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“Sapo”, embora doente e agora deficiente físico, continua vivo e resistindo a má sorte

Por TIÃO MAIA, DO CONTILNET

A sorte, ao que tudo indica, nunca lhe foi companheira. Nem amiga. Talvez, no máximo, uma madrasta, daquelas bem ingratas. Pobre entre os mais pobres, não foi à escola, foi criado ao deus-dará, com a caraterística ou o supremo azar de não ter sido beneficiado com nenhum requisito ou princípio de beleza.

Roberto Nogueira da Silva, o “Sapo”/Foto: ContilNet

O acreano Roberto Nogueira da Silva, o “Sapo”, aos 57 anos, nascido em Rio Branco (AC), já não é mais o adolescente que, volta e meia, era levado às delegacias de polícia da cidade por transgressões bem diferentes do que se registra hoje entre os jovens. Seus crimes, se restringiam a furtar calcinhas e outras peças íntimas de varais nos fundos de quintal ou de “brechar” mulheres em banheiros nos tempos em que não haviam chuveiros na maioria das casas e os asseios eram feitos em camburões, com banhos de cuia, numa época de uma Rio Branco menos violenta, mais humana e inocente, em que os “bandidos”, da época, atendiam por apelidos como “Burra-Cega”, “Ivo Pega-a-unha”, “Marrosa” e, no caso dele, por “Sapo”.

Não eram tempos de facções, gangues e de assassinatos à sangue frio, com direito até à decapitações de inocentes, julgados por juízes paralelos ao estado de direito, pelos tribunais do crime. Os números e os crimes da época em que “Sapo” era o inimigo público da cidade chegam a causar saudades.

Sapo atualmente com a saúde debilitada/Foto: ContilNet

Mas, um dia, cansado da vida de envolvimento com a polícia, ele resolveu mudar. Queria casar, ter família, filhos talvez, mas não conseguiu. Mesmo que ele ganhasse a vida de forma honesta e honrada, trabalhando como engraxate de sapatos à entrada da sede da Prefeitura de Rio Branco, quando chegava a faturar até um salário mínimo por mês, não lhe apareceu uma mulher capaz a desposá-lo e ele continuou sozinho, filosofando, a seu modo, que um homem só não serve para nada, “nem para ser corno”.

O tempo passou e a vida de “Sapo”, aliás, não melhorou. Só piorou. Doente, diabético, ele acaba de perder uma das pernas, a direita, e se tornou cadeirante. Agora, o ex-engraxate literalmente roda a cidade, com alguma dificuldade, pedindo ajuda para alimentar-se e ajudar a mãe, Valdizia Nogueira Lima, que continua viva e a única pessoa no mundo ainda a ajudá-lo.

Precisa de uma cadeira de roda mais confortável. “Se aparecesse uma daquelas com motorzinho, seria muito bom”, disse, ao se referir a uma cadeira motorizada. “Mas se não tem, eu me viro com esta aqui”, diz, conformado, já que conformar-se, ao que parece, tem sido também sua sina.

Mas, para quem dele se compadece, “Sapo” rompe a resignação parta dizer que, apesar de tudo, não é um mendigo. “Sou apenas um cara sem sorte. Mas viver, mesmo com dificuldades, viver é importante”, diz, convicto.

 

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