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Médicos, enfermeiros e até fornecedores de medicamentos podem estar envolvidos em ‘cartel’

Por TIÃO MAIA, DO CONTILNET

Ao se definir um homem feliz como governador do Acre apesar de todas as dificuldades encontradas, inclusive de caos financeiro, Gladson Cameli disse em uma entrevista exclusiva ao ContilNet, às vésperas de completar o sexto mês à frente do Governo, “que as coisas estão só começando” e que se enganou ao achar, ao assumir, que o grande problema do Acre estava relacionado à violência ou à segurança pública. O grande gargalo, admitiu, é o sistema de saúde e voltou a falar, pela terceira em menos de dez dias, na existência de uma espécie de cartel que impede o órgão de funcionar e que ele vai resolver o problema, nem que para isso “tenha que mudar todos os protagonistas” do setor.   

Médicos, enfermeiros, servidores e até fornecedores de medicamentos – todos estão sendo observados pelo governador e até mesmo a polícia, inclusive a Federal, já foi alertada dos boicotes causados ao governo pelo tal cartel. O governador também falou de obras, das relações com o governo federal e de suas expectativas para o futuro.

Governador Gladson Cameli falou sobre a saúde do Acre/Foto: ContilNet

Sobre seu futuro político, afirmou que, desde que entrou para a política, seu sonho era chegar ao governo do Acre e que é candidatíssimo à reeleição. “E eu lá vou arrumar a casa para deixar tudo para outro”, disse, ao afirmar também que terá candidato a prefeito de Rio Branco.

Ser governador, para ele, embora não seja o paraíso que é o Senado, mas também não é nenhum inferno e que ele se dente feliz ao ver que as coisas começam a acontecer. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O falecido senador pelo Rio de Janeiro Darcy Ribeiro disse certa vez que na Terra havia um paraíso, que era o Senado. Segundo ele, o bom desse paraíso terrestre seria que, para conquistá-lo, o ser humano não precisaria morrer. Bastava se eleger senador. O senhor se elegeu e, no entanto, no meio do mandato, deixou o paraíso do Senado para vir governar o Acre, nesse verdadeiro inferno de dificuldades, como o senhor mesmo admite. Como é viver esta experiência de céu e inferno ao mesmo tempo?

Gladson Cameli – Eu te digo, do fundo do meu coração, que me sinto muito feliz. Há pontos questionáveis em relação a essa colocação que os senadores fazem. Se você pegar os 81 senadores, vai ver que a grande maioria foi governador de estados, alguns até mais de uma vez. Foram executivos e eu nunca tive essa oportunidade e esta experiência. Eu estava no parlamento há 12 anos e não nego que, desde quando entrei para a política, foi para um dia governar o Acre e a experiência, mesmo que seja num momento de dificuldades financeiras e por mais que eu não goste de falar de quem governou e de olhar um pouco pelo retrovisor, dessa situação financeira delicadíssima, com a grande maioria dos estados quebrando, decretando estado de calamidade financeira, eu assumi um governo que foi governado por um grupo por 20 anos, mas eu gosto do desafio. Eu sou um homem de desafios.

Tudo bem. Mas qual é a maior dificuldade, o maior desafio hoje?

É preciso que vejamos um contexto. Há uma cultura, um pensamento arraigado por 20 anos e até você mudar isso, atendendo os interesses políticos, sem dinheiro, com a saúde sendo um grande problema, de gestão, de força de vontade e os problemas aí nem sempre decorrem da falta de dinheiro…

Por falar em saúde, pela segunda vez, em menos de dez dias, o senhor fez comentários dizendo que naquele órgão há um cartel. Obviamente que, para dizer isso, o senhor deve ter alguma informação sobre o assunto, o que leva-me a perguntar: esse cartel é formado por quem? Por funcionários, por fornecedores, médicos ou outros funcionários? Quem está à frente deste cartel?

Por que eu falo de cartel na Saúde? Porque o mesmo percentual de valores do orçamento que vai para a Educação, vai para a Saúde, algo em torno de 30 por cento da arrecadação. Comparando os problemas estruturais que temos, por que na Educação as coisas andam mais rápidas e na Saúde as coisas não andam? Eu fui um grande crítico do governo passado neste setor  e hoje eu entendo que, ao que parece, enterraram uma cabeça de burro ali dentro, da Saúde, em que não adianta a figura do governador e a do secretário agindo, se não se alinhar o funcionamento. Ali, até os terceirizados são um problema: vivo recebendo mensagens direto dando conta de que a empresa que ganhou um contrato de prestação de serviço está mandando funcionários agirem de forma a pressionar o governo. Os médicos são outro problema e funcionários também. Então, ali tudo é problema.

Estou fazendo isso, em relação à saúde, o que eles dizem que precisam eu estou procurando atender. Se eles me disserem o caminho para acabar de vez com os problemas, eu não faço mais nenhuma obra. Paro tudo e vou me dedicar só à Saúde. Minha prioridade é resolver o problema da saúde e eu não vou sossegar enquanto não conseguir isso

A grande reclamação da população no setor de saúde é em relação a ausência dos médicos do local de trabalho. O senhor já mandou levantar isso?

Já mandei. Hoje mesmo já recebi do Pronto Socorro o ponto dos médicos e pelo que li, dar para ver que há coisas erradas.

Que erros? Eles, os médicos, não vão trabalhar e assinam os pontos?

É, manipulam… quem trabalhou uma hora diz que trabalhou dez horas, trabalhou 14 horas, enfim… Há uma interpretação deles, o que é um grande erro – não só dos médicos, estou falando no geral, e aí incluo todos os fornecedores, inclusive quem fornece remédio e alimentação, de que eles são insubstituíveis. Esse é o grande erro.

Os médicos incluídos?

Todas as classes. Se eu disser que eu paguei um débito atrasado, do governo passado e mesmo assim tivemos dificuldades em receber o remédio… como foi decretado estado de calamidade na saúde, eu paguei à vista o que foi comprado de remédio, e o pessoal ficou segurando para entregar para vir colocar coleira no Governo. Então eu tomei uma decisão: é um problema que eu tenho que resolver, doa a quem doer. Há esse cartel mesmo e a Justiça está aí para apurar o que estou dizendo. Determinei ao secretário de Segurança para, através da Polícia Civil e da inteligência do Estado, para investigar isso. Nós sabemos que Rio Branco é uma terra de muro baixo e os comentários que há na cidade de que a própria Polícia Federal já foi informado sobre este assunto…

Que assunto?

Da existência desse cartel. E eu não retiro uma palavra.

Onde começa este cartel? Onde está sua origem?

É isso que estamos tentando descobrir. Vamos escavacar até encontrar essa cabeça de burro que lá está enterrada e desenterrá-la de uma vez por todas. Estou disposto a virar (o sistema de saúde) de cabeça para baixo e dar uma resposta a quem mais precisa da saúde. O que não vou aceitar – e aqui eu falo não como governador, mas como cidadão – é deitar minha cabeça num travesseiro e saber que há filas enormes de pessoas – pais e mães precisando dar um mínimo de atendimento aos filhos e não ter condições, de ir a Sena Madureira, o terceiro município do Estado, e ver uma situação terrível na área de saúde. Há casos denunciados por um colega seu, jornalista, em que, por algum motivo, não queriam levar um idoso para Manuel Urbano, uma questão de desumanidade em que eu tive que interceder como governador para mandar o Samu levar. Vou dizer o que sinto no setor: falta planejamento e vontade de fazer. Não há essa vontade.

Pelo o que o senhor está dizendo, há um boicote no setor da Saúde. Boicotou o governo anterior, está tentando boicotar o seu e pode tentar boicotar um futuro governo?

Pode. Vamos pegar os últimos 30 anos, lá atrás… Se você analisar os governos dos últimos 30 anos e listar o que eram os grandes problemas daqueles governos, pode ver que a Saúde está no meio.

Então hoje o grande problema de seu Governo é a Saúde?

É a Saúde e eu vou dizer porquê. Entendo que se o setor melhorar – e eu vou melhorar! – resolvemos 70 por cento dos problemas do Governo. Quando assumi, achava que o maior problema do Estado seria o setor de segurança pública. Achava que era o setor que iria precisar de muito mais investimentos e de muitas ações, mas, pelo contrário, é hoje o setor que me causa menos problemas. As coisas ali estão andando e creio que para melhorar ainda mais o setor e chegar ao patamar que eu quero, basta melhorarmos o mercado da construção civil, com a criação de empregos.

Pois bem. Agora dia primeiro de junho o senhor vai fazer seis meses no Governo e a oposição e seus críticos dizem que, na verdade, o governo ainda não começou. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

(Rindo…) – Isso tem um fundo de verdade. Temos muitas coisas travadas. Meu maior problema, sabe qual é? É um fator chamado competência e querer trabalhar. Vejo hoje que o maior problema do Estado não é o da Saúde porque isso eu vou ter que resolver, nem que eu tenha que virar o sistema de cabeça para baixo, como já disse. O maior problema são pessoas que querem emprego e não o trabalho. Vêm aqui e dizem: – governador, eu quero uma CEC (Cargo Especial Comissionado), mas trabalhar, que é bom, nada. Não querem se preparar para participar de concursos públicos e querem empregos políticos. E quando nem sempre é possível atender, passam a jogar contra. O meu maior problema não são os adversários, não. É o interno, o chamado fogo amigo.

Diante disso, qual será, a partir daqui, o seu primeiro passo para de fato começar a governar?

Eu já comecei e já avisei que acabou o tempo para qualquer um que queira brincar com o governo, com politicagem ou outra coisa ou com política. Agora, eu vou governar! Vou colocar as pessoas certas no lugar certo e vou fazer valer o meu discurso de campanha. Vou dar um exemplo: os projetos do Depasa (Departamento de Pavimentação e Saneamento), estavam tudo parado. E eu achava que ali estaria um dos grandes problemas do Estado e já conseguimos destravar praticamente todas as obras inacabadas e vamos entregar todos os projetos, faltando apenas, esses dias, os valores e prazos. Mas está tudo encaminhado e vamos dar um show nesta área. Era um monte de processo paralisado e que vai funcionar. Tomei a decisão de qualificar as secretarias estratégicas.

Quais são essas secretarias?

Educação, Saúde, Segurança e Infraestrutura, com o Deracre e Depasa e, colocando no meio, a Seplag, que é a nova Secretaria de Planejamento, Administração e Gestão Governamental.

O senhor tem dito que a partir de agora vai começar a fazer obras, grandes obras. Na semana passada, o senhor falou até da construção de um viaduto, de pontes e de orlas. Mas, ao que parece, não há projetos neste sentido. Como é possível fazer isso se não há os projetos?

Não há ainda projetos específicos mas há um cronograma de ações. O primeiro, destravar tudo aquilo que foi iniciado e que não conseguiram terminar. O segundo passo foi montar uma equipe de projetista para esses grandes projetos para começar a executá-los. Até o final do ano eu quero deixar tudo licitado para começar a execução no início do ano que vem, que é o Anel Viário de Rio Branco…

Como será esse Anel Viário? É aquele do antigo projeto do então governador Edmundo Pinto?

É aquele que sai lá na Custódio Freire, tirando todo o trânsito pesado do centro de Rio Branco.

Haverá então uma nova ponte sobre o rio Acre?

Esse é o estudo que se está fazendo. A ideia é oferecer uma qualidade melhor para escoar o trânsito dentro do município mas também sem a obrigatoriedade do impacto de fazer uma nova ponte. Se der para fazer, sem isso, mas mudando o que tem que ser mudado, nós vamos fazer. Eu vou começar a ouvir – e me comprometi com isso já – o Sindicato da Construção Civil sobre essas obras e às pessoas que precisam da melhoria com essas obras. Ouvir todo mundo para fazer o Anel Viário de Rio Branco, de Cruzeiro do Sul, uma Orla em Rio Branco, outra em Cruzeiro…

Quando o senhor fala de Orla, principalmente em Rio Branco, o pensamento vai logo em relação à urbanização das margens do rio Acre. É isso o que o senhor pretende para Rio Branco e para Cruzeiro?

Penso em fazer, para as pessoas que conhecem Manaus, uma Ponta Negra II.

Em Rio Branco ou em Cruzeiro do Sul?

Em Rio Branco e em Cruzeiro do Sul. Eu quero melhorar aquela entrada em Cruzeiro do Sul. Aquilo ali, em termos de urbanização, não existe! Penso num grande aterro ali perto do cemitério. São obras para as quais eu já tenho 90% dos recursos já garantidos, tanto para as obras de Cruzeiro, de Rio Branco, a ponte do Segundo Distrito de Sena Madureira, onde vai haver uma orla também – ainda que seja pequena -, a de Xapuri e a de Brasiléia, que está sendo licitada agora já.

O senhor está falando aí de obras cujos recursos chegam na casa dos bilhões de reais. Mas o problema é que o Estado, assim como país, vive um momento de crise financeira. De onde é possível tirar o dinheiro que vai financiar tudo isso? É possível ter este dinheiro?

Eu estou muito confiante, e sabe por quê? Eu já estou com o aval da STN (Secretaria do Tesouro Nacional, órgão do Ministério da Fazenda).  Vou pegar todos os financiamentos que foram feitos em nome do Estado até hoje e o tesouro vai ser o nosso fiador. Ai eu vou levar esses valores para um único banco.

Mas isso precisa da aprovação do Senado da República, não é?

Sim, mas há também uma determinação do governo federal de ajudar aos estados. O Acre e o Piauí são os primeiros a estarem nesta lista, porque estão fazendo o dever de casa. E aí, com a economia de juros, abatimentos e a prorrogação (dos empréstimos), nós vamos economizar para os cofres do Acre, por ano, algo em torno de R$ 500 milhões. Estou apostando nisso porque do jeito que está, não tem como ficar. Estou contando: a Reforma da Previdência vai passar, com a repactuação do orçamento em relação aos estados, com a União ficando com apenas 30% e passando os 70% para os estados e municípios e em relação a outras medidas que vão ser tomadas. Eu tive com o presidente Jair Bolsonaro naquela viagem aos Estados Unidos e participamos de rodadas de negociações da equipe econômica com investidores e eu diria que eles – os investidores internacionais – já estão prontos para, aprovou a Reforma da Previdência, caírem de corpo e alma aqui dentro (do Brasil).

Mas isso é em relação ao país? E para o Acre, sobraria o que?

Sim, em relação ao Brasil, mas o Acre está num ponto estratégico. Geograficamente, nós estamos próximos e de frente para o Pacífico, o que nos permitiria diminuir a navegação para os portos da Ásia em pelo menos 15 mil milhas náuticas e não vai haver mais espera para descarregar navios no Porto de Santos, em São Paulo, e tudo será descarregado por aqui. O mundo está de olho para onde? Para a  Ásia, graças a essa concorrência com os Estados Unidos. E tudo vai passar por aqui. Esse é um trabalho sobre o qual eu digo com muita tranquilidade que todos os ex-governadores deram sua parcela de contribuição. Se está caindo isso no momento no meu Governo, maravilha! Mas, se cada um dos governadores não tivesse feito o seu trabalho, a sua parte, imagine o sacrifício que eu não teria que fazer para começar tudo do zero.

Há, no entanto, um projeto do Governo passado, o de criação de uma espécie de Zona Franca, a chamada ZPE, que não passou de um elefante branco e não funciona. O senhor vai reativar essa ideia? É isso o que vai acontecer?

Sobre isso, eu gostaria muito um dia que você tivesse a oportunidade de conversar com o Paulo Guedes (ministro da Economia). Os argumentos dele são convincentes. A ZPE não funcionou por causa dos interesses comerciais dos outros estados. O Sul, o Sudeste, o Centro-Oeste e parte do Nordeste não querem quer as coisas para cá deem certo, como a exportação da carne bovina. Querem que a compra de boi seja dele e passe por lá, pelas regiões deles. E o atual governo federal está dando todas as condições para que as coisas aconteçam também por aqui. O presidente da República vai se encontrar com o presidente peruano para assinar acordos sobre isso.

Eu não vou chamar de “máfia de branco’ porque se eu concordar com isso vão achar que é apenas de médicos que estamos falando. E o problema não é só de médicos. Eu não tenho problema de falar de médicos não! Eles são culpados também. O problema é que na Saúde há problemas em tudo. Tudo o que envolve saúde há problema

Quando vai ser?

Agora, em novembro deste ano. Vai ser ou em Rio Branco ou lá na fronteira com o Peru. Como governador, estou puxando isso para cá e neste sentido estou tendo a ajuda do senador Márcio Bittar (MDB-AC) e terei uma missão agora com o senador para o Peru e vamos tratar desses assuntos também. O Peru está, vamos dizer assim, com os olhos brilhando e com todos os interesses para fazer parceria comercial com a gente. Aí entra Rondônia, o Amazonas e Roraima. O governo federal está incentivando essas relações para o desenvolvimento desses estados da região Norte. E eu digo isso não só por otimismo. Eu viajei com ele para os estados Unidos e pedi para as secretárias de Fazenda e de Planejamento fazerem uma relação de pedidos que eu ia fazer na viagem. Achei que eles iriam atender no máximo uns seis pedidos.

E eram quantos os pedidos?

Dez! Um inclusive de devolução de dinheiro para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) como pagamento de multas. Pedi que eles perdoassem.

E perdoaram? Em torno de quanto?

De cabeça, eu não lembro. É uma falha minha, mas o certo é que eu pedi e eles disseram que sim. Eu perguntei: posso mandar a equipe econômica para fazer os trâmites e eles disseram sim. Aí eu mandei a Maria Alice (secretária de Planejamento) e a Samírames Pintos (secretária de Fazenda). Elas foram para lá e voltaram exultante, com sorriso de orelha a orelha, quase sem acreditar no que estava acontecendo – e até eu estava duvidando, não vou mentir. Mas isso só está acontecendo por causa da nossa bancada federal. Eles – o governo federal – estão contando com os nossos votos para as reformas que o país precisa.

Então foram as suas secretárias que denunciaram ao ministro Paulo Guedes o sumiço daqueles R$ 200 milhões sobre os quais ele aparece em vídeo na Internet denunciando o desaparecimento dinheiro do BNDES no Acre?

Ali houve uma informação errada do Paulo. Ali foi um exemplo, nós dissemos a ele, que não tínhamos como devolver um dinheiro e pagar uma conta sendo que o Banco também errou. Nós mostramos com números, com um mais um, que o BNDES errou. Foi aí que o ministrou errou quando misturou com dinheiro para as BRs. Mas o fato é que, vendo alguns contratos, eles também concordaram que não tem porque o Estado devolver dinheiro porque o banco errou ao emprestar o dinheiro. E tem também um outro ponto, o da taxa de juro. Um dos debates que estamos tendo com o BNDES é o seguinte: os empréstimos que foram feitos para países como África, Venezuela e outros, os estados pagavam juros de agiotas e aqueles países pagavam juros de compadres. Aliás, sobre números eu quero anunciar também que estou pedindo uma auditoria sobre a folha de pagamento do Estado. Só a folha de pagamento da Saúde está em torno de R$ 30 milhões e isso, para mim, não se justifica.

 Senhor diz isso porque alguém está ganhando muito ou é porque há desvios?

 Não sei bem o que é, mas essa folha de pagamento tem um furo, com toda a certeza do mundo. Eu estou desconfiando de tudo. E aí alguém vem me dizer, o senhor está chorando e reclamando muito (da falta de dinheiro) mas faz aprovar a criação de 450 novos cargos. E quem disse que eu vou nomear esses 450 cargosComo eu preciso da classe política e dos partidos – e não há como fugir disso -, o que estou querendo agora, com essa lei da reforma, é dar condição melhores de trabalho para equipes chaves, como Saúde, Educação, Segurança, Planejamento, Fazenda e Infraestrutura, com pessoas técnicas e voltar as FGs, as Funções Gratificadas.

Quando o senhor assumiu, todo mundo diz que o grande problema que o senhor iria enfrentar era o da Segurança Pública, por causa da violência. Hoje, pelo o que o senhor está dizendo, o grande problema, o grande gargalo é a Saúde. O senhor confirma isso?

Melhorou um pouco, segundo os números que nós temos. E não é pesquisa nossa não. São números do próprio Ministério Público.

Médicos, enfermeiros, servidores e até fornecedores de medicamentos – todos estão sendo observados pelo governador e até mesmo a polícia, inclusive a Federal, já foi alertada dos boicotes causados ao governo pelo tal cartel

Melhorou por que?

Porque dei estrutura. Coloquei estrutura à disposição dos policiais e melhorei as condições de trabalho e mantenho um diálogo aberto. Tudo o que eles pedem eu tenho procurado atender e estamos fazendo uma força-tarefa que é a união das polícias, de uma vez por todas.

O senhor falou que tem passado estrutura para a Segurança. Por que não passar também para a Saúde e ver o que acontece?    

Estou fazendo isso, em relação à saúde, o que eles dizem que precisam eu estou procurando atender. Se eles me disserem o caminho para acabar de vez com os problemas, eu não faço mais nenhuma obra. Paro tudo e vou me dedicar só à Saúde. Minha prioridade é resolver o problema da saúde e eu não vou sossegar enquanto não conseguir isso. Ainda bem que nós temos leis que nos dão segurança porque, para resolver problemas, daqui que a gente vá montar uma sindicância, esperar, o governo acaba e não resolvemos tudo. Tenho procurado resolver e, como governador, tenho saído de casa em dias de domingo, indo a todas as repartições da saúde, reunindo todos os chefes de setores e perguntar quais os problemas. O que mais tenho que fazer?

Parece que, neste setor, o senhor está enfrentando os mesmos problemas de seu antecessor, Tião Viana, que, aliás, é médico. O senhor acha que ele poderia ter resolvido isso ou o governo dele criou todos esses problemas?

Não, isso é um problema que não adianta querer culpar. Já vem de uma longa história. Um costume de muito tempo.

Caso da famosa “máfia de branco”?

 Eu não vou chamar de “máfia de branco’ porque se eu concordar com isso vão achar que é apenas de médicos que estamos falando. E o problema não é só de médicos. Eu não tenho problema de falar de médicos não! Eles são culpados também. O problema é que na Saúde há problemas em tudo. Tudo o que envolve saúde há problema.

Certo. O senhor já detectou os problemas, e agora, como resolver?

Eu vou fazer o seguinte: vou trocar os protagonistas, o que for necessário. O que não vai dar é o secretário dizer para mim que há um problema e que aquilo vai continuar. Eu vou trocar todos os protagonistas.

Governador voltou a afirmar que existe um cartel na saúde do Acre/Foto: ContilNet

Isso passaria também pelo secretário, o odontólogo Alysson Bestene?

Tudo! Tudo é possível. Vou ter reunião com o secretário, com os diretores e com a equipe técnica da Sesacre porque eu quero saber que história é essa. Quero saber porque eu não vou mais esperar. Temos aí o Pronto Socorro do Huerb pronto para ser entregue e você acha que eu vou entregar só a estrutura física?Não, quero entregar tudo funcionando. Estou cobrando o planejamento para entregar agora, no mês que vem. Vou cobrar. O Hospital de Traumatologia, o Into, eu vou cobrar para que daqui há quatro meses esteja pronto e vou mandar pagar tudo o que está atrasado da empresa para concluir e quero o hospital funcionando e também vamos concluir o de Brasileia porque queremos fazer uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) lá. O Ministério da Saúde ofereceu, do enfermeiro aos médicos para a gente e nos ajudar e por que até hoje a Sesacre não fez o papel dela?

Boa pergunta: aproveito para perguntar também: no início do seu Governo o senhor foi a Brasília e a São Paulo em busca de experiências de gestões capazes de solucionar os problemas de gestão na Saúde e ao que parece isso também não foi aplicado. Por que?

Está aí outra prova do que eu digo quando falo em cartel. Por que até hoje eu estou pedindo para a técnica da Sesacre, que é inclusive uma parente minha, o projeto para mandar isso para a Assembleia e já está há quase um mês que eu peço isso e não me entregam? O projeto é de uma parceria na parte de gestão para que a administração tenha o poder de comprar, abrindo um processo licitatório, com transparência, no modelo de gestão de Brasília, do Sara Kubistchek.

E como foi que o senhor chegou a este modelo de gestão?

Por incrível que pareça, não foi nenhum político, nem um técnico nem tampouco pela televisão. Eu, senador da República, o seu Sebastião (motorista) me disse: senador, o senhor precisa ver como está o Hospital de Base de Brasília. E comentou isso umas três vezes comigo. Uma dia, a cozinheira da minha casa me liga, à noite, dizendo que o filho havia sofrido um acidente e queria que eu intervisse como senador para dar um atendimento melhor para ele. Eu fiz isso. No dia seguinte, eu chego em casa para almoçar e ela me diz também: – o senhor precisa ver como está o atendimento no Hospital de Base. Aí, como eu já havia sido eleito governador, já na transição, eu disse: rapaz, eu vou ver que negócio é esse aí. Fui lá, sem broxe de senador, sem gravata, e me pus a andar pelo hospital, conversando com as pessoas. Todo mundo elogiando. Inclusive eu chamei o general que está lá administrando para vir para cá e ele não quis vir. Aí chamei os parlamentares para irem lá, o secretário e outras pessoas porque entendo que é necessário uma decisão no setor, que pode ser a salvação, uma espécie de Pró-Saúde II.

E como governador, o senhor está feliz como governador?

Muito feliz. Não tem um dia em que eu não acorde sem problemas, com coisas negativas, sem estresse. Mas quando vejo que as coisas começam a acontecer a felicidade toma conta de mim. Eu estou muito feliz porque não estou vendendo ilusão e não estou trabalhando em um outro planeta e fico feliz porque eu sei que as coisas vão acontecer. E aí, qual foi a conclusão que eu tive como parlamentar no Congresso – e eu tenho dito isso aos parlamentares novatos. O dinheiro é fácil conseguir. O difícil é o projeto, é o papel e o fazer.

Então, aquela história da reeleição está valendo?

Da minha? Sim… eu sou candidatíssimo à reeleição. Eu vou por acaso arrumar a casa todinha e depois entregar para outro? Vou nada… Sou candidatíssimo, a não ser que Deus não queira…

E candidato a prefeito de Rio Branco, o senhor já tem?

Eu vou ter candidato a prefeito de Rio Branco.

O senhor lançou o seu vice-governador (Wherles Rocha) como candidato mas ele já disse que não quer?

O que eu falei foi que, se ele quisesse ser, ele seria meu candidato. E não é porque eu queira me livrar dele não (rindo). É que o Rocha … e esse é outro bom assunto de se tocar…  – muitos apostavam numa briga entre eu e ele (“e aqui não há nenhum conchavo, não, tá?”). A realidade é que, se tem uma pessoa que não tem me dado dor de cabeça, e tem um sido um aliado de confiança, é ele. A responsabilidade que eu dei para ele (ser gestor do sistema de segurança pública), que não foi apenas o do bônus, porque ele tinha que dizer como iria resolver esse ônus, e desde que isso ficou claro ele tem me ajudado muito. Ele tem se colocado no lugar de vice-governador e não tem uma coisa que, quando ele está à frente e no exercício do governo, que ele não me ligue e tome uma única decisão sem me consultar. A gente tem esse diálogo e eu também tenho procurado a sempre discutir tudo com ele, trocando ideias para nos ajudar.

O senhor está contente com o seu novo líder na Assembleia?

Estou. Como também me alegrou muito o Gerlen Diniz como líder. Mas ele quis sair e o deputado Luis Tchê, com sua experiência e conhecimento, resolveu nos ajudar e isso me alegrou muito porque tivemos na Assembleia vitórias significativas e com certeza teremos outras. As coisas só estão começando.

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