Sena Madureira ainda vivia a ressaca dos dias de festas relativas às comemorações dos seus 67 anos de fundação, celebrados três dias antes. Aquele 28 de setembro de 1971 havia amanhecido com a beleza natural das manhãs de verão amazônico, com o sol iluminando o verde da floresta que circundava a pacata cidade banhada de rios de águas barrentas, às vezes negras ou claras, pelas quais viajam a esperança da gente do lugar. No entanto, antes do meio dia, todo aquele cenário belo e bucólico seria interrompido e pelo maior acidente aéreo da historia da cidade e um dos piores da aviação nacional, com 33 mortos, cuja tragédia está completando 48 anos neste sábado (28), dia em que também é celebrado o aniversário de Cruzeiro do Sul, cidade acreana que teve o maior número de mortos – pelo menos 14 pessoas.
Entre os mortos, passageiros e toda a tripulação, estavam comerciantes, empresários, e funcionários públicos de vários municípios. Estava a bordo também o então o bispo da Diocese de Rio Branco, o italiano Dom Giocondo Maria Grotti, que havia ido a Sena Madureira celebrar a missa pelo aniversário da cidade. O maior número de mortos era da cidade de Cruzeiro do Sul, 14 comerciantes que viajavam juntos para fazer compras e tinham como destino a cidade de São Paulo. O centro da segunda maior cidade do Acre velou seus 14 cidadãos ao ar livre, sob a sombra de duas frondosas mangueiras nas imediações da Catedral Nossa Senhora da Gloria, que foram derrubadas e cederam lugar a prédios que hoje sufocam a Catedral.
“Nunca esqueci a imagem daquele velório coletivo”, diz, hoje, o deputado estadual Edvaldo Magalhães (PC do B), aos 54 anos de idade, um dos três filhos de uma das vítimas daquele grupo de comerciantes de Cruzeiro do Sul, Osvaldo Dilson Mesquita de Magalhães, então com 28 anos de idade. O deputado se recorda que, aos 6 anos de idade, vivendo as emoções de criança com os festejos de mais um aniversário de Cruzeiro do Sul, se dirigia com sua mãe, Maria Soares Pio, conhecida como “Professora Mariquinha”, para um campo de futebol, nas imediações de casa. “De repente, comecei a perceber que nossa família era observada por todos os vizinhos e conhecidos, que pareciam admirados conosco. É que eles souberam da tragédia antes de nós. A dor daquele instante é indescritível”, disse o deputado.
O avião era um DC3, da empresa Cruzeiro do Sul, que viajava com destino a Rio Branco, após ter passado por Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijo. No dia anterior, em Tarauacá, o avião sofrera problemas não o motor, obrigando o seu comandante a permanecer no município enquanto a avaria fosse sanada. No dia seguinte, com o motor aparentemente consertado, o avião decolou para Feijó e de lá para Sena Madureira, onde deixou alguns passageiros e recebeu outros a bordo, incluindo o bispo. Minutos após decolar, perdeu forças no motor, bateu numa árvore e caiu num matagal da comunidade como Boca do Caeté. Espatifou-se no chão, com grande explosão. Ninguém sobreviveu: 33 mortos, todos carbonizados.
No local da queda, 48 anos depois da tragédia, alguns destroços do avião ainda podem ser encontrados. A professora Humbelina da Conceição Bezerra, moradora da cidade, tinha 12 anos de idade na época da tragédia. “Lembro-me que, após a queda do avião, corri em direção ao local, mas não era possível aproximação porque a fumaça era muito forte”, disse.
Já o funcionário público Antônio Furtado, ex-presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Sena Madureira, tinha 17 anos quando a tragédia aconteceu. Ele estava a caminho da escola na companhia do irmão quando avistaram a tragédia e correram pra lá. “Ao chegarmos lá não deu pra se aproximar porque o fogo estava com quase dois metros de altura”, disse,. Mesmo depois de passados 47 anos, a tragédia é lembrada com frequência pela população. Segundo informações, muitos dos passageiros tinham vindo a Sena Madureira pela BR-364, ou seja, via terrestre, mas resolveram retornar de avião por conta da época chuvosa, que tornava ruim a trafegabilidade no trecho.