após prisão de padrasto Thiago Oliveira Alves, na semana passada, após ela ter procurado a Polícia Civil para denunciar o caso. É que as lembranças dos momentos de terror que viveu por mais de oito anos ainda as deixa inquieta.

“Não tenho como dizer o que foi mais terrível, porque tudo foi muito ruim. No entanto, os abusos e os estupros foram mais fortes. As torturas que sofri mexeram muito comigo, com o meu psicológico. Em determinadas ocasiões, passava um dia inteiro sendo torturada”, destacou.

Como resultado dos estupros cometidos pelo padrasto desde que ela tinha 12 anos, a jovem disse que fez vários abortos. “Foram quatro ou cinco vezes”, lembra.

Eva Luana da Silva, de 21 anos, denunciou o padrasto por abusos e torturas na Bahia — Foto: Juliana Cavalcante/TV Bahia

Eva Luana da Silva, de 21 anos, denunciou o padrasto por abusos e torturas na Bahia — Foto: Juliana Cavalcante/TV Bahia

Eva levou o caso a público na quarta (20), após relatar em cinco posts no Instagram toda a violência pela qual foi submetida dentro da própria casa, e que teve início quando ela tinha 12 anos. Ela conta que a mãe era constantemente vítima do companheiro e que, depois, passou a ser alvo dele também.

Artistas como Kéfera e Alice Wegmann compartilharam as postagens da estudante.

A delegada Florisbela Rodrigues, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Camaçari, que apura o crime, confirmou que a jovem prestou depoimento no dia 30 de janeiro. A mãe dela também falou com a polícia e confirmou as denúncias da filha. O G1busca contato com a defesa do suspeito, entretanto ainda não obteve sucesso.

O homem está preso desde quarta-feira (13), na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Camaçari, onde a jovem fez a denúncia, no dia 30 de janeiro. Natural de São Paulo, o suspeito atuava como assessor técnico da Secretaria Municipal de Habitação de Camaçari mas foi exonerado no dia 1º de fevereiro.

Eva conta que não teve mais contato com o padrasto, porque saiu de casa com a mãe por medo, mas diz que ficou sabendo que ele estava as procurando.

“Depois da denúncia, não recebi nenhuma ameaça direta dele, até porque também saí de casa com a minha mãe e ficamos sob a proteção da Justiça e de amigos. Só que pessoas me disseram que ele estava me procurando e tentando me rastrear. Meu namorado, que me ajudou a criar coragem para denunciar o caso, recebeu algumas ameaças e, até que ele fosse preso, foi para o interior por segurança”, destacou.

No dia 31 de janeiro, após Eva ter feito a denúncia, a Justiça concedeu uma medida protetiva para que Thiago não se aproximasse dela e nem da mãe e da irmã. O homem, então, foi obrigado a sair de casa e alugar uma casa para morar.

Ela conta, no entanto, que, antes de ser preso, ele descumpriu a medida que o obrigava a ficar distante das vítimas por, no mínimo, 300 metros. A jovem conta que ele foi até a casa dela e destruiu provas, antes do cumprimento de um mandado de busca e apreensão.

“Ele foi na minha casa. Quando a gente foi com a polícia lá, para pegar as provas, meu guarda-roupa estava todo revirado. Ele conseguiu desfazer todas as provas. Conseguiu quebrar a bateria do celular dele inteira. Quebrou o celular dele no meio. Quebrou meu guarda-roupa procurando papéis dele, documentos. As malas dele, bolsas dele.

“Com a prisão dele, é como se eu tivesse aprendendo a andar novamente. Voltei a ir a praia, a poder voltar tarde da rua, a ir em um restaurante, coisas que ele me privava de fazer”, destaca.

Eva diz que a mãe também ainda está muito abalada. “Ela está comigo sob proteção da Justiça e, assim como eu e todo mundo, quer que ele pague pelo que fez. Queremos justiça. Nunca vou esquecer as cenas que eu vi e as dores que eu senti”, destacou.

Eva, que já tinha prestado uma queixa contra o padrasto quando tinha 13 anos e que foi obrigada a retirar por conta de ameaças do suspeito, diz que ainda confia na Justiça. “Acredito totalmente e creio que ele pagará por tudo. Também tenho orgulho das pessoas que estão comigo, me ajudando”, diz.

A advogada de Eva, Maria Cristina Carneiro, que já foi sua professora, diz que a defesa está fazendo recolhimento da provas e ouvindo testemunhas para reforçar as denúncias de Eva. “Ele ficou acompanhando o inquérito e teve notícia de que haveria uma busca e apreensão na casa onde morava com a família. Foi lá antes e destruiu provas, quebrou celular, chip. Inclusive, ele trocou o segredo da fechadura”, destacou.

Abusos e torturas

Após a tentativa frustrada de levar o padrasto para a cadeia, quando tinha 13 anos, a jovem disse que os abusos, torturas e agressões aumentaram. O pai biológico não conviveu com ela e a mãe — Eva diz que só o conheceu quando tinha 14 anos.

“O Estado falhou a tal ponto, que o meu caso não chegou nem ao Ministério Público. Fui obrigada a retirar a queixa por ameaças do meu padrasto. Ele utilizou o poder financeiro pra comprar a liberdade e comprar a minha alma. Porque ali eu perdi a minha alma. E o que eu fui denunciar, 1 ano de sofrimento, se multiplicou em mais 8 anos”, relatou.

“As agressões eram verbais, físicas e psicológicas. Entre elas comer muito, em tempo estipulado. Isso aconteceu com uma pizza família, pra comer inteira em 10 minutos. Óbvio que não conseguimos. Também tomar 2 litros de refrigerante nesses 10 minutos. Eu levei socos no rosto, e ele não me deixava me proteger com a mão”.

“Chutes até cair no chão e, de quatro, ele enfiou as pizzas na minha boca, me chamando de animal. Eu vomitei e comi meu próprio vômito. Meu gato comeu um pedaço e lambeu outro, ele me obrigou a comer o que ele havia lambido”, destacou.

A jovem ainda relatou que era obrigada a fazer trabalhos de faculdade para o padrasto e que era torturada caso se negasse. Ela também disse que A jovem conta que tinha o celular vistoriado todos os dias e que era proibida de sair com amigos e de namorar.

A jovem ainda relata nos posts que decidiu novamente denunciar o padrasto e pedir ajuda, agora, porque “ou ele mataria ou eu me mataria”.

“Tentei me suicidar várias vezes com cortes e remédios. Eu contei a verdade pois não aguentava mais”.

“Ele me agredia nos estupros, mas depois de um tempo, só utilizou das ameaças contra a minha família. Eu era usada como um lixo. Já abortei diversas vezes. Nunca pude ir ao médico pra fazer curetagem. Todas as vezes sangrava e passava mal a noite inteira. Já vi os bebês inteiros no vaso sanitário. Eu era chamada de burra, anta, doente, demente todos os dias, e era obrigada a repetir isso pra mim mesma”, relata a jovem.

“Ele é um monstro. Perdi minha infância e adolescência. Me sentia um lixo por não ter forças pra pedir ajuda e por sentir tanto medo”, afirmou.

m nota, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) informou que ofereceu denúncia contra o suspeito no dia 11 de fevereiro, por todos os crimes narrados pela vítima. O MP afirmou que recebeu o inquérito da Delegacia de Atendimento à Mulher de Camaçari, no dia 7 de fevereiro, e ouviu a vítima no dia seguinte.

O Ministério Público informou também que solicitou medida de busca e apreensão de provas contra o suspeito, que cumprida no mesmo dia da prisão dele. A promotora de Justiça Anna Karina Senna, substituta na 10ª Promotoria de Justiça de Camaçari, e outras cinco promotoras de Justiça foram designadas para atuar na análise do inquérito. O processo penal está em segredo de justiça por força de lei, informou o MP-BA.

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