Como a fazer jus à máxima segundo a qual, no Acre, assim que termina uma eleição, qualquer que seja o resultado, já se começa a articular nomes para a próxima, após o último grito de Carnaval nesta quarta-feira de cinzas começará uma espécie de gritaria silenciosa – porque de bastidores – envolvendo as eleições municipais do ano que vem. É que é após o Carnaval, dizem os entendidos em política e no calendário local, que de fato o ano começa e com ele, todas as outras coisas, dos governos às especulações sobre eleições futuras.
Em relação ao governo, aliados do governador Gladson Cameli têm dito que, apesar de instalado no poder faz mais de 60 dias, será a partir desta quarta-feira pós-Carnaval que sua administração de fato vai começar. Os primeiros 60 dias, segundo essas avaliações, foram para observar os problemas encontrados e só após o Carnaval as coisas começam, em termos de governo, para valer – o mesmo deve ocorrer em relação à política e às eleições futuras, na Capital e no interior.
Em Rio Branco, os movimentos em relação às eleições do ano que vem, para prefeitos e vereadores, começaram na semana passada, antes do Carnaval. Seria uma nova rebelião dos nanicos – como são chamados os partidos pequenos que integraram a FPA (Frente Popular do Acre), embora alguns, como o Pros e o PV, por terem eleito cada um, um parlamentar não sejam tão pequenos assim.
“A Frente Popular acabou”, disse o presidente regional do Pros, o ex-deputado federal Fernando Melo, ao admitir a existência da reunião em caráter reservado, na sede do Partido, envolvendo ainda o PV, o Podemos e PSOL, todos aliados e coligados com a Frente Popular que tinha à frente o PT nos últimos 20 anos em que a sigla governou o Estado, a Capital Rio Branco e a maioria dos municípios acreanos. “Não é mais possível insistirmos no que acabou”, acrescentou Melo. Os nanicos estão, portanto, a caminho do ninho do governo Gladson Cameli.
Outro participante da reunião reservada que acabou vazando à imprensa, Marcus Bastos, presidente da executiva municipal e representante da presidente regional Shirley Torres, admitiu que dificilmente os partidos pequenos continuarão marchando com o PT e a Frente Popular, que deve se resumir apenas ao PC do B e ao PSB, da prefeita de Rio Branco Socorro Neri, já que o próprio PT, com vistas às eleições do próximo ano, estaria pensando em candidato próprio, mesmo que a aliada seja candidata à reeleição.
O PT ainda não tem nome indicado – fala-se no ex-senador Jorge Viana e no ex-deputado federal Raimundo Angelim, mas eles têm dito que, por enquanto não pensam nisso. Ainda no PT, nomes como Leo de Brito e Sibá Machado, que não conseguiram se reeleger à Câmara Federal, também estariam pensando em cargos menores – Leo de Brito para vereador, em Rio Branco, e Sibá Machado para a prefeitura de Bujari. Também no interior, a ex-deputada estadual Leila Galvão, ex-prefeita de Brasiléia, estaria se articulando para ser candidata à Prefeitura da vizinha Epitaciolândia. Seria uma espécie de refundação do PT e de recomeço político para os petistas.
Nos partidos que elegeram o atual governo, os dois senadores, a maioria dos deputados federais e de deputados estaduais, tanto na capital como na segunda maior do Estado, Cruzeiro do Sul, nomes é que não faltam. Nos partidos aliados ao governo, surgiram, nos últimos dias, nomes de peso – como do atual deputado estadual José Bestene e Thiago Cateano, da Secretaria de Infraestrutura. Eles seriam os nomes do PP, o partido do governador. A deputada federal Mara Rocha seria o nome apontado pelo PSDB, segundo revelou seu mentor político, o irmão Major Rocha, que vem a ser o vice-governador do Estado. Correndo por fora, mas também como candidato aliado do governo, o deputado federal Alan Rick, do DEM, estaria disposto a concorrer.
O mesmo acontece em Cruzeiro do Sul. O prefeito Ilderlei Cordeiro, filiado ao PP e aliado do governo, é candidato à reeleição, mas deve enfrentar a candidatura de Fagner Sales, filho do ex-deputado Vagner Sales, articulador político do governo. Por se tratar de aliados e amigos, o governador Gladson Cameli, que é eleitor de Cruzeiro do Sul, disse que, principalmente em seu município, deve ficar neutro. “Não vou me meter”, tem dito sobre o assunto.
Curiosamente, o partido mais calmo nesse período em relação às eleições do ano que vem é exatamente o PSL, aquele que elegeu o presidente Jair Bolsonaro como a maior votação proporcional do país e que ficou em terceiro lugar na disputa para o Governo do Estado no ano passado. O Partido não tem feito movimentações com vistas às eleições municipais e tem dado demonstração de que só irá à disputa, como a figura repetida de Tião Bocalom ou com a candidatura do debutante em política Coronel Ulysses se houver amplas chances de vitória, no caso de o Governo Bolsonaro realizar as reformas a que se propôs e abrir portas com amplas de vitória.
O velho MDB, que saiu das urnas em 2018 muito maior do que era anteriormente – elegendo o senador Márcio Bittar e os deputados Flaviano Melo e Jéssica Sales – também está se movimentando e, mesmo compondo a base de apoio ao governo Gladson Cameli, quer ter um nome próprio e cara nova na disputa. Para isso, convidou o ex-reitor Minoru Kimpara para ser seu candidato. Kimpara não tem sim nem não à proposta mas já deixou claro que estará na disputa, talvez até por outra sigla.
É neste sentido que os partidos nanicos que estão deixando a Frente Popular e até rompendo com a prefeita Socorro Neri voltaram a se animar e estão inclinados a acompanhar Kimpara. Alguns, como o Podemos e o PSOL, também estão oferecendo as siglas para que ele dispute a Prefeitura sob uma dessas siglas.
Acabando o som do ziriguidun do Carnaval, o que vem aí são as articulações de bastidores que devem estabelecer os novos rumos da política acreana. A sorte está lançada e os dados estão rolando.