Apesar de ser considerado pequeno o fluxo de migrantes que atualmente chegam ao Acre, a Cáritas da Diocese de Rio Branco revela preocupações não somente devido às condições precárias em que ficam essas pessoas ao chegarem na cidade, mas pela existência de tráfico humano, segundo revelou ao ContiNet, a assessora da entidade, Aurinete Brasil.
A Cáritas é uma confederação de 162 organizações humanitárias da Igreja Católica que atua em mais de 200 países na promoção e atuação social de defesa dos direitos humanos, da segurança alimentar e do desenvolvimento.
A entidade registra que são inúmeras as pessoas que passam diariamente por Rio Branco, entrando no Brasil, principalmente pela cidade de Brasileia, na fronteira com a Bolívia.
A assessora Aurinete Brasil informou que na semana passada houve reunião com o Ministério Público Federal (MPF) para tratar desse assunto. “Em breve estaremos reunindo para discutir como melhor estabelecer os próximos passos.”, disse.
Indagada sobre se é uma suspeita a existência de casos de tráfico humano neste contexto da migração para o Acre, ela foi enfática. “Suspeita não. Ele Existe.”, afirmou e acrescentou: “esta é uma questão que precisa de um olhar mais sensível e criterioso. Dia desses tivemos um caso de uma criança de 3 – 4 anos na fronteira. Quem acompanhou o caso foi o Conselho Tutelar.”, informou.
Atualmente, é registrado, segundo ela, um fluxo migratório pequeno mas significante. “Para nós tem um significado chegar um grupo de 15 haitianos, de 5 colombianos e tem significado porque também passam venezuelanos que vão para as cidades vizinhas, principalmente Porto Maldonado, mas tem também senegaleses, alguns peruanos, alguns bolivianos e o fluxo está ficando intenso. Registramos uns dois franceses, mas a maioria é de venezuelanos e haitianos novamente.”, disse a assessora.
Em condições precárias, migrantes que chegam ficam na Rodoviária
A preocupação da entidade também é quanto à situação que essas pessoas ficam quando chegam. “Elas ficam na Rodoviária, à deriva, aguardando apoio dos que por ali passam. Não temos em nosso estado onde o migrante passar uma noite.”,
Dentre os principais problemas, Aurinete Brasil destacou que “a migração, quando forçada, é fruto de problemas econômicos ou políticos, em que a pessoa é obrigada a seguir para outro local. Sair de seu país sem ter clareza de destino é uma característica muito forte desse processo. É importante considerar os fatores que dificultam o estabelecimento desse migrante, tais como a língua, por isso a diversidade de formação em português. Outeo fator é no âmbito profissional, que há incompatibilidade dos saberes e aprendizagens do seu país para o nosso. O choque de cultura também é algo que pode ser considerado. ”, analisou.
Sobre o número de migrantes que já passaram pelo Acre, a estimativa chega a casa dos 43 mil, segundo os registros da Cáritas, mas esse número pode ser bem maior, de acordo com Aurinete Brasil, uma vez que em seus registros estão apenas os atendidos pela entidade, que tem se dedicado a fazer a acolhida e articular as demais entidades, instituições e órgãos públicos em torno da problemática.
“Acolher significa ouvir a situação daquele que chega, observar se precisa ou não de documentos e alimentação. O migrante quando chega em um local geralmente precisa de alimentação, um lugar para tomar banho e repousar. Depois cuidar da regulamentação dos documentos e encaminhamentos aos órgãos devidos. Para esse acolhimento no momento conta-se com a equipe da Rodoviária (RBTrans) que faz o primeiro diálogo e encaminha para a Dejudh [Departamento de Estado de Direitos Humanos], que faz um registro e direciona, se for preciso, à Polícia Federal.”, relatou ela.
Em relação ao que está sendo feito, Aurinete Brasil disse que encontra-se em fase de diálogo entre as instituições e órgãos públicos envolvidos a de definição de fluxos e procedimentos para esse atendimento. “No momento, o trabalho tem sido acolhimento pela Dejudh, organização com a Cáritas para alimentação e encaminhamento dos migrantes. Há necessidade urgente e imediata de uma sala de situação governamental para definir um fluxo para atendimento dessa população. Enquanto isso o migrante não tem onde pousar e fica na Rodoviária.”, concluiu.