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Texto sobre peculiaridades do Acre, escrito por mineiro, viraliza nas redes sociais

Por THIAGO CABRAL, DO CONTILNET

Um texto sobre o Acre, esccrito pelo arquiteto mineiro Eduardo Affonso viralizou nas redes sociais. No artigo, Affonso pontua oito motivos para explicar porque considera o Acre um mistério.

A publicação foi compartilhada no Facebook até pelo ex-senador petista Jorge Viana, apesar de um trecho do texto dizer que “só escapamos da possibilidade de ter um presidente acreano em 2002 e 2006. Perceberam do que o Acre teria nos livrado?”, citando as duas eleições em que o ex-presidente Lula saiu vitorioso.

Leia o texto na íntegra:

O Acre é um mistério.
Por vários motivos.

1.

Ninguém jamais passou pelo Acre.
Ou você vai ao Acre ou não vai.
O Acre não é passagem: é destino.

2.

O Acre tem suas idiossincrasias.
Uma delas é não aceitar a reforma ortográfica.
Não é o primeiro estado a fazer isso: segue o exemplo da Bahia, que se recusou a virar Baía quando o Piauhy, mais resignado, topou ser Piauí.
Brasileiro nascido no Acre, pelas normas vigentes, é acriano.
Acriano nascido no Acre é acreano mesmo.
Há muito os açoreanos aceitaram ser açorianos, mas a Academia Acreana de Letras bateu pé e garantiu que a população será acreana com “e” até morrer, digam o que disserem os lexicógrafos.
Se for fazer concurso público por lá, lembre-se disso na prova de português.
Duvido que eles abram mão dessa pegadinha.

3.

O Acre foi por 3 vezes uma república independente.
É o único estado que realmente pertence ao país, com escritura passada em cartório e tudo, porque foi comprado da Bolívia.
E não custou um cavalo, como diz a lenda, mas uma boa grana.
Sem contar que quase foi arrendado por um consórcio de capitalistas ingleses e americanos.
Por pouco, o Acre não estaria de malas prontas para o Brexit. Por pouco, o Trump não ia querer fazer um muro aqui também.

4.

Quem for ao dicionário procurando o significado de “acre” vai encontrar: ácido, afiado, agudo, áspero, avinagrado, azedo, cortante, mordaz, picante, queimante, sarcástico, ríspido, rude.
Nada a ver.
Acre é uma corruptela de “Aquiri”, que significa “rio dos jacarés” na língua dos apurinãs, que originalmente habitavam a região.
Mas, pensando bem, jacarés costumam ser ásperos ao toque, ríspidos no trato, ter dentes afiados e cortantes, algo rudes no convívio social, ter temperamento mordaz, lágrimas azedas e (repare bem) um sorriso sarcástico.
Os portugueses podiam ser ruins na fonética dos apurinãs, porém de psicologia de jacaré eles entendiam.

5.

Há 52 paulistas para cada acreano.
E quando você precisa de um João Donato, vai buscar onde? No Acre.
Foi de lá, da Amazônia, no sul da América, que veio a Glória Perez para nos ensinar o caminho dos índios e das índias (e eu prometo – com o coração partido ao tomar essa decisão – que não vou cometer o pecado capital de buscar mencionar que clones têm dupla identidade, para não alugar a paciência de ninguém ou criar uma barriga neste texto).
Mas quando você tiver um desejo, daqueles de corpo e alma, tipo “explode, coração!” e nem o santo guerreiro Jorge te salvar do canto da sereia dessa força do querer, onde é que vai achar alguém que traduza esse seu furacão e o da sua diarista? No Acre.

6.

Imagine se um garoto de Roraima ia encher o quarto de mensagens criptografadas e abduzir a si mesmo? Se um bacuri do Amapá ia ensinar como ser gênio com pouco sono e nada de sexo? Se um curumim de Rondônia ia escrever um besticéler sobre a teoria da absorção do conhecimento, cheio de “não obstante”, “antemão”, “entrementes”, “outrossim”, “amiúde”? Quem mais faria isso senão um… menino do Acre?

7.

Minas tem fama de ser chocadeira de presidentes (7 eclodiram lá – o Itamar não entra na conta porque nasceu em alto mar).
Mas ultimamente ninguém tem tentado mais que os acreanos.
Enéas tentou em 89, 94 e 98. Marina, em 2010, 2014 e 2018.
Só escapamos da possibilidade de ter um presidente acreano em 2002 e 2006.
Perceberam do que o Acre teria nos livrado?

8.

Não me esqueci do Chico Mendes, não. Nem do José Vasconcelos. Nem do Jarbas Passarinho. Ou do Armando Nogueira. E do Adib Jatene.
É que não sei como o Acre consegue ter menos de 0,5% da população e esse tanto de gente.
Deve ser por isso – por desafiar todas as probabilidades – que seu mapa parece que está rindo.

O Acre é inacreditável.

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