A noite do último dia 26 de abril não foi uma das mais comuns para o pedagogo Marco Aurélio Dias Ribeiro Sampaio, de 49 anos. Ele não conseguiu dormir nas primeiras horas da noite tamanha era a euforia que seu corpo experimentava, uma mistura de sensações de risos, alegria incontida e, ao mesmo tempo, de ódio, de se saber injustiçado. Mas, passado esse tempo, foi, como ele mesmo definiu, “a noite mais prazerosa da minha vida nos últimos quatro anos”.
Também pudera: Marco Sampaio, como é conhecido este professor de Sena Madureira, onde nasceu e vive com o filho, os pais e mais sete irmãos, foi considerado inocente num processo judicial que em 2015 destruiu sua vida. Uma destruição que chegou ao ponto de seu filho,Thomas Jefersson, hoje com 19 anos de idade, ter adquirido problemas neurológicos, seu casamento ter acabado e ele ter que voltar, desempregado e sem dinheiro, a viver com os pais – dois anciãos de 87 e 70 anos, Severino e Osana Sampaio. “Foram eles que me sustentaram e me deram as bases para recomeçar. Devo isso à minha família e aos meus amigos”, disse Marco.
A sentença judicial, de autoria do juiz Manoel Simões Pedroga, de Sena Madureira, diz que o professor tem que ser imediatamente reintegrado às funções e ter indenizado os quatro anos de salário que ficou sem receber, um montante ainda não calculado nem por ele nem por seu advogado, Thalles Vinícius. A decisão judicial também daria prazo para que o professor acionasse o Estado por reparação de perdas e danos morais.
Tudo começou em 2015, quando Marcos Sampaio era o responsável pelo núcleo da Secretaria de Educação, em Sena Madureira. A ele cabia a gestão da Secretaria no município, principalmente no que dizia respeito a pessoal, como lotação de professores, controle de frequência e outras questões administrativas. “Mas, mexer com pessoal, sempre foi complicado e eu senti que estava sofrendo algumas retaliações, coisas visíveis, mas jamais achei que poderia resultar em tudo isso”, disse.
Um dia ele foi informado de que estava sendo investigado sob um processo administrativo, por ordem do então secretário de Educação, professor Marcos Brandão, ainda no primeiro mandato do então governador Tião Viana. “Era mais ou menos em 2012 e eu continuei trabalhando. Em 2015, no meu local de trabalho, fui informado por uma nova chefia que eu deixasse o local porque havia acabado de ser demitido. Foi como se o mundo tivesse desabado sobre mim”, definiu.
E os problemas só vieram se acumular: seu casamento acabou, o filho adoeceu e o profissional ficou sem dinheiro para coisas básicas, como a própria alimentação. “Foi quando recorri a meus pais. Ainda bem que ainda eu os tenho. Resolvi o problema social, mas meu coração acumulava muito ódio porque eu sabia que estava sendo vítima de uma injustiça, de perseguição política”, contou.
Ao se referir à perseguição política, Marco Sampaio está crente de que isso ocorreu porque ele discordava dos dirigentes do PT, partido que governada o Estado e cujos prepostos iam a Sena Madureira “como fossem os donos do mundo”. Sampaio discordava da forma e do aparelhamento da Secretaria de Educação pelo PT, embora ele fosse também um dos filiados locais. “Eu disse isso uma vez numa reunião com o Carioca e acho que foi ali que eu selei minha desgraça. Eu percebi, pela cara dele, que iria sofrer perseguições”, afirmou.
“Carioca”, o apelido ao qual o professor se refere, é como é conhecido o professor Francisco Nepomunceno, secretário de Estado nos últimos 20 anos de governo petista e apontado como linha dura contra aqueles que ousassem discordar do que ele entendia como política pública. Era o secretário de Articulações Institucionais, cuja presença, numa repartição pública, nos tempos em que mandavam e desmandava nos governos, era motivo de terror entre os servidores.
“Mas, agora a injustiça está desfeita. Só quero é poder voltar a trabalhar, ter contato com meus alunos e reorganizar minha vida. A época do terror passou”, comemorou.