O cacique do povo indígena Shanenawa, Carlos Brandão, de 50 anos, desde o final do mês passado, é o primeiro de sua etnia a ostentar um título acadêmico. Ele se formou em gestão pública, pela Universidade Norte do Paraná (Unopar), depois de três anos e meio de estudos e recebeu o diploma durante solenidade na Igreja Católica de Feijó (336 quilômetros de distância da Capital Rio Branco), muito festejada pela sociedade local, seus amigos e parentes.
A festa em comemoração à graduação será este mês, na aldeia “Morada Nova”, localizada cerca de 15 minutos de barco do centro de Feijó, onde vivem cerca de 150 famílias sob sua liderança – a mesma aldeia na qual o ator da Rede Globo Fabio Assunção passou o Carnaval em busca de cura espiritual para os males do vício em álcool e outras drogas. O cacique, com ajuda dos pajés da tribo, aplicaram no ator remédios medicinais da floresta, como banho de ervas, além de leva-lo à ingestão de rapé e de ayahuasca ou o santo-daime, bebida considerada enteógena e extraída de dois vegetais combinados. Na festa de comemoração da conquista do diploma, junto a seu povo, haverá os rituais que fazem parte da cultura do povo Sanhenawa, disse o cacique.
Fábio Assunção ficou amigo do cacique e prometeu voltar a visitar a aldeia, em setembro desde ano, quando haverá no local um festival de sete dias, com direito a todos os rituais da tribo.
Brandão diz que não abre mão das tradições e da cultura de seu povo, mas, desde que começou a trabalhar no departamento técnico da Funai (Fundação Nacional do Índio) sentiu a necessidade de aprender sobre gestão pública. “Queria saber como era o funcionamento das esferas governamentais, o que era o Executivo, os poderes constituídos”, disse. “Essa conquista da formação acadêmica superior está se ampliando nas aldeias e melhorando a condição da nossa própria realidade cultural”, acrescentou.