As imagens são impressionantes, uma onda de rejeitos químicos e lama saem pela barragem de minério que se rompeu. Em 2015, presenciamos isso em Mariana. Em janeiro de 2019, vimos a repetição disso na tragédia em Brumadinho. Em ambos os casos, os desastres resultaram em centenas de mortes e desaparecimentos, além de causarem uma perda imensa do ponto de vista ambiental.
Além das barragens de minério, em diferentes regiões do país existem açudes para a retenção de grandes quantidades de água que também podem passar por situações semelhantes. O Acre, por exemplo, não possui instalação para mineração. A maior parte das mais de 1.600 represas são destinadas ao abastecimento de áreas agrícolas e industriais, além de serem voltadas para práticas de aquicultura, que atua na produção de seres aquáticos, como peixes, moluscos e répteis. Para o presidente do Imac, André Hassen, o risco de acidentes como o de Brumadinho é quase zero no estado. Mas um levantamento feito pela Agência Nacional de Águas (ANA) no final de 2018, revelou que, das 58 barragens do Acre, 21 delas representam alto risco.
Depois dos desastres em Brumadinho e Mariana, o país entrou em estado de alerta. No Acre, o Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC), responsável pelo monitoramento das barragens no Estado, aumentou a fiscalização dessas construções, que passou de uma para duas vezes ao ano.
Para que todas as represas possam receber mais visitas técnicas, o Governo do Acre reintegrou funcionários do IMAC, que trabalhavam para outros órgãos temporariamente. Quase 80 pessoas estarão envolvidas nesse processo. Ano passado, o Instituto notificou todas as empresas donas de barragens identificadas com algum tipo de risco ambiental para tomar providências como a apresentação de planos de segurança e de contingência e realização de inspeção periódica.
Em 2018, uma barragem em Rio Branco, estourou e milhões de litros de água escorreram pela mata. O rompimento aconteceu devido às fortes chuvas na região do açude e não houve feridos.
Como funciona uma barragem
No caso das empresas mineradoras, elas extraem rochas da natureza, que passam por uma etapa chamada ‘beneficiamento’. Esse processo consiste na separação do minério de ferro, do material sem valor comercial, o ‘rejeito’, um resíduo composto por areia, água e minério com baixa concentração de ferro.
Os dejetos, que utilizam água no beneficiamento, ficam armazenados em uma barragem, feita a partir da construção de uma grande cavidade na terra.
No caso das barragens da Vale e da Samarco, em Brumadinho e Mariana, foi utilizado o método de alteamento a montante, o mais simples e barato, mas também o menos seguro e com maior probabilidade a acidentes. Nele, a barragem vai sendo construída com degraus conforme a barragem vai ficando cheia de resíduos. A base dessa obra é feita sobre diques de partida.
Relembre as tragédias de Mariana e Brumadinho
Em 25 de janeiro de 2019, o rompimento da barragem de Brumadinho, controlada pela Vale, tornou-se um dos maiores desastres com rejeitos de mineração no mundo. Ela tinha 86 metros de altura, recebeu dejetos até 2015 e era classificada como de baixo risco. O município de Brumadinho fica localizado na região do Córrego do Feijão, próximo ao Rio Paraopeba, contaminado após o rompimento.
Como consequência de impacto social, o número total de pessoas atingidas (entre mortos, feridos, desaparecidos, desalojados, localizados etc.) ultrapassaram 39 mil. O impacto ambiental é enorme se considerarmos que a natureza da região nunca mais será a mesma e que milhares de animais e uma ampla vegetação morreram.
Após o rompimento, um lamaçal se espalhou pelo rio Paraopeba. O estrago foi grande: não se sabe ao certo onde a lama pode chegar e, além da água ter ficado mais turva, agora ela contém quase 800 substâncias a mais que o normal, tornando-se intratável.
O abastecimento de água para a população não foi comprometido, embora, haja uma maior quantidade de metais pesados, como chumbo e mercúrio. Já comunidades que vivem à margem do Rio e dependem da água do Paraopeba foram afetadas pela lama que altera o curso do rio.
Em novembro de 2015, a tragédia foi em Mariana. O rompimento da barragem de Fundão causou 19 vítimas fatais e foi um dos maiores desastres ambientais do país. A construção abrigava mais de 56 milhões de m³ de rejeito, desses, mais de 43 milhões de m³ vazaram. Pertencente à Samarco, empresa controlada pela Vale, a barragem invadiu várias casas em Bento Rodrigues (Minas Gerais) e deixou milhares de pessoas sem água e trabalho.
O rejeito também atingiu afluentes (rios e cursos de água que desaguam em rios principais) e o Rio Doce, que até hoje possui alta concentração de metais como arsênio, manganês, chumbo e alumínio. Apesar do prazo para o reparo dos danos por causa do desastre ter terminado em 2018, três anos depois, os dejetos ainda estão lá e moradores que perderam suas casas, ainda não viram a construção do reassentamento começar.