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Gladson Cameli tem maioria na Assembleia, mas está longe de um céu de brigadeiro

Por TIÃO MAIA, DO CONTILNET

Embora detenha a seu favor exatamente 14 dos 24 deputados estaduais na Assembleia Legislativa, o governador Gladson Cameli está muito longe da tranquilidade de um céu de brigadeiro quando o assunto é maioria parlamentar. Falta-lhe uma certa margem de votos para ter a certeza de aprovação de projetos polêmicos ou impopulares capazes de não agradarem ao conjunto de sua base de apoio, avaliam cientistas políticos ouvidos pelo ContilNet.

“Basta um ou dois deputados da base não concordarem e deixarem de votar, faltando às sessões, até mesmo por causa de doença, para que o governo corra o risco de ser derrotado em matérias do seu interesse”, disse um dos cientistas políticos e especialistas em regimento interno da Assembleia ouvidos pela reportagem.

O experiente deputado José Bestene, presidente dos Progressista e aliado do governador, concorda com o argumento. Ele próprio acha arriscado uma base de apenas 14 deputados e conclui que o ideal, para deixar o Governo tranquilo quanto até em relação àquelas matérias polêmicas, é uma base de mais dois ou três deputados. “Estamos conversando e creio que em breve chegaremos a isso”, disse.

Governador Gladson Cameli deverá aumentar sua base na Aleac/Foto: ContilNet

O prazo limite para essas negociações, segundo Bestene, é o mês de junho, às vésperas do recesso parlamentar. “Cremos que até lá isso estará resolvido”, acrescentou.

Pelo menos três deputados eleitos por partidos de oposição ao atual Governo (Manuel Moraes, do PSB, Maria Antônia, do Pros, e Luis Tchê, do PDT) entraram no radar dos líderes de Gladson Cameli na Assembleia. Dos três deputados, o mais próximo da base de sustentação é Luis Tchê, que até já chegou admitir a possibilidade de compor com o Governo.

Nesta quinta-feira (28), ele disse que ainda não é da base e que, embora esteja conversando com os deputados governistas, ainda não aderiu. “Ainda falta conversarmos mais”, disse o deputado, descartando que a demora esteja relacionado à barganha por cargos na administração estadual.

Já Maria Antônia diz que depende do que for decidido por seu partido e, principalmente, por seu marido, o ex-prefeito José Amorim “Deda”, dirigente regional do Pros. A aproximação de Antônia com o Governo ainda não ocorreu, ao que tudo indica, por rusgas na campanha eleitoral, quando a deputada, num discurso em Brasiléia (sua terra natal), se empolgou e, ao invés de pedir votos para si e seu candidato, atacou a honra do então candidato Gladson Cameli, o que teria irritado o governante e seus assessores mais próximos. Já Manuel Moraes não foi encontrado para falar sobre o assunto.

Aquele que seria o quarto deputado a entrar no radar da base governista, Fagner Calegário, do PV, vive uma situação delicada. Ora ele marcha com a oposição, atacando o governo, ora demonstra interesse em se aproximar. Sua situação de biruta de aeroporto, aquele instrumento que se movimenta ao sabor do vento, também não agradaria o pragmatismo do governador.

No MDB, apenas a veterana Antônia Sales é fiel à bancada do governador. Esposa do ex-prefeito Vagner Sales, nomeado por Gladson Cameli como um de seus articuladores políticos (o outro é Ney Amorim, dissidente do PT e recém-desembarcado no Governo), ela tem comportamento diverso de seus dois colegas de bancada – Roberto Duarte e Marlei Serafim, que se declararam neutros ou independentes em relação ao governo. Neutralidade ou independência e oposição, neste caso, querem dizer a mesma coisa.

Então, para atrair dois ou mais deputados, o governo e seus aliados têm que mesmo que mirarem naqueles três – Maria Antônia, Manuel Moras e Luis Thcê – porque, fora disso, não há espaço nem para conversa em relação aos demais deputados eleitos pelos partidos de oposição. São eles: Edvaldo Magalhães e Jenilson Leite, do PC do B, e Daniel Zen e Jonas Lima, PT, considerados os quatros cavaleiros do apocalipse das oposições na Assembleia.

Enquanto não chega a números que deixem o governo em situação tranquila, o líder Gerlen Diniz (PP) lidera uma bancada num limite muito apertado de 14 deputados, tendo que trabalhar apenas com o cabalístico número 13 – porque o presidente, Nicolau Júnior, embora do mesmo partido, aliado (e, mais que isso, cunhado do governador), nem sempre poderá ajudá-lo com seu voto. “É que, por sua condição de presidente, ele só vota em votações nominais”, disse um daqueles especialistas em regimento.

Isso significa que Gerlen Diniz lidera apenas a si e José Bestene dentro do PP, Cabo Cadimiel, Luiz Gonzaga e Antonio Pedro dentro do bloco PSDB/DEM; Wendy Lima, Nem Almeida e Chico Viga no bloco PSL/Solidariedade/PHS e, por fim, Josa da Farmácia, Marcos Cavalcante e Pastor Wagner Felipe no grupo Podemos/PTB. A deputada Juliana Rodrigues, do PRB, embora eleita pela oposição, corre por fora de blocos mas já se declara a número 14 do time do governo.

O que pode parecer muito, não é. O sonho de Gladson Cameli e de seus aliados é ter na Assembleia Legislativa a mesma situação de conforto que o governo do Acre tem em relação à bancada do Estado no Congresso Nacional – ali, além dos três senadores, o governo tem o apoio de sete dos oito deputados federais (a exceção é Perpétua Almeida, do PC do B).

Toda essa folga na bancada federal, do ponto de vista prático, em quase nada influi quando o assunto é o governo do Estado e suas propostas de reforma para mudar as leis estaduais viciadas que sustentaram duas décadas de sucessivos governos que sempre tiveram margem para fazerem o que bem entendiam, sempre com o apoio da Assembleia Legislativa. Apoio que pode faltar agora quando o Acre mais precisa de mudanças no seu marco legal.

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