O servidor público e digital influencer com mais de 17 mil seguidores, Igor Martins, 32 anos, conhecido pela criação da Ágata Power, performance que lhe rende muitos elogios, acessos e aplausos nas redes sociais e nos eventos que participa, falou à reportagem do ContilNet nesta sexta-feira (25) sobre a “forma artística” de viver no mundo, sendo drag queen.
As drag queens são personagens criadas por artistas performáticos que se travestem, fantasiando-se com o intuito geralmente profissional artístico. Apresentam-se em boates e bares LGBT, embora algumas façam eventos para público misto e heterossexuais, como animação em festas de casamento, debutantes e formaturas.
“É uma coisa do corpo e do talento, sabe?”. Foi com essa frase que Igor definiu no primeiro momento a habilidade.
Martins, que é uma das primeiras drag queens do estado e se apresenta como discotecária e hostess em festas, disse que descobriu a Ágata Power há aproximadamente cinco anos, quando se interessou por comprar umas perucas pela internet.
No instagram @ht.power, Igor preparou para os internautas o que ele classificou como “portfólio de montações”, exibindo os principais looks da transformista acreana.
Na entrevista, o servidor público abordou os equívocos que são encontrados a respeito da arte drag e a relação direta que é estabelecida com a orientação sexual, além de apontar os desafios frequentes em um cenário que considera ser repleto de “mentes pequenas”.
No último 29 de janeiro, em alusão ao Dia da Visibilidade Trans, o digital influencer foi para o trabalho montado de drag, no intuito de promover uma consciencialização sobre o respeito às diferenças. No local, gravou um vídeo falando sobre a experiência e publicou nas redes sociais, provocando diversos comentários.
Confira na íntegra a entrevista:
O que faz uma drag queen e como você define a performance?
Uma drag queen pode fazer várias coisas, ainda mais nesse cenário atual. Pode ser apresentadora, cantora, organizadora de eventos, hostess (nome dado às recepcionistas e anfitriãs de estabelecimentos ou eventos, como: casamentos, aniversários, bodas, entre outros), fazer dublagem e atuar em muitas outras áreas. O grande lance é se vestir como uma mulher, porque o termo vem, na tradução, tem a ver com “se vestir como mulher”. Existe a maquiagem, o truque com o cabelo. Isso que falei é o básico. É sempre usar o corpo e torná-lo feminino para a arte, seja na dança, no canto. É uma coisa do corpo e do talento. Eu canto, mas em drag não o faço, porque não tenho banda. Sonho com isso. É um dos meus projetos: a Ágata Power ter uma banda para se apresentar nos eventos e uma vida como cantora. Me apresento atualmente como hostess, recepcionando as pessoas em eventos, e como discotecária, tocando em festas. Fazendo a animação para o povo. Gostaria muito de ser cantora, mas até o momento não apareceu a oportunidade.
Quando você se descobriu drag queen e como foi essa descoberta?
Me descobri assim quando comprei algumas perucas da China pela internet, e deixei na minha casa. Não experimentei de início por morar com minha mãe e sempre respeitá-la. Mas, sentia vontade de usar. Algo ficava me instigando para fazer uma atividade com aquilo, sabe? Quando fui morar sozinho, decidi seguir com o que era minha vontade, intensificar isso, há uns quatro anos. Tudo começou pela internet, quando passei a pesquisar sobre cabelos, maquiagens e muitas características de uma drag. Geralmente, nos grandes centros, há uma mãe drag que sempre ajuda uma aprendiz a se arrumar, mas eu não tive isso, estava “meio que sozinho”. Fui para o Youtube. Ele foi a minha mãe drag. Aprendi tudo por lá. Com o tempo, assisti também um reality sobre a temática e fui me aprimorando…
Quais os desafios que encontrou para realizar as performances?
São vários os desafios que uma drag enfrenta no mundo. Ainda mais em Rio Branco, que embora seja uma cidade onde se concentra a maior parte dos acreanos, carrega pessoas com “mentalidades pequenas” em relação a essa questão. Muito preconceito e muito desconhecimento. Há uma invisibilidade da arte drag e de tudo que envolver o público LGBTQ. Apesar desses fatores serem os principais, temos também outros que são importantes, como o tempo, que é quente, na maior parte do dia, e dificulta a permanência da maquiagem. Além disso, o mercado é restrito. Não é fácil conseguir peruca, objetos mais detalhados […] Às vezes, até querem nos contratar, dizem que somos lindas assim, mas na hora de pagar, não valorizam nossos trabalhos, que deixam o evento mais envolvente, porque há muita dedicação e desempenho no que fazemos.
É muito comum relacionar esse tipo de arte à orientação sexual. O que precisa ser esclarecido sobre essa questão?
Muito pertinente tocar nesse assunto. Para fazer drag, não é necessário ser homossexual, como muitos acham. Existem drags que são mulheres cis (que se apresenta ao mundo e se identifica com o seu gênero biológico) e homens heterossexuais. Drag é arte. É se vestir de uma personagem. Não quer dizer que isso tenha relação direta com sua orientação sexual. É diferente de ser transexual, querer ser mulher. Pode acontecer de uma pessoa descobrir ao longo do tempo de performance que tem o desejo de ser transexual, mas isso não é regra. Nem toda drag queen é homossexual ou transexual. Ela, no palco, quer ser ovacionada, ser reconhecida, pelo que exerce, pela arte que pratica.
FALA LIVRE:
É importante incentivar a arte, mesmo com todo o preconceito que é visto, sentido na pele. Embora existam muitas pessoas que não aceitam e não respeitam, também existem aquelas que quando me veem montada, falam: “Nossa, você é muito corajosa. Vejo força em você”. Que não tenhamos medo de fazer arte. É comum, também, quando estamos vestidas com roupas curtas, alguns pensarem que queremos sexo ou somos garotas de programa. Não tem a ver com isso. Repito. Tem a ver com arte. Você pode ser o que você quiser.