“O meu governo começa hoje”, disse o governador Gladson Cameli, ao lado do vice-governador Wherles Rocha, durante entrevista coletiva no Palácio Rio Branco, na manhã desta quarta-feira (10) ao avaliar os cem dias de seu Governo, a se completarem amanhã – a se considerar que o mês de fevereiro foi de apenas 28 dias. Afirmou que enfrentou grandes dificuldades porque, nesses primeiros cem dias, lhe foram ocultadas muitas informações necessárias e fundamentais para que seu Governo pudesse implantar seus programas e que as informações repassadas à sua equipe durante a transição, em sua grande maioria, eram falsas. “Sofremos boicotes dentro do governo”, admitiu.
Deu como exemplo o fato de computadores de órgãos essenciais à administração, como da Fazenda e da secretaria de Administração, terem sido alimentados com informações errôneas a fim de prejudicar os novos gestores. “Eu não quis alardear isso para não ficar olhando para o retrovisor e perder tempo com isso. Mas começamos o governo sofrendo esse tipo de boicote”, disse Gladson Cameli, informando que, apesar de ter se mantido em silêncio sobre o assunto, mandou abrir um inquérito policial para apurar o caso. “O inquérito está em andamento”, acrescentou o vice Wherles Rocha.
Gladson Cameli e Wherles Rocha disseram que, a partir de hoje, acabou o tempo de colher informações e de espera. “Agora, é trabalho e nada mais”, disse Gladson Cameli, ao admitir que pensa inclusive em sua própria reeleição. “Se eu disser que não, estarei mentindo’, afirmou, descartando que discuta por enquanto nomes em relação à futura disputa pela Prefeitura Municipal. “Não falei com ninguém ainda sobre isso”, admitiu.
Ao admitir que seu governo começa a partir desses cem dias, Gladson Cameli deu como exemplo o anúncio da convocação dos aprovados nos concursos das polícias Civil e Militar. Ao todo são mais de 500 pessoas que foram aprovadas nos concursos que ocorreram ainda em 2017, cujo impacto na folha de pagamento ele não tem o número exato, mas lembrou que há estudos que permitem a certeza de pagamentos e das despesas com a preparação dos cursos aos novos policiais.
O Sistema de Segurança Pública, para Gladson Cameli, ao lado da Saúde, são os grandes gargalos do atual governo e que ele, assim com sua equipe, estão prontos para enfrentar o que vier pela frente. “Estamos prontos para enfrentarmos e cumprimos o que dissemos em praça pública, apesar de todas as dificuldades, dos boicotes e das ações que buscam nos impedir de governar”, disse Cameli. “Mas eu não vou ficar olhando para trás, porque temos visão de futuro”, afirmou. “Fui eleito pelo voto popular, meu governo já deu certo, estou fazendo alguns ajustes necessários para destravar. Só técnico não vai dar certo”.
Deputados de oposição criticam mas ressaltam senso democrático de Gladson
Os cem dias do atual governo, a serem completados nesta quinta-feira (11) foram lembrados, além do governador do Estado, por representantes de entidades de classe e parlamentares, tanto de oposição e de apoio à administração. Houve erros e acertos, concordam parlamentares, tanto de oposição como da base de apoio na Assembleia Legislativa, como também os dirigentes de entidades de classe e do setor produtivo. Mas, nesses cem dias, o governo foi caracterizado pelo sendo democrático do governador em ouvir seus críticos, admitir erros e até mesmo de corrigir e recuar quando lhe apontam as falhas.
Pela oposição, o deputado Edvaldo Magalhães, do PC do B, disse que nesses cem dias o maior tipo de oposição ao governo Gladson Cameli foi feito pelo próprio governo, com o uso do Diário oficial do Estado. “Não fui eu, nem os deputados de oposição ou os que se declaram independentes que fizemos oposição nesses cem dias”, afirmou. “Foi o Diário Oficial”, acrescentou, ao referir-se às nomeações através de decretos os quais o governador teve que rever e muitas vezes até torná-los sem efeitos.
No entanto, esses recuos do governador, na visão de Magalhães, demonstram profundo sentimento de respeito ao sistema democrático, “por sua capacidade de reformar e rever seus erros e corrigi-los”. “Ele demonstrou grande capacidade de assimilar pancadas”, definiu, ao se referir às críticas da oposição e à derrota acachapante sofrida pelo Governo na Assembleia, por 22 votos a 1, na votação do nome da diretora-presidente da Agência Reguladora de Serviços Públicos (Ageac), Mayara Cristine, ou em relação ao nome de Alércio Dias, do Acreprevidência, que deve ser retirado pelo próprio Governo da pauta da Assembleia pela certeza da derrota novamente. .
Outro membro da oposição, o deputado Daniel Zen, líder do PT na Assembleia, tem posição parecida em relação ao governador e a forma democrática com a qual ele vem se comportando. Zen acha que cem dias são poucos para uma avaliação mais aprofundada e disse que esse tempo precisa ser alargado para pelo menos mais um ano. “Considero injusto julgarmos todo o um governo por um período tão curto”, disse Zen.
O líder do MDB na Assembleia, deputado Roberto Duarte, que se declara independente, “nem de oposição nem da bancada de apoio”, disse que os primeiros cem dias foram jogados fora. “Me apontem uma obra do atual governo nesses cem dias”, cobrou. “O senhor deve morar em outro Estado, porque quem mora no Acre já viu a grande obra do Governo, que foi sanear um Estado deixado na falência depois de 20 anos”, respondeu o deputado Neném Almeida (Solidariedade).
É a mesma opinião do deputado José Bestene (Progressistas), aliado do governo. “O principal acerto, na minha avaliação, foi o enxugamento da máquina pública, com o pagamento em dias dos servidores públicos e de dívidas herdadas do governo anterior. “Registro isso porque diziam que o governo nem pagaria os servidores públicos a partir do terceiro mês”, disse Bestene. “Se erros ocorreram, foram na tentativa de buscar os acertos. Eu sou um otimista em relação ao governo Gladson Cameli e suas atitudes, em vários setores, da economia à saúde, me enchem de esperanças de que teremos um grande governo daqui para frente”, afirmou.
Representantes do setor produtivo do Estado também opinam sobre os cem dias
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Acre (Fecomércio), Leandro Teixeira Pinto, disse, sobre os primeiros cem dias de Governo, que, “quando há alternância de poder, em qualquer esfera de governo, espera-se que 100 dias sejam suficientes para que o novo governante sinalize com políticas que indiquem os rumos que quer dá ao governo”.
De acordo com Teixeira Pinto, o governador Gladson apresentou, durante sua campanha, um programa que convenceu a classe empresarial. “Ele prometeu reformar a política tributária vigente no Estado, para que se criasse um ambiente mais propício ao crescimento dos negócios, com reflexos na geração de rendas e empregos e prometeu desburocratizar o Estado, rever legislações, de modo a permitir o crescimento do agronegócio, criar condições para que a população tivesse um atendimento digno na saúde pública e diminuir a violência e a marginalidade nas cidades acreanas”, disse.
O começo do governo, no entanto, está tumultuado, na opinião de Teixeira Pinto. “Sabemos que gerir um Estado tem uma grande complexidade e requer um conhecimento pleno das necessidades e anseios da sociedade. O que se depreende destes 100 dias de governo é que as ações empreendidas pelo Estado ainda não surtiram efeitos desejados nem na economia, tão pouco na prestação dos serviços básicos do estado. Entretanto, devemos continuar acreditando no governador, que tem uma convicção muito grande que pode e vai fazer grandes transformações nas estruturas do Estado e promover o desenvolvimento econômico e social”, afirmou.
O presidente da Federação das Indústrias do Acre (Fieac), José Adriano, disse que a indústria espera maior aproximação com o governo e que cem dias é um período muito curto para que se possa fazer uma análise mais profunda sobre a administração. Segundo ele, o prazo estabelecido pelo próprio governo para apresentar resultados foi precipitado. “Nós sabemos que os governos, diferente do setor privado, têm outro tempo”, disse Adriano, ao declarar que os empresários, principalmente do setor industrial, ainda têm muita esperança no governo e no governador. “Ele ainda precisa de mais tempo, porque 90 ou cem dias é muito pouco”, disse.
O presidente da Federação da Agricultura do Estado (Faeac), Assuero Veronez, disse que cem dias não são suficientes para que se possa avaliar todo um governo, mas lembrou que o setor por ele dirigido tem muita expectativa em relação ao governo Gladson Cameli. Para ele, Gladson Cameli acerta ao trabalhar pela diminuição do Estado e por levar o Acre para o desenvolvimento através do agronegócio. “Se há erros, cremos que ainda é cedo para um julgamento de um governo que está só começando”, avaliou.