A ligação rodoviária do Acre com o Peru, através da região do Vale do Juruá, é uma obra de aparência gigantesca mas muito fácil de ser realizada. Dos cerca de 180 quilômetros que seriam necessários para ligar as cidades de Cruzeiro do Sul, no Acre-Brasil, à cidade de Pucallpa, no Peru, pelo menos 70 já existem e outros 25, a partir do município de Rodrigues Alves, já têm até o que os mateiros e outras pessoas que utilizam o caminho, o chamado “picadão’.
A revelação foi feita pelo deputado estadual Luiz Gonzaga (PSDB), primeiro-secretário da Assembleia Legislativa e um dos articuladores para que as ideias sobre a efetiva ligação entre Brasil e Peru, passando pela região do Juruá, “saia do papel”. De posse de mapas e de relatórios sobre os impactos ambientais, o deputado fez uma espécie de prestação de contas de um seminário de dois dias que ele coordenou em Cruzeiro do Sul durante a realização da chamada Expojuruá, quando reuniu autoridades públicas, incluindo o governador Gladson Cameli, além de empresários e outros interessados. O deputado disse que o sonho dos antepassados de ver concretizada a ligação do Acre com o Peru pelo Juruá é também um sonho da atual geração e isso está muito fácil de ser feito.
“Estamos a menos de 200 quilômetros de realizarmos o sonho dos nossos antepassados, que agora também é o nosso sonho”, disse o deputado. A estrada seguiria o atual trajeto e, em Rodrigues Alves, teria um desvio passando pela localidade conhecida como “Boqueirão da Esperança”, na Serra do Divisor. “A estrada, na verdade, já existe em mais de 50 por cento. O que falta é o Brasil fazer sua parte, algo em torno de 70 quilômetros a partir de Rodrigues Alves”, apontou.
De acordo com os números apontados pelo deputado, a distância atual de Cruzeiro do Sul com o Peru, através da Estrada do Pacífico, no Alto Acre, é de 3.038 km. Com a nova estrada, pelo Juruá, a distância seria reduzida em aproximadamente 1000 km – um terço da distância. “A rodovia pelo Juruá seria boa até para Rio Branco, que diminuiria o acesso ao Peru em pelo menos 2404km”, disse o deputado.
De acordo com Luiz Gonzaga, o principal produto de exportação do Acre hoje é a madeira, que para chegar até a Ásia precisa ir até Porto Velho, em Rondônia, e de lá ser embarcada em balsas para chegar ao porto em Belém, no Pará, para poder ser encaminhada ao continente asiático. “O couro, também para chegar à Ásia, precisa ser encaminhado ao Sudeste do País, para de lá poder ser embarcado ao continente”, disse. “A princípio, com essa estrada, os produtos de todo o Brasil, em especial da região Norte, teriam uma rota de escoamento com a redução média de mil quilômetros para Lima e também para todos os países que estão acima no mapa, como Colômbia, Equador”, apontou.
De acordo com o deputado, o governador Gledson Cameli, que estava em Cruzeiro do Sul, se mostrou surpreso com os dados e disse que em seu próximo encontro com o presidente Jair Bolsonaro e outras autoridades federais, vai reafirmar o interesse do governo do Acre em levar o projeto adiante. A propósito, segundo Luiz Gonzaga, a estrada entre Cruzeiro do Sul e Palpa fará parte da pauta das reuniões que devem ocorrer no Acre, ainda no mês de setembro, entre Bolsonaro e o presidente do Peru, Martin Viçara. O encontro deverá ocorrer em Rio Branco.
O deputado também falou das inúmeras vantagens que a ligação rodoviária traria ao desenvolvimento do Acre. Uma delas é que permitiria que produtos da pauta de exportação do país, como carne bovina, suína e de frango, que são exportadas a partir dos portos de Santos, em São Paulo, ou de Paranaguá, no Paraná, possa passar pelo Acre. A distância seria diminuída em pelo menos dois mil quilômetros. “Além disso, poderíamos ter até o sonho de chegarmos aos Estados Unidos de carro, através da América Central”, afirmou.