Além da imagem: “É importante não mentir para quem se inspira em você”

Um dias desses, rolando o feed, me deparei com uma matéria sobre jovens que postam fotos mentirosas para deixar seguidores com inveja. Também li uma notícia sobre uma digital influencer que simulou o próprio acidente para fazer publi de uma marca de água mineral. E, por “mágica” do algoritmo, vários assuntos relacionados a isso vieram à tona na timeline. Alguns produtores de conteúdo, inclusive, pegaram o gancho deste assunto para ir até alguns pontos turísticos mundialmente conhecidos revelar os truques de fotografia utilizados nestes lugares, que trazem uma sensação de grandiosidade. Sim, imagem manipulada. Paraíso fake.

Outro caso curioso foi de uma youtuber vegana flagrada comendo peixe que revoltou seus seguidores. Vamos entender aqui que a questão não é o fato de comer ou não alimentos de origem animal, mas sim de construir uma imagem em cima de uma causa, estabelecer uma conexão fiel com um público, e defender um discurso que não condiz com a realidade.

No caso da Loja Três, por exemplo, uma marca que ganhou destaque por prezar pela diversidade e respeito pela individualidade das pessoas, denunciada por uma quantidade significativa de funcionários por práticas racistas, gordofóbicas e por assédio moral. Ou seja, um posicionamento que não passava de mera fachada para atrair uma clientela que se importa, verdadeiramente, de onde vem o produto que consome.

Enquanto isso, temos uma grande parte da floresta amazônica sendo destruída. Fruto da ganância, da ignorância, da falta de respeito com os recursos naturais. E tem multinacional lançando hambúrguer “vegano” como se fosse super ecológico, sem mencionar que um dos maiores responsáveis pela destruição das matas, além do pasto de boi, é o plantio da soja.

Marcas utilizando de narrativas como sustentabilidade e responsabilidade social no intuito de vender uma imagem de preocupação com o meio ambiente, com seus funcionários, com a diversidade, com causas sociais. Até onde podemos confiar na veracidade e coerência entre a prática e o discurso do que vemos nas mídias? Até onde é possível criar e sustentar uma imagem distorcida em nome do status?

Ontem [05.09] foi o Dia da Amazônia, e como mulheres que vivem e se criaram aqui, não podemos fechar os olhos para o que vem acontecendo. Amamos falar sobre moda, mas temos consciência também de que o impacto ambiental que ela causa é enorme. Não se engane, por trás de uma blusinha baratinha existe toda uma cadeia de produção. Não adianta pensar no estilo apenas enquanto imagem, enquanto alimento para o ego. Estilo tem a ver com escolhas, com posicionamentos e significados. É importante falar sobre isso. Quem faz suas roupas? Do que é composto o material delas? Quem produz o alimento que você ingere? É importante pensar na origem das coisas, e no símbolo que carregam também. É importante não mentir para quem se inspira em você, e, principalmente, é importante não mentir pra si mesmo.

Sobre as autoras

Márcia Moreira, jornalista, assessora de comunicação, apresentadora de rádio. Ágatha Lim, multi-artista, mãe, criadora. Em comum, produtoras de conteúdo para mídias sociais (@itsamazinglab), feministas, entusiastas da moda, amantes de cultura pop e millennials.

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