Fábio Assunção telefona a cacique Shanenawa, diz que está melhor e que voltará

Não faz muito tempo, o telefone celular do cacique Carlos Brandão, de 50 anos, líder do de uma das 12 aldeias do povo Shanenawa, tocou insistentemente lá no coração da floresta, no do habitat conhecido como “Morada Nova”, às margens do rio Envira – a 15 minutos de barco, do centro de Feijó (a 350 quilômetros da capital Rio Branco), onde vivem um grupo de pelo 150 famílias, uma população estimada em pelo menos 700 indivíduos. Ao perceber que as chamadas eram do Rio de Janeiro, cidade onde tem muitos amigos, o cacique atendeu. Do outro lado da linha era um desses amigos de seu povo, o seu mais novo amigo, o ator global Fábio Assunção.

Fábio Assunção cheira rapé e diz que está se sentindo bem melhor e que vai voltar/Foto: cedida

O astro do teatro e da TV brasileira, com papéis consagrados e que ultimamente admite vir travando uma batalha contra o vício em álcool e drogas ilícitas, estava ligando para agradecer ao cacique pela acolhida que lhe ofereceu durante Carnaval deste ano, quando ele fez uma espécie de retiro espiritual junto a este povo. Durante quatro dias, o ator se submeteu a tratamentos com defumações, banhos com ervas da floresta, ingestão de rapé e de daime na tentativa de se livrar dos vícios, tudo aplicado pelos quatro pajés da tribo, entre as quais duas mulheres.

No último telefonema, segundo o cacique, Assunção se disse agradecido porque sentira que, enfim, havia vencido as primeiras batalhas contra os males que o afligem. “Ele me disse que havia voltado a trabalhar e que se sentia muito bem mais disposto”, afirmou.

Carlos Brandão pronto para comandar os rituais aos quais o ator se submeteu/foto: cedida

Brandão, que está em Rio Branco em busca de apoio para a realização do festival de seu povo, no período de 1 a 7 de setembro, quando o ator deve voltar ao Acre para dar continuidade ao tratamento, disse que Assunção travou contato com sua aldeia e com seu povo através de um amigo que mora em São Paulo e que já passou por sua aldeia com os mesmos problemas do ator, o vício – inclusive em drogas pesadas. “O amigo passou meu telefone para o ator em São Paulo e ele me disse que viria no Carnaval”, disse Carlos Brandão. “Só que eu não sabia quem era. Eu não vejo novela, apesar de ter televisão na aldeia”, disse.

Mesmo sem saber de quem se tratava, o cacique recebeu o visitante com todas as honras da casa. “As crianças e as mulheres não só sabiam quem era ele como o admiravam. Ele também retribuiu todo o carinho com muita atenção e humilde”, disse Brandão.

Os Sahnenawas fazem um festival durante sete dias em setembro, provavelmente com o ator de novo entre eles/Foto: Cedida

O cacique surpreendeu ao admitir que tais tratamentos não são feitos de forma gratuita. São cobradas algumas taxas, cujos valores não são revelados, para cobrir despesas que a aldeia tem com o visitante, como alimentação, por exemplo. “Mas é uma coisa que o visitante também só paga se quiser, se sentir satisfeito com o tratamento”, disse.

O tratamento a que o ator se submeteu e que, ao que tudo indica, está surtindo efeito, parece não funcionar entre os índios. Em Feijó, há milhares de índios, de povos diferentes e de várias etnias, inclusive Shanenawa, perambulando pelas ruas, vivendo de restos em lixeiras, embriagados e com muitas mulheres se prostituindo. “A gente não pode fazer nada além de aconselhar e tentar ajudar com aconselhamentos porque a cura depende muito de a pessoa querer. O que me conforta é que, dos índios que mendigam em Feijó, uma pequena parte é a do meu povo, menos de dez por cento, eu acho. Mas, mesmo assim, isso é muito preocupante e estamos atrás de ajuda para criamos projetos alternativos que possamos tirar meu povo e os nossos irmãos daquela situação”, disse.

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