20 de abril de 2024

Dia da Amazônia em meio a cenário de queimadas

Considerada o “pulmão do mundo”, a Amazônia tem passado por maus bocados. Tida como um dos patrimônios naturais mais valiosos de toda a humanidade e a maior reserva natural do planeta, são cerca cinco milhões e meio de quilômetros quadrados só de florestas. E para homenagear a região, é celebrado nesta quinta-feira (5) o Dia da Amazônia. A data foi escolhida em referência ao dia 5 de setembro de 1850, quando D. Pedro II decretou a criação da Província do Amazonas. Apesar da história por trás da data, não há muito o que se comemorar deste lado dos trópicos, a região passa por uma das piores queimadas dos últimos anos.

Área de floresta Amazônica no Acre. Os pontos de desmatamento são facilmente identificáveis por imagens de satélite ao longo das estradas/Foto: Marcio Pimenta

A data é um convite para as pessoas refletirem e se preocuparem com a floresta, sobretudo em um cenário onde o desmatamento, as queimadas e o avanço da exploração agrícola ameaçam a Amazônia e seus ecossistemas. De janeiro até a última terça-feira (3) foram registrados 67.029 focos de queimadas em toda a Amazônia Legal, que engloba os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do estado do Maranhão. A liderança das queimadas é do estado do Mato Grosso, 17.396 queimadas, o que representa 26% de todo o volume de queimadas da região. Já o Acre, é o 8º no ranking, com com 3.816 focos de queimadas, 5,7% do volume de queimadas na região. Os números são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Não só as queimadas e o desmatamento preocupam nessa época. A estiagem e a seca dos rios também são problemas que é preciso lidar em pleno Dia da Amazônia. A Unidade de Situação de Monitoramento Hidrometeorológico do Governo do Acre aponta que a continuidade do fenômeno El Niño deve trazer calor e deixar as chuvas abaixo da média para o período. Com a falta de chuvas, os rios do estado estão com níveis cada vez mais baixos, e de acordo com as cotas de estiagens, Assis Brasil, Brasileia, Capixaba, Rio Branco, Rio Rola e Espalha encontram-se em estado de Alerta Máximo.

Em meio a toda essa problemática estão os povos indígenas, primeiros habitantes da Amazônia, que prometem uma grande mobilização nesta sexta (6) em defesa da Amazônia. Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) diz que “para nós, guardiães das florestas, será um dia de luta, para lembrar que é preciso manter a atenção e a mobilização pela vida da nossa grande floresta e logo, pelas nossas vidas” e que “é preciso que providências sejam tomadas em relação ao crime contra humanidade que vem sendo cometido através das queimadas e do grave desmatamento da Amazônia. Que o que foi queimado, seja reflorestado. Nós não temos plano B, o momento é grave e urgente. O Estado brasileiro precisa assumir a sua responsabilidade no que se refere às políticas ambientais”, detalha o documento.

No Acre, uma mobilização também está programada para ocorrer neste Dia da Amazônia, é o “Empate pela Amazônia”, que está programada para começar às 16h, em frente ao Palácio Rio Branco, no Centro de Rio Branco. O movimento é organizado pelo Comitê Chico Mendes. O grupo tem usado as redes sociais para convocar a população para o ato “em defesa da florestania, da mata, e da nossa seguridade de vida”. Além de protestar contra as queimadas, os manifestantes também são contra o “desmonte de políticas públicas ambientais”.

Consciência e educação ambiental

Na linha de frente no combate às queimadas no estado, o major do Corpo de Bombeiros, Cláudio Falcão, acredita que a data seja o momento ideal para a sociedade refletir sobre o que tem feito para o meio ambiente e para a Amazônia. “O Dia da Amazônia chegou e infelizmente, neste ano, a Amazônia está pedindo socorro. Todos os estados que compõe a Amazônia Legal também têm passado por uma situação difícil, especialmente em relação às queimadas, tantos as urbanas quanto as rurais. Então nós esperamos que daqui pra frente esse cenário mude. E só vai mudar a partir do momento que todos nós, a sociedade civil organizada, tenhamos a consciência de que nós somos o meio ambiente e a partir do momento que qualquer pessoa agride o meio ambiente, está agredindo a si próprio. É importante que nesse dia nós façamos uma reflexão do que estamos fazendo com o meio ambiente, da maneira que nós estamos tratando a natureza nos últimos anos e ela tem dado uma resposta dizendo que tá sendo agredida. Essa questão também se reflete nos rios e igarapés, que estão poluídos. O Corpo de Bombeiros já fez diversas limpezas nos igarapés e nos rios aqui de Rio Branco e no interior do estado, em parceria com outras secretarias, buscando a revitalização desses rios. Mas pra se ter uma ideia, fizemos uma limpeza no Igarapé São Francisco e retiramos duas toneladas de lixo em um único dia, e no outro dia já tinha quase uma tonelada de volta, a população ainda não tem a consciência ecológica que precisa ter”, disse.

Mas além das atividades cotidianas desenvolvidas pelo Corpo de Bombeiros, a corporação também atua de forma preventiva e educativa. “O Corpo de Bombeiros faz constantes campanhas educativas, informando do risco de colocar fogo no meio ambiente, do cuidado com os animais. Durante o intervalo de um ano nós recolhemos mais de 2.000 animais, levando eles de volta pro seu habitat natural ou os deixamos aos cuidados de veterinários. Além disso, o Corpo de Bombeiros está envolvido diretamente com a preservação da flora, junto com os alunos do Colégio Milita fazendo o replantio de árvores às margens dos rios, fazendo coleta de lixo, pra a partir daí eles terem uma nova expectativa e uma educação melhor em relação ao meio ambiente. Essas ações que aparentemente podem até ser pequenas, tem grande importância na vida de cada um de nós. A partir do momento que nós conscientizamos alguém, é uma pessoa a menos para agredir o meio ambiente. A expectativa é que nós possamos comemorar, mesmo na situação que passamos agora, o Dia da Amazônia, e que no ano que vem nós possamos comemorar mais tranquilos o dia 5 de setembro. Essa é a nossa expectativa e estamos trabalhando para que isso aconteça”, concluiu o major e porta-voz do Corpo de Bombeiros do Acre.

Ações governamentais

Eleito com discurso de que iria priorizar o agronegócio, Gladson Cameli foi na contramão da cartilha ambientalista. No fim de maio, o governador chegou a falar em um evento com produtores rurais no município de Sena Madureira que eles não pagassem as multas ambientais aplicadas pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac). Em contraponto, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) tem desenvolvido atividades a favor da Amazônia. Nesta quinta (6) a Sema fará ações de educação ambiental nos municípios de Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Sena Madureira, Feijó e Brasileia. Haverá plantio e distribuição de mudas florestais e frutíferas, além de palestras sobre monitoramento de queimadas e sobre o Programa de Regularização Ambiental (PRA).

A Secretaria informou ainda que a programação em alusão ao Dia da Amazônia teve início com a publicação da Consulta Pública do Plano Anual de Outorga Florestal (PAOF) do Estado do Acre, que está disponível no site do governo. Nos fim do mês passado a Sema realizou um curso de monitoramento ambiental para os técnicos da Secretaria de Meio Ambiente de Rio Branco (Semeia), onde os técnicos do Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental explicaram como analisar e utilizar os dados emitidos diariamente pela Sala de Situação, como os boletins do tempo, relatórios hidrometeorológico e de queimadas para que após a capacitação, os técnicos da Semeia possam elaborar os seus próprios relatórios. Também no fim do mês, mas em Cruzeiro do Sul, foi realizada uma atividade capacitação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para técnicos de várias instituições estaduais, municipais e federais da região do Juruá.

Já no dia 3 de setembro foi realizada uma palestra sobre prevenção às queimadas no Colégio Militar Estadual Tiradentes, em Rio Branco. E neste dia 5, haverá plantio simbólico e distribuição de mudas frutíferas e florestais na escola. A divisão de Recursos Hídricos da Sema também está em campo realizando o monitoramento da qualidade da água nos municípios de Brasileia, Assis Brasil, Xapuri, Jordão e Santa Rosa do Purus. A equipe da Divisão de Políticas Ambientais e Gestão Territorial – DPAGT também está em campo realizando oficinas e o monitoramento da gestão territorial do Acre enquanto a Divisão de Áreas Protegidas e Biodiversidade – DAPBIO, atua nas unidades de conservação. Segundo a Sema, todos os gestores estão em campo para colaborar com o processo de sensibilização das comunidades com relação às queimadas.

Isarael Milani, secretário da pasta,  diz que “temos o grande desafio de preservar a Amazônia e trazer desenvolvimento para os homens e mulheres que aqui vivem. O Dia da Amazônia nos remete ao valor da nossa região, da riqueza natural que possuímos, da biodiversidade e do nosso povo”.

Imagens

O fotógrafo Diego Gurgel divulgou em pleno Dia da Amazônia um ensaio de tirar o fôlego. As imagens são de uma parte ainda pouco explorada da Amazônia, a Serra do Divisor, no município de Mâncio Lima, na fronteira com o Peru.

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