Um casal acusado de torturar, maltratar e manter acorrentados os 13 filhos na casa em que viviam no sul da Califórnia, nos Estados Unidos, foi condenado nesta sexta-feira (19) à prisão perpétua em um tribunal do estado na cidade de Riverside.
Segundo a agência France Presse, o juiz Bernard J. Schwartz declarou a sentença de David Turpin, de 57 anos, e Louise Turpin, de 50, durante uma audiência na qual estavam presentes dois de seus filhos biológicos, vítimas de abusos e maus-tratos, que leram depoimentos emocionados.
Em uma emotiva audiência realizada dois meses após se declararem culpados de 14 acusações, Louise e David pediram perdão aos filhos e disseram amá-los.
Às lágrimas, ambos ouviram os testemunhos de alguns dos filhos, que não foram identificados na corte. Um deles contou ainda sofrer pesadelos com o sofrimento vivido por ele e os irmãos — de acordo com a agência EFE.
“Meus pais me tiraram toda a vida, mas agora a estou recuperando”, disse uma das filhas na sala da audiência.
Alguns dos filhos afirmaram que até amavam os pais e acreditavam que tudo o que fizeram era por amor, e por isso pediram uma sentença não muito dura. Outro disse que os tinha perdoado e que orava por eles.
Liberdade condicional
O casal poderá pedir liberdade condicional somente após passar 25 anos atrás das grades. Eles foram detidos em janeiro de 2018 depois que uma de suas filhas, de 17 anos na época, conseguir escapar da residência e telefonar para a polícia para avisar que seus irmãos estavam “acorrentados a camas” na casa, que fica na cidade de Perris, a 95 km de Los Angeles.
A adolescente telefonou para o serviço de emergência 911 de um celular que encontrou na residência. Segundo a polícia, na ocasião ela estava “magérrima” e parecia ter apenas dez anos. As autoridades descobriram, então, as insalubres condições nas quais viviam os 13 filhos, com idades entre 3 e 29 anos e alguns com quadros de desnutrição severa.
“É o caso mais horroroso que já vi em toda a minha carreira”, declarou em fevereiro o procurador de Riverside, Mike Hestrin, que disse ter aceitado a confissão de culpa do casal para evitar que as vítimas tivessem que prestar depoimento.
“Acredito que tudo acontece por um motivo. A vida pode ter sido ruim, mas me fez forte. Lutei para me tornar a pessoa que sou”, disse nesta sexta-feira outra filha do casal, que agora frequenta uma universidade.
Vizinhaça
Na época Kimberly Milligan, vizinha dos Turpin, disse ao jornal “Los Angeles Times” que muitas coisas eram estranhas “naquela família”: as crianças “eram muito pálidas, tinham o olhar vazio e nunca saíam para brincar, apesar de serem numerosas”.
“Eu achava que eles estudavam em casa”, acrescentou Milligan. “Sentíamos que havia algo estranho mas não queríamos pensar mal daquela gente.” As vítimas demonstraram não ter conhecimentos básicos, normalmente aprendidos na escola.
O procurador Mike Hestrin explicou à imprensa que o casal amarrava e acorrentava os filhos como forma de castigo, o que podia durar semanas ou até meses. Nesse período, os filhos só eram autorizados a escrever em um diário.
O casal, no entanto, inicialmente se declarava inocente. Eles tinham diversas fotos nas redes sociais mostrando um família aparentemente feliz em viagens à Disney e a Las Vegas.