Em dezembro passado, no meio das férias, quando soube que a televisão aberta (pela primeira vez na história) incluiria na programação a Copa do Mundo de Futebol Feminino, não tive dúvidas, interrompi o dolce far niente carioca e liguei para minha diretora-geral, Daniela Falcão, sugerindo a maior atleta do futebol na capa: Marta Vieira da Silva.
Não acompanho times e não sei as regras de nenhuma competição. O máximo da minha porção esportista se destacou na adolescência, quando fui reserva da equipe de basquete da escola e rapidamente decidi que ser cheerleader tinha mais a ver comigo – “cheerleading é um esporte”, repeti mil vezes para o meu pai. Mas não é preciso saber explicar um impedimento para ter profunda admiração por mulheres com garra, disciplina e foco para ultrapassar seus próprios limites, a definição da nossa artilheira, que hoje é também embaixadora global da ONU Mulheresna luta pela igualdade de gênero dentro e fora dos campos.
Nascida na pequena cidade de Dois Riachos, Alagoas, entrou na escola aos 9 anos. A bola veio bem antes, aos 6. Sofreu bullying e preconceito por ser uma menina que jogava. Com 13, saiu de casa rumo ao Rio de Janeiro para testes. Assinou contrato com o Vasco e o resto é história – e das mais emocionantes, como você lê na matéria da nossa redatora-chefe, Camila Garcia, em Marta É Dez, na página 146.
Enquanto escrevo esta carta, Marta acaba de quebrar um recorde mundial e se tornar a maior artilheira (entre homens e mulheres) de Copas do Mundo. Ela e nossas guerreiras estão nas oitavas de final da competição. Ainda tem chão, ou melhor, grama, até que Marta suba no pódio, mas tenho convicção que a taça é um mero detalhe para o quão longe ela chegou e para tudo o que representa para esta e para as próximas gerações.