A fluminense Suzane Carvalho faz de tudo um pouco: aos 55 anos de idade, é motociclista, jornalista, instrutora de pilotagem, atriz e é campeã brasileira na categoria de motos de alto rendimento. Foi na condição de motociclista e instrutora de pilotagem que ela passou pelo Acre, pela segunda vez, dirigindo um grupo de mulheres pilotos retornando de uma viagem de dez dias até os Andes, no Peru.
O grupo de seis mulheres passou por Rio Branco vindo de Porto Velho pela BR-364, pegou a BR-317 até Brasiléia e dali seguiu pela Estrada do Pacífico até Assis Brasil, cruzou a fronteira para o Peru rumo a Porto Maldonado e de lá chegou a Cuzco, Machu Pichu, Puno e Chivay, onde está a nascente do Amazonas, o maior rio do mundo em extensão. “Foi uma viagem emocionante”, disse Suzane, acostuma às grandes viagens e que já roldou literalmente quase todo o mundo sobre duas rodas.
Aliás, as duas rodas fazem a história desta mulher que casou, descasou e não tem filhos, “por pura opção”, já que, segundo ela, a atividade não atrapalharia em nada. O exemplo são as mulheres de seu grupo, algumas delas com maridos e filhos e que mesmo assim a acompanham na aventura de andar o mundo sobre as duas rodas, o mundo de Suzane. “Minha história com as duas rodas começou relativamente tarde. Eu era aficionada por bicicleta mas minha família não tinha dinheiro para comprar uma. Só por volta dos 10 anos é que comecei a andar, em uma emprestada. Até que um dia minha mãe ganhou uma em um programa de TV, e foi a minha felicidade! Ela veio desmontada e sem um dos pedais, e desde então, comecei já a fazer e aprender mecânica. Esta bicicleta sem um dos pedais, me levava a todos os lugares: escola, cursos, futebol, jazz, e foi com ela que ganhei minhas primeiras corridas, que apostava com os meninos da rua”, conta.
“Aos 12 comecei a andar em uma turma de motociclistas de onde eu morava, em Copacabana, no Rio de Janeiro, e quis comprar a minha própria moto. Minha mãe não deixava e disse que se eu comprasse, ela mandaria roubar. Então o jeito era andar na garupa mesmo, e dar umas poucas voltas pilotando, em motos emprestadas. Com 19 anos saí de casa e decidi comprar minha moto, mas meu marido também reclamava. Aos 21 me separei do marido e pude finalmente adquirir minha primeira motocicleta, de “quem” nunca me separei nem pretendo separar. De lá para cá, foram mais de 2 milhões de quilômetros rodados em cima de uma moto. Eu não me entendo sem moto e utilizo motocicleta para tudo: para a mobilidade do dia a dia, para o lazer, já que viajo muito de moto, para o meu trabalho como piloto de testes e jornalista e para o meu esporte, pois também corro de moto”, revelou.
Suzane Carvalho conta ainda que a cada destino alcançado, como agora, vindo do Peru, sente a mesma sensação de quando cruza a bandeirada final em uma corrida: a sensação de conquista e vitória. “E para tal, é preciso andar com consciência e respeitando os limites das vias, dos veículos e o nosso. Além de jamais ser displicente com a manutenção do veículo”, ensina a instrutora.
Uma de suas últimas aventuras foi percorrer sozinha quase 5.000 km em uma motocicleta Honda NC 700X. Ela saiu de Manaus no dia 09 de fevereiro deste ano em direção ao Mar do Caribe e passou por florestas, planícies, praias e cachoeiras, e retornou a Manaus no dia 20 daquele mês.
Nas passagens pelas rodovias do Acre de ida e volta ao Peru, ela não está sozinha: a acompanha um grupo de pelo menos ouras cinco mulheres e um homem, o empresário Fernando Sagino, de 37 anos, dono de uma empresa de turismo em Porto Velho (RO), que funciona como guia das motociclistas. Além o guia, o grupo de mulheres conta também com um carro de apoio, que viaja atrás do grupo carregando pneus, peças, ferramentas, alguma comida e, claro, material de primeiros-socorros. Além de guiar as aventureiras numa viagem que ele já fez em mais de uma centena de vezes, Sagino aluga as motos pilotadas pelas mulheres. São máquinas potentes, de até 1.200 cilindradas, como a que foi pilotada nesta viagem pela tabeliã paranaense Dulcineia Godoy, de 40 anos de idade, casada e mãe de duas filhas de 2 e 8 anos de idade. Ela é piloto há dez anos e é incentivada inclusive pelo marido, Vinicius Godoy, a se manter na aventura. “Nesta viagem, senti saudades das minhas filhas, do meu marido e da minha casa. Mas a aventura valeu à pena”, contou.
Outra integrante do grupo, a pecuarista Valmiria Borges, e 30 anos, está na sua segunda viagem ao Peru. Ela defende que todas as pessoas, homens e mulheres, deveriam fazer na vida pelo uma vez uma viagem como esta. Com destino ao Peru, um país admirável, segundo ela. Uma das coisas no Peru que mais marcaram a viajante, segundo ela, é o fato de os peruanos serem grandes plantadores e agricultores que não podem utilizar-se de máquinas e equipamentos para cultivar a terra. “O relevo do terreno deles não permitem o uso de máquinas para mexer a terra, mas, mesmo assim, eles são grandes agricultores. Isso é fascinante”, disse.