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“Não é festa, senhor intendente, é revolução!”: Há 117 anos tinha início a Revolução Acreana

Por NANY DAMASCENO, DO CONTILNET

Há exatos 117 anos, tinha início na região sudoeste da Amazônia brasileira, o conflito violento que culminou com a anexação do Acre, até então pertencente à Bolívia, ao Brasil. Esse conflito ficou conhecido como Revolução Acreana. Seu início se deu na madrugada de 6 de agosto do ano de 1902, quando um grupo de homens denominados de revolucionários, liderados pelo agrimensor Plácido de Castro, bateu à porta da Intendência Boliviana, instalada na cidade de Xapuri.

Naquela manhã, dia da independência da Bolívia, segundo consta nos relatos históricos, ao bater na porta da Intendência, Castro ouve do outro lado a uma voz que disse: “És temprano para la fiesta”. Imediatamente, abrindo violentamente a porta, responde: “Não é festa, senhor intendente, é revolução!”. E, então, feito o primeiro disparo que dá início ao conflito que terminou em janeiro do ano seguinte.

A Revolução Acreana teve início no dia 6 de Agosto/Foto: reprodução

O historiador Marcos Vinícius Neves lembra que a Acre de pré-revolução já vivia um conflito armado entre brasileiros e bolivianos desde o ano de 1899, desde a chegada das autoridades bolivianas ao local com o ministro dom José Paravicini, que instalou uma aduana e um povoado denominado Puerto Alonso, em terras do Seringal Caquetá. A intendência cobrava altos impostos sobre a borracha naquela região do Alto Acre.

Balsa transportando borracha no Rio Acre/Foto: IBGE

“Isso ocasionou vários movimentos contra esse governo boliviano que se instalava no Acre. O primeiro movimento de insurreição se deu no dia 1 de maio de 1899, comandada por José Carvalho”, relata Marcos Vinícius. “Em seguida, vem a proclamação da República do Acre, em 14 de julho de 1899, por Luíz de Galvez Ariaz, e, mais tarde, a Expedição dos Poetas, em dezembro de 1900”, enumera o historiador.

De acordo com Marcos Vinícius, mesmo com esses conflitos, o processo de retomada do território acreano por parte dos bolivianos teve sequência, agora com o apoio do governo brasileiro, que apoiava a intensão da Bolívia.

A situação se agravou depois da assinatura de um contrato de arrendamento do Acre com um sindicato de capitalistas americanos e ingleses para exploração da borracha, denominado Bolivian Syndicate, em julho de 1901. “A organização da resistência acreana engendrou mais um movimento de rebelião contra essa presença boliviana na região. O movimento deveria começar em 14 de julho de 1902”, explica. “Segundo as fontes da época, as armas que eram esperadas para chegar para esse novo movimento, não chegaram em 14 de julho. Por conta disso, a outra data estratégica e simbólica escolhida pelo comando revolucionário foi o 6 de agosto por ser o feriado nacional da Bolívia e uma data em que, provavelmente, eles [os militares bolivianos] estariam desmobilizados e sem esperar nenhum movimento brasileiro”, complementa.

Rua 17 de Novembro, bairro Seis de Agosto/Foto: reprodução

O Tratado de Petrópolis

Deflagrado o conflito, relata o historiador, os combates se espalham por quase todas as regiões ao longo da calha do Rio Acre. Somente com a troca do governo brasileiro, com a saída do presidente Campos Sales para a ascensão do presidente Rodrigues Alves, é surge uma mudança na posição oficial do Brasil em relação ao território do Acre.

“O governo se viu obrigado pela opinião pública nacional a negociar a questão do Acre com a Bolívia, o que deu origem ao início das atividades do Barão do Rio Branco e ás negociações que levaram à assinatura do Tratado de Petrópolis, em novembro de 1903 com a Bolívia, e, depois, do Tratado do Rio de Janeiro, em julho de 1909, com o Peru.”

ratado de Petrópolis foi assinado no dia 17 de novembro de 1903 (Foto: Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação Elias Mansour)

Marcos Vinicius classifica a Guerra do Acre com um episódio muito importante para a configuração do como território brasileiro e não como território boliviano e peruano como definiam os tratados internacionais e limites até então.

“Há muitas controvérsias sobre a importância da Revolução Acreana como evento definidor dessa identidade brasileira do Acre, mas o fato é que essa definição foi se dando ao longo das décadas, especialmente nas décadas de crise dos anos de 1920/30 e, depois, anos de 1950/60, que o Acre viveu crises financeiras muito graves por conta da decadência da economia da borracha. Nesses momentos, a sociedade acreana se apoiou nesses eventos, nessa história de conquista e de luta pelo Acre, para manter o desejo de continuar buscando o desenvolvimento da região.”

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