Ouvidos de mercador
O recado reiterado pelo governador Gladson Cameli (Progressistas) aos subordinados, logo após a nomeação de duas pessoas ligadas ao PT, na semana passada, parece não ter sido ouvido pelo novo aliado do governo na Assembleia Legislativa, o deputado pedetista Luiz Tchê. Eleito na aliança da Frente Popular, Tchê tratou de desembarcar da balsa petista para subir a bordo do avião que finalmente decolou.
O que é isso, companheiro?
Mesmo diante da ordem de Cameli de que se revisem todas as nomeações já consumadas, na tentativa de se identificarem outros adversários políticos contemplados com cargos em comissão, Luiz Tchê apontou o Sr. Carlos Ovídeo Duarte Rocha para dirigir a Anac. Segundo um site local, Gladson teria dito ‘não’. Mas Tchê não desiste.
Explicação necessária
O presidente do PDT tem o direito de indicar para o governo quem ele bem entender. Mas é lícito que se explique aos eleitores de Cameli quem vem a ser o sujeito que o pedetista tenta emplacar na Agência de Negócios do Estado do Acre.
Consultor
Pra começo de conversa, o Sr. Carlos Ovídio era, até dezembro de 2018, contratado na gestão de Tião Viana como consultor no âmbito do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Acre (PSDA), fase 2, para o qual o governo captou, em forma de empréstimo, milhões de dólares no guichê do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Sujeito de sorte
Em dezembro do ano passado, Ovídio foi brindado com cinco pagamentos de mais de R$ 12,6 mil cada um, referentes às consultorias prestadas. No total, embolsou mais de R$ 64 mil. E com o detalhe de que a bolada foi liberada num único dia.
Currículo
Nos últimos 16 anos, Carlos Ovídio – ex-secretário do governo de Binho Marques – integrou as equipes de governo que idealizaram empreendimentos públicos com os quais os companheiros tentavam nos convencer sobre uma nova era econômica para o Acre. A Fábrica de Pisos de Xapuri, os dois Complexos Florestais de Tarauacá (que nem chegaram a sair do papel) e o Viveiro da Floresta são alguns exemplos de iniciativas fracassadas que carregam as digitais de Ovídio desde o nascedouro.
Iniciativa privada
Do fiasco na esfera pública ao ingresso na iniciativa privada, o Sr. Carlos Ovídio tratou de repetir os resultados anteriores. Uma loja supostamente montada por ele no Via Verde Shopping teve de fechar as portas.
Rir é o melhor remédio
Mas há uma ironia nesse episódio envolvendo a indicação do afilhado político de Tchê para um órgão na administração pública estadual que reúne todos os empreendimentos falidos no Acre dos últimos tempos. Caso seja alçado ao cargo, nos restará o consolo de que ele, dessa vez, não terá como quebrar a banca.
Resposta fácil
Em postagem na rede social Facebook, o jornalista Léo Rosas resolveu contestar a inegável existência do rombo nas contas públicas, deixado pelo antecessor de Gladson Cameli – e de quem Léo, ao que parece, continua sendo porta-voz. A imagem que ilustra o post mostra o valor excedente do FPE, segundo ele relativo aos meses de janeiro e fevereiro deste ano. Algo em torno de 66,5 milhões de reais a maior. E com isso perguntou: “Cadê o rombo?”.
Pistas
Horas antes, o líder do governo na Assembleia Legislativa, o deputado Gehlen Diniz (Progressistas), deu uma nova pista sobre a localização do buraco financeiro que Rosas não consegue enxergar. Segundo Diniz, entre 2017 e 2018, o Detran torrou mais de R$ 7,2 milhões só em aluguel de carros. E um desses veículos, cedido ao jornalista, teve um custo de mais de R$ 143 mil.
Sede sem fim
No último dia 13, Gehlen já havia revelado que o mesmo Detran, sob o governo de Tião Viana, chegou a gastar, só em 2018, R$ 406 mil com a compra de água mineral. Feita a conta de dividir, a despesa mensal com o produto era superior a R$ 33 mil mensais – ou 256 galões de água por dia, conforme o deputado.
A coluna ajuda
Sobre esse assunto, a coluna vai dar mais uma pista sobre a existência do ‘rombo’. No Diário Oficial do Estado, na edição do dia 31 de outubro do ano passado – portanto há apenas dois meses de deixar o cargo –, foi publicada a autorização, assinada pelo ex-governador Tião Viana, de pagamento à empresa Link Card Administradora de Benefícios.
Explicação necessária
A Link Card fora contratada para implantar e operar o sistema de abastecimento de veículos que compõem a frota do Poder Executivo estadual, bem como, pelo que entendi, cuidar do pagamento dos produtos adquiridos junto aos postos de combustíveis conveniados.
Eis a prova
O que chamou a atenção do colunista, na época, foi o valor do pagamento: exatos 52.558.596,60 reais. Isso mesmo, leitor! Em uma única canetada, no apagar das luzes de um governo nefasto em todos os aspectos, o companheiro repassou à empresa citada quase o total do acréscimo no FPE do Acre nos últimos dois meses. Lá do andar de cima, onde julga viver, Léo Rosas finge não enxergar, cá embaixo, a topografia do terreno em que somos, aos tropeços, obrigados a caminhar.
Bora trabalhar, galera!
O Portal do governo do Acre – ou pelo menos algumas de suas páginas – segue desatualizado. A que acessei nesta quarta-feira, em busca de uma informação, ainda mantém o nome de alguns gestores do governo anterior. Para comprovar o que digo, basta clicar aqui.