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Conheça o chá medicinal da Amazônia que pode auxiliar no tratamento da depressão

Por EM TEMPO

Você já ouviu falar no chá de hipericão? Ou da erva-de-são-joão? O Hypericum Perforatum é o nome científico da erva, que – segundo a sabedoria popular – é um medicamento fitoterápico contra a depressão e distúrbios do sono. Comumente utilizado na Europa há dezenas de anos, ele representa 25% das prescrições na Alemanha para tratamento de alguns tipos de depressão.

De acordo com Torsten Arncken, um pesquisador da cidade de Goethenaum, em Domach, na Suíça, a erva-de-são-joão aumenta a produção noturna de melatonina, o que ajuda na qualidade do sono de quem possui depressão. A doença afeta diretamente a produção desse elemento. Por isso, a planta é uma boa indicação a quem sofre da doença.

Erva-de-são-joão/Foto: Reprodução

O fitoterápico pode ser encontrado em bancas de remédios naturais e na internet. Diz em sua bula, divulgada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que foram feitos 23 estudos com 1.757 pacientes com depressão, de leve a moderada, para determinar a efetividade do hipericão.

Então, conclui-se nesse estudo que o Hypericum Perforatum tem uma performance superior ao placebo com poucos efeitos adversos (19,9%) em relação aos antidepressivos padrões (52,8%). O efeito placebo é quando uma substância se parece com um tratamento normal, mas não faz nenhum efeito ativo e diz mais respeito a expectativa do paciente que o toma.

Como fazer o chá?

A infusão do hipericão não é diferente dos demais chás. É necessário espera a água ferver, coar, adicionar a quantidade de açúcar que preferir e, logo em seguida, beber.

“É preciso beber na hora. Se colocarmos um refrigerante e deixamos na geladeira, ele fica sem gosto. A mesma coisa acontece com o chá”, orienta a vendedora experiente.

A flor do hipericão in natura | Foto: Divulgação

Mara Sales nasceu na cidade de Humaitá (a 696 quilômetro de distância de Manaus) e possui um conhecimento aprofundado sobre ervas medicinais da Amazônia.

“Um conhecimento passado de pai para filho, herança de muitos anos na minha família”.

Outros amigos do corpo

Ela diz que as pessoas costumam procurar bastante o hipericão, que vem em um pacote já fechado, mas ela vê mais resultados, para quem deseja uma boa noite de sono e um relaxamento maior, nos chás de capim santo, erva cidreira e camomila.

“Serve para quem está estressado com a rotina do dia a dia. Quando a pessoa toma o chá, se sente mais relaxado e dorme melhor. Eu só indico algo que já tomei e funcionou comigo. Esse chá relaxa mesmo”, indica.

A vendedora também aconselha a não fazer garrafada com nenhum desses chás indicados e nem tomar durante um longo período.

“O melhor é tomar durante a tarde e a noite. Minha avó tomava muita coisa natural e viveu até os 120 anos de idade. Ela vivia dentro das regras”, conta.

Depoimento

Foi justamente o chá de erva cidreira e camomila que ajudou a historiadora, Lídia Helena Mendes de Oliveira, de 52 anos, com a depressão. Diagnosticada há 18 anos com a doença, ela tomou vários fitoterápicos para ajudar durante o tratamento.

“Eu nunca tomei o chá de hipericão, no entanto, tomei os chás de cidreira e capim santo que são ótimos e realmente relaxam. Também já utilizei outros fitoterápicos como valeriana e Maracugina. Eles acalmam a mente mesmo”, diz.

Como uma pessoa convivendo há muito tempo com a doença, ela aconselha a sempre buscar tratamentos e informação sobre ela.

“Prevenção, informação e diálogo ajudam. E se for o caso, tratamento sim com psicólogo (a) e psiquiatra. Uma doença psicossomática, que se não for mortal, pode ser bastante angustiante e constrangedora”, aconselha.

O uso da erva é discutível

O psiquiatra Luiz Eduardo Wawrick comenta que existe uma controvérsia em relação ao uso da erva-de-são-joão, o hipericão, como tratamento.

“Algumas pesquisas mostram sua efetividade para sintomas em depressivos leves à moderados maiores que o placebo. Outros estudos falham em mostrar tais benefícios. Não é de rotina da maioria dos psiquiatras brasileiros prescrever a erva-de-São-João, já que temos evidências de outros fármacos com mais eficácia e maior evidência clínica”, comenta o médico.

Especialista faz alerta

Quanto ao chá de erva-cidreira ou capim santo auxiliarem no sono e acalmarem, o especialista fala que não existe evidências cientificas que reforcem essa propriedade. Entretanto, o especialista alerta que deve ser um efeito placebo causado pelo chá.

“O efeito placebo é o surgimento de uma resposta que não tem a ver com o fármaco, mas sim com o fato daquilo está carregado de alguma importância afetiva positiva para o paciente. Sendo assim, não há indicação desses chás no tratamento de insônias, depressão ou qualquer transtorno psiquiátrico”, explica o psiquiatra.

É preciso ter cuidado com o fitoterápico

Luiz Eduardo Wawrick também alerta para o uso discriminado de fitoterápicos sem consulta prévia a um especialista.

“Importante reforçar que, por vezes, que a palavra fitoterápico ou a ideia de ser ‘apenas uma erva’ não trazem riscos, ou seja, isentos de efeitos colaterais, não são verdades. No caso da Erva-de-São-João tem propriedades de inibir a recaptação de aminas, como serotonina, noradarenalina e dopamina, que estão lincadas a fisiopatologias das depressões. Aparentemente, esta propriedade é atribuída à hipericina. Não há uma estabilidade molecular e uma rigorosidade na composição de alguns produtos que seja de fato efetiva”, adverte.

Além disso, o uso de chá combinado com remédios pode prejudicar na absorção, metabolização e eficácia de outros fármacos. E o paciente pode sofrer efeitos adversos como náuseas, vômitos, tonturas, diarreia, alucinações e agitações.

Por isso, o cuidado deve ser redobrado para àqueles que possuem depressão.

“Recomendo que qualquer tratamento medicamentoso psiquiátrico seja devidamente orientado e consultado por um psiquiatra. Ainda mais quando falamos de uma doença que tem um risco considerável para suicídio”, fala.

Ajuda médica ainda é a melhor indicação

“Você ter o auxílio de um psiquiatra não é sinônimo de loucura ou de que você seja fraco ou insuficiente. Pelo contrário, ter uma doença mental é sinal de que está havendo uma luta interna muito grande”, aconselha o psiquiatra Luiz Eduardo, ressaltando que a saúde mental deve ser valorizada.

O especialista também explica que por trás da profissão, existe um tabu que acaba atrapalhando o paciente ao invés de ajuda-lo.

“Quando falamos de tratamento psiquiátrico, a tendência da população é rechaçar, negar ou sublimar o transtorno. Isso gera brecha para o surgimento de diversos mitos e lendas, que só postergam a procura do auxílio médico adequado. Tratamos doenças que trazem alterações cerebrais importantes e que, quando mais tempo persistem, mais difícil é o seu controle”, adverte.

Por isso, é primordial procurar ajuda médica para o tratamento da depressão, independentemente da gravidade. Nem toda pessoa diagnosticada com depressão precisa, necessariamente, tomar remédios. Algumas psicoterapias são mais eficazes, por exemplo.

“A depressão pode ser uma doença muito grave e que aumenta o risco de suicídio. Se você ou alguém que você conhece está sofrendo com a depressão, procure um profissional para que possa lhe providenciar o tratamento adequado. Não tente tratar a depressão por conta própria”, fala.

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