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Irritabilidade intensa na infância pode indicar transtorno; entenda

Por POR VINICIUS LUZ, PSIQUIATRA DA INFÂNCIA

Vinicius Luz, psiquiatra da infância/Foto: Reprodução

As crises de birra fazem parte da vida da criança. No entanto, quando a irritabilidade intensa continua depois dos 5 ou 6 anos de idade é importante que os pais fiquem atentos, pois pode ser sinal de transtorno, explica o psiquiatra da infância Vinicius Luz, do Núcleo de Atendimento Psicológico (NAP), de Novo Hamburgo. Na entrevista abaixo, ele explica que para saber a diferença entre o que é normal e o que é um problema é preciso considerar o momento em que estas crises de birra ocorrem, a frequência e o prejuízo que causam.

Como diferenciar o que é birra do que é um transtorno de irritabilidade?

Um comportamento mais agressivo, pois crises de birra fazem parte do desenvolvimento. Crianças de até 4 ou 5 anos podem apresentar esse tipo de quadro e não necessariamente significar um transtorno, é uma etapa do desenvolvimento. Então, a gente começa a chamar de transtorno quando isso ocorre de forma recorrente em um período não esperado do desenvolvimento. São crianças que mantêm esse comportamento na idade escolar, por exemplo, e quando começa a trazer algum tipo de prejuízo, ou em casa ou na escola.

Quais os tipos de comportamento que caracterizam essa irritabilidade?

O que mais aparece na infância é a irritabilidade frente a frustrações. Então, por exemplo, quando a criança não tem o que quer, acaba ficando irritada, ficando fisicamente ou verbalmente agressiva. Lá naquela etapa do desenvolvimento pré-escolar isso pode acontecer, não é sinal de transtorno, mas com o tempo a gente espera que a criança vá adquirindo capacidade de tolerar a frustração, pode até ficar triste, chateada, mas não ter crises de birra. Começa a virar transtorno depois de 5 ou 6 anos de idade. Para dizer que uma criança tem um transtorno opositor, por exemplo, que se caracteriza por essas crises de birra, se ocorrer na idade pré-escolar teria que ser muito mais frequente do que o normal, todo dia. Em geral, os fatores que a gente sempre avalia para diferenciar o que é normal e o que é transtorno é o momento em que ocorre, a frequência e o prejuízo.

O ambiente externo também influencia esse comportamento?

Sim, crianças com transtorno opositor-desafiante têm tendência a ter crises de birra quando frustradas, não aceitam a frustração, agem de forma agressiva, normalmente isso é reflexo de um ambiente inadequado. Por exemplo, pais com muita dificuldade de limite, pais excessivamente permissivos ou muito rígidos. Ou ainda que não têm um padrão constante de manejo, podem alternar períodos de comportamento mais rígido, opressor, com outros momentos em que acabam sendo mais negligentes e permitindo que a criança faça tudo o que quer.

O equilíbrio dentro de casa faz parte do processo de tratamento?

O tratamento em geral é feito com psicoterápicos, mas precisa de muita intervenção familiar, acompanhamento, consultas frequentes. Às vezes é tão ou mais importante o tratamento com os pais do que com a criança.

Qual a consequência de não trabalhar a questão da irritabilidade nessa fase da infância?

Pode ter vários tipos de prejuízos, o primeiro que a irritabilidade pode ser sintoma inicial de um transtorno grave, como um transtorno bipolar na vida adulta, ou a irritabilidade por si só pode trazer prejuízo principalmente no relacionamento interpessoal. São crianças que têm dificuldade de ter amigos na escola, que brigam por qualquer coisa, têm prejuízo no aprendizado e isso lá pelas tantas acaba virando um padrão de funcionamento da criança, as pessoas tendem a vê-la como se fosse a irritabilidade. A tendência é que, com o desenvolvimento, a criança vá acreditando naquilo e levando aquilo para a vida adulta, então aumenta o risco de problemas de baixa autoestima, que podem levar a depressão e ansiedade.

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