“O Sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações”
– Nelson Cavaquinho
A internet é mesmo um paradoxo. Lá estava eu com meu cartaz na frente ao palácio, pedindo pra romperem com todos os cabos de fibra ótica, pra ver se a gente tem um pouco de sossego aqui em casa, os meninos voltem a jogar bola na rua, as vizinhas tricotem novamente e o tal do ‘fakenews’ volte pro original ‘deixa de mentir, cabra-sem-vergoin’.
Nada adiantou o protesto. Ganhei foi um convite pra escrever no ContilNet, e ressuscitar nosso falecido blog literário ‘Confraria dos Últimos Românticos – Confrur’ em um dos sites mais acessados do Acre. Queimei o cartaz, aceitei o convite e, sem a menor ideia do que poderia escrever dez anos depois a criação do blog, corri pra internet.
Foto: Pedro Devanir
O mundo anda moderno demais, rápido demais – delivery demais. Por falar em delivery, veio daí a inspiração pro texto de estreia. Ocorre que outro dia me deparei com um casal de trabalhadores fazendo entregas em Rio Branco.
Era madrugada, as pessoas falavam alto devido à música estridente do bar ao lado, mas eles não precisavam gritar, pois seus olhares tranquilos e serenos se comunicavam perfeitamente. Suas sobrancelhas levantadas combinavam que, enquanto um descia para pegar a próxima entrega, o outro aguardava e vigiava a supermoto.
Cenas de tamanha cumplicidade e afeto são raras e bonitas. E é preciso estar sempre atento às belezas e tristezas da vida, e é essa a ideia da Confrur, estar sempre ligado a esse cotidiano que nos consome e estimula. No fim das contas todos nós podemos ser o casal que entrega aos finais de semana, nos arriscando nessa estrada perigosa, mas sempre com alguma dose de esforço e carinho.
Para a chuva, capas e cuidado. Para o trânsito, atenção e fé. Para escrever, liberdade e café.
Ainda que seja na internet.
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