Os 144 quilômetros de distância que separam a Capital Rio Branco do município de Sena Madureira, trecho da BR-364 que liga o restante do país ao Vale do Juruá, em Cruzeiro do Sul, bem que poderia mudar de nome. A contar pelos números de acidentes registrados no trecho, alguns deles fatais, como foi o caso do que ocorreu com a neta do sindicalista Wilson Pinheiro de Souza, assassinado em Brasiléia em junho de 1980, Gleyce Kelly Pinheiro, de 33, a estrada deveria se chamar “Rodovia da Morte”.
Natural de Brasiléia, Kelly Pinheiro morreu na estrada para Sena quando viajava de moto com o marido, no feriado do último dia 12 de outubro. Seu esposo, que pilotava a moto, sobreviveu. Gleyce Kelly Pinheiro foi apenas mais uma vítima da omissão e irresponsabilidade de quem deveria cuidar e conservar a rodovia, o Departamento Nacional de Infraestrutura, o Denit – órgão do extinto Ministério dos Transportes.
Assim como a morte da jovem senhora de Brasileia, as cenas de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) fora do leito da estreada, dentro do mato, num trecho Sena Madureira e Bujari, na tarde desta quinta-feira (17), também foram chocantes. A ambulância transportava uma mulher indígena grávida, uma criança de menos de um ano de idade e o pai e, por causa da buraqueira, o motorista perdeu o controle do veiculo, saiu da pista e quase tombou numa ribanceira. Todos sobreviveram, mas por muito pouco a rodovia não entrou para estatística de um dos locais no Acre onde se morre todas as semanas.
Quem é obrigado a transitar pela estrada todos os dias, como o taxista de lotação entre Sena e Rio Branco, João Silvino, de 62 anos e há 12 na atividade, sabe bem o que é correr risco. Ele é um dos que concordam que a rodovia deveria mudar de nome, para rodovia da morte. “A gente sai de um buraco e logo cai noutro. Não é possível o desvio de todos, por mais que a gente conheça o trecho”, disse João, que faz pelo menos uma viagem diária pela rodovia, de ida e volta, transportando passageiros. “Além dos prejuízos, dos riscos de acidentes e até de morte, a gente acaba perdendo clientes, porque as pessoas deixam de viajar por causa das péssimas condições da estrada”, disse.
Ele aponta os piores trechos do que já há de pior na rodovia: o peço de quem sai de Sena Madureira, a partir do ramal do XV até a fazenda Kamari. Dali, segundo o motorista, melhora um pouco mas a partir do quilômetro 72, na localidade conhecida como “Evandro”, até o chamado Riozinho, a rodovia volta a ser esburacada.
Outro taxista que faz a mesma viagem diária de ida e volta entre Sena e Rio Branco, Martins Souza, de 50 anos de idade e há pelo menos 15 anos exercendo a atividade, está intrigado com a irresponsabilidade do Denit em relação à manutenção da rodovia naquele trecho. “Nós tivemos um verão longo e forte e eles não cuidaram da rodovia, nem nos trechos mais perigosos. Agora, que começou a chover, começaram a encostar máquinas, numa irresponsabilidade e falta de compromissos com a coisa pública e a vida das pessoas”, disse o taxista.
Procurada, a direção do Denit, tanto em Rio Branco (AC) como em Porto Velho (RO), não retornou às ligações. Pelo menos até o fechamento desta reportagem.