Nick e Bobbi Ercoline eram um jovem casal acampado durante o Festival de Woodstock, em Bethel, no estado americano de Nova York, há 50 anos. Mas quando o fotógrafo Burk Uzzle registrou uma cena dos namorados juntos naquela manhã de domingo, enquanto estavam abraçados e enrolados em um edredom, em meio a milhares de pessoas também acampadas, eles involuntariamente se tornaram uma parte da história da cultura pop. Meses depois, em maio de 1970, aquela imagem seria estampada na capa do álbum triplo com 21 faixas gravadas durante o evento.
Meio século mais tarde, Nick e Bobbi ainda estão juntos e vivem perto da fazenda de Bethel Woods, nas montanhas de Catskills, onde aconteceu o festival de três dias, de 15 a 18 de agosto de 1969. Hoje aos 70 anos, Nick e Bobbi estão às voltas com um sem-número de pedidos de entrevistas que chegam do mundo inteiro. O engraçado é que eles nem sequer perceberam que estavam sendo fotografados naquele instante, logo após o casal despertar na encosta lameada e repleta de gente.
— Estava apenas levantando de manhã, dando um abraço na minha namorada — recorda Nick Ercoline, em entrevista à agência de notícias Reuters no local onde aquela cena foi imortalizada. — Honestamente, nem me lembro da foto sendo feita.
Festival em Bethel encarnou a contracultura e o movimento hippie
Bobbi, que estava usando grandes óculos de sol, disse que mal se lembra do momento, mas que quando olha a foto, agora, se sente calma.
— Sinto que é como se os pássaros acordassem pela manhã, e nós só estivéssemos meio que… percebendo isso. Estamos apenas acordando, procurando por uma boa xícara de café quente, que não havia nenhum — diz ela.
Anunciado na época como “Uma exposição aquariana: três dias de música e paz”, o Woodstock foi o maior festival da contracultura. Mais de 30 atrações se apresentaram naquele fim de semana chuvoso, entre elas os músicos Santana, Janis Joplin e Jimi Hendrix, além de bandas como Greateful Dead e The Who.
Organizadores estimavam que haveria algo em torno de 200 mil pessoas no festival, mas cerca de 450 mil espectadores apareceram, derrubando cercas e tornando o evento gratuito. Durante aqueles três dias, o clima pacato de Bethel foi tomado por longos congestionamentos e muita movimentação de pessoas. Faltou água e comida. Não havia condições de higiene ou de atendimento médico para tanta gente. A imprensa se referia ao evento como “festival das drogas”, destacando problemas como as duas pessoas mortas: uma por overdose de drogas e outra atropelada por um trator enquanto dormia em seu saco de dormir, no gramado.
Mesmo com os problemas, o Woodstock marcou pra sempre a cultura pop, tornado-se tema de documentários, músicas, poemas e livros.
Nick e Bobbi começaram a namorar três meses antes do festival e decidiram ir ao Woodstock depois de ouvirem sobre o evento no rádio, enquanto Nick estava cuidando de um bar em Middleton, Nova York, a cerca de 56km de Bethel.
— A água era intermitente. A comida estava esgotada na noite de sexta-feira. O tempo estava absolutamente horrível — disse Bobbi. — E 450 mil pessoas se reuniram aqui e não houve um incidente de violência. Isso é bastante surpreendente. O mundo precisa de mais Woodstock.
Nos anos 60, LSD virou febre no movimento hippie
Eles só perceberam que eram o casal da capa do álbum oficial de Woodstock quando ouviram o LP junto com alguns amigos.
— Não podíamos acreditar. Estávamos apenas balançando a cabeça. A essa altura já estávamos juntos havia quase um ano — disse Nick.
Nick e Bobbi se casaram em agosto de 1971 e tiveram dois filhos. Bobbi trabalhou como enfermeira em uma escola e Nick se tornou um carpinteiro antes de se aposentar. Eles são agora guias voluntários no museu de Bethel Woods, parte do Centro de Artes de Bethel Woods, que é dono do local onde aconteceu o festival de Woodstock, a cerca de 160 km da cidade de Nova York.