Universidade Federal do Acre realiza pesquisas com vetores da doença de Chagas

A Ufac, por meio do Laboratório de Medicina Tropical (LabMedt), realiza pesquisas na área de doenças tropicais na Amazônia Ocidental. Coordenado pelo professor Dionatas Ulises de Oliveira Meneguetti, o laboratório é vinculado ao mestrado em Ciência da Saúde na Amazônia Ocidental e sua principal linha de pesquisa aborda os triatomíneos, insetos que atuam como vetores na transmissão da doença de Chagas, também conhecidos como barbeiros.

Professor Dionatas Ulises de Oliveira Meneguetti, coordenador do projeto

Meneguetti, que fundou o laboratório em 2015, conta que, graças a pesquisas desenvolvidas no LabMedt, o conhecimento em relação à diversidade de espécies de barbeiro no Estado do Acre aumentou em quase 200%. As pesquisas são realizadas com professores parceiros de universidades como a de São Paulo (USP) e a Estadual Paulista (Unesp) e com pesquisadores da Ufac no campus Floresta, em Cruzeiro do Sul.

primeiro caso autóctone da doença de Chagas no Acre, aquele causado por barbeiro originário da própria região, foi publicado em 1988; porém, a partir de então os estudos desenvolvidos nessa área foram quase que inexistentes no Estado. Até o ano de 2012 apenas três espécies de barbeiro eram conhecidas no Acre: ‘Rhodnius robustus’, ‘Rhodnius pictipes’ e ‘Panstrongylus geniculatus’; em 2013 foi descrita a quarta espécie, ‘Eratyrus mucronatus’.

Depois, todas as outras espécies descritas foram de estudos da equipe do LabMedt, chegando atualmente a um total de 11 espécies. As sete que foram pesquisas da equipe do LabMedt são ‘Rhodnius montenegrensis’, ‘Rhodnius stali’, ‘Panstrongylus megistus’, ‘Rhodnius neglectus’, ‘Triatoma sordida’, ‘Panstrongylus lignarius’ e ‘Panstrongylus rufotuberculatus’.

Ufac realiza pesquisas com vetores da doença de Chagas

Segundo Meneguetti, a diversidade de espécies de barbeiro encontradas no Acre deixa evidente a possibilidade de aumento da doença de Chagas. Ele relata que todos os insetos descritos foram naturalmente infectados pelo ‘Trypanosoma cruzi’, protozoário causador da doença de Chagas.

“A modificação do ambiente natural e o grande número de reservatórios com possibilidade de contaminação por tripanosomatídeos nos Estados apontam a necessidade da implementação de um sistema eficaz de vigilância epidemiológica e entomológica, a fim de monitorar a transmissão da enfermidade e aprimorar os estudos sobre esses vetores”, diz o professor.

O pesquisador acredita ainda que o número de espécies pode estar subestimado devido a diferentes características regionais e poucos estudos realizados nos Estados da região amazônica ocidental, que fazem fronteira com outros Estados do Brasil e países como Bolívia e Peru.

O LabMedt também possui outras pesquisas, concluídas e em andamento, voltadas a infecção dos barbeiros por tripanosomatídeos, em especial do ‘Trypanosoma cruzi’ e do ‘Trypanosoma rangeli’, outro parasita transmitido pelo barbeiro, causador da rangeliose humana.

As pesquisas realizadas no LabMedt contam com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, além da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Ufac e dos programas de mestrado em Ciência da Saúde na Amazônia Ocidental e Ciência, Inovação e Tecnologia na Amazônia.

Açaí e doença de Chagas

Sobre casos de contágio da doença de Chagas após consumo do açaí, o professor Dionatas Meneguetti explica que acontece transmissão por contaminação oral, ou seja, ingestão do alimento com pedaços e fezes do barbeiro infectado com o ‘Trypanosoma cruzi’. “O contágio pelo açaí se dá pela falta de higiene no processamento do fruto. Na maioria das vezes, o inseto, que pode estar alojado no cacho, é triturado junto com o açaí no momento do preparo da polpa.”

Para Meneguetti, uma das medidas para eliminar o protozoário da bebida é a pasteurização da polpa, processo de esterilização de alimentos (leite, queijo, iogurte, cerveja ou vinho) que consiste em expô-los a uma temperatura inferior a seu ponto de ebulição e submetê-los, em seguida, a resfriamento súbito, a fim de eliminar certos microrganismos nocivos.

Outra técnica eficiente é a utilizada no Pará, conhecida como branqueamento, que deve ser realizada mesmo com o açaí que será congelado. “Primeiro é preciso passar o açaí pela peneira para retirar a sujeira que até pode ser vista a olho nu. Depois ele passa por três lavagens e vai para o branqueamento, que consiste em mergulhar o açaí em solução com hipoclorito de sódio a uma temperatura de 80ºC, por cerca de dez segundos; então se enxagua várias vezes para retirar o cloro, resfria-se e só então o açaí é processado”, detalha.

A doença de Chagas também pode ser transmitida diretamente pela picada do barbeiro infectado com o ‘Trypanosoma cruzi’. A transmissão ocorre quando a pessoa coça o local da picada e as fezes eliminadas pelo barbeiro penetram pelo orifício que ali deixou. Também pode ocorrer por transfusão de sangue contaminado e durante a gravidez, da mãe para filho.

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