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Cadeia produtiva da exploração de madeira no Acre voltou a reagir e crescer

Por TIÃO MAIA, DO CONTILNET

Sempre muito carrancuda e tensionada pelas acusações de que sua área de atuação, a de produtos madeireiros, é responsável pelo desmatamento e degradação da Amazônia, a gestora ambiental Adelaide Fátima Oliveira, presidente do Sindicato as Indústrias Madeireiras do Acre (Sindomad), agora vive a sorrir. E não é por acaso: o setor em que ela atua, composto por 16 empresas e que geram pelo menos 2.600 empregos diretos, está de vento em popa e respondeu, sozinho, por 57%  das exportações do Acre de janeiro a setembro de 2019, um recorde em valores: são US$13 milhões  – quase R$ 50 milhões – a mais na balança comercial do Estado.

Os dados que fazem a dirigente sindical sorrir estão publicados pelo observatório Fórum de Desenvolvimento do Acre, órgão ligado ao Ministério da Economia, e revelam que as exportações totais em 2019 somaram US$ 23,3 milhões e que a  madeira e seus derivados representam 70% (US$ 9,3 milhões) de tudo isso, seguido pela castanha-do-Brasil com uma participação de 30% (algo em torno de US$ 4 milhões).

Os dados foram extraídos do Ministério da Economia e trabalhados pela equipe técnica do Observatório do Fórum Permanente de Desenvolvimento do Acre. Neste sentido,  o saldo da balança comercial do Acre, em setembro de 2019, foi de US$ 1,72 milhões e no acumulado do ano US$ 21,87 milhões. No mês de setembro o Acre exportou US$ 1,85 milhões e importou US$ 0,13 milhões. As exportações caíram 24% em relação ao mês anterior e 9% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Quanto às importações, houve uma redução de 32% em relação ao mês anterior e 0,13% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Adelaide Fátima está convencida de que a melhoria nestes números de devem à mudança nas relações entre o setor madeireiro e o atual governo do Estado, através de seus órgãos da área ambiental, como Sema (Secretaria de Meio Ambiente) e Imac (Instituto de Meio Ambiente do Acre). “A verdade é que o setor alavancou no governo atual”, disse Adelaide Fátima.

Ela avaliou que o governo de Jorge Viana, nos dois mandatos, de 1999 a 2006, serviu para criar regras para o setor, como a do manejo sustentável. O governo de Binho Marques, sucessor de Jorge Viana, foi “mais ou menos” e o de Tião Viana, que sucedeu Binho Marques em oito anos, simplesmente não funcionou, servindo apenas para marginalizar ainda mais o setor, avaliou Adelaide Fátima. O ex-governador Jorge Viana é engenheiro florestal formado pela UnB (Universidade Nacional de Brasília).

Já o governo de Gladson Cameli, que é engenheiro civil, alavancou o setor criando e licenciando 23 áreas de manejos em menos de dez meses de governo, “desencalhando”, dentro do Imac, projetos e processos que se arrastavam desde 2011 na burocracia do órgão. “Isso fazia com que o setor ficasse praticamente paralisado. Havia medo de os empresários investirem no setor porque havia riscos de prejuízos pela morosidade na liberação dos licenciamentos”, disse Adelaide Fátima. “No atual governo, com a ajuda do governo federal, os licenciamentos têm ocorrido em tempo recorde e isso fez com que pelo menos 16 indústrias locais do setor fossem reativadas”, acrescentou.

Adelaide Fátima reage às críticas dos ambientalistas de que os madeireiros são devastadores afirmando que, para a categoria, a floresta só tem sentido e valor se permanecer em pé. Segundo ela, o manejo florestal sustentável, que utiliza maquinário e tecnologias adequadas, como o uso de GPS para mapear e localizar as árvores prontas para o abate, aquelas com mais de 60 centímetros de diâmetro, não é predatório. “Há todo um planejamento para a exploração”, disse a madeireira, ao informar que as árvores só são retiradas de áreas onda possam ficar entre três ou quatro da mesma espécie. A indústria madeireira explora, preferencialmente, 16 espécies – entre elas, cumaru ferro, jatobá, taquari, entre outras…

De acordo com Adelaide Fátima, os madeireiros não fazem o replantio de árvores porque, segundo ela, a natureza se encarrega disso. “O ambiente se regenera”, diz. O que os madeireiros fazem, no máximo, é reflorestar áreas de onde são retiradas árvores com grande dersel (copas). “É claro que, quando uma árvore assim é retirada, ela deixa uma grande clareira. Aí é quando entramos com o serviço de sivicultural (replantio”, disse Adelaide Fátima.

Outra crítica rebatida pela madeireira é em relação à utilização de grandes máquinas dentro da floresta, as chamadas Skilder, as quais derrubariam árvores e plantas sem interesse comercial até chegar às árvores a serem retiradas. “Isso não é verdade porque a máquina segue o GPS anteriormente aplicado e o GPS não é aplicado sobre outras árvores do caminho”, disse. “A máquina é preparada para dar voltas”, disse.

Quanto à presença de caminhões carregados de tora de madeira circulando principalmente em sábados, domingos e feriados – coincidência ou não em dias em que não há fiscalização, Adelaide Fátima disse que esse transporte é legal e que é feito em dias de pouca movimentação. “Dai a impressão de ilegalidade ou clandestinidade. Mas não é. Nós passamos por mais de 12 órgãos de fiscalização, estadual e federal. É que a gente sabe que as pessoas têm medo quando veem um caminhão carregado de tora, pelo volume e peso da carga. Por isso, a orientação é que isso seja feito em dias de poucos movimentos nas estradas e ruas das nossas cidades’, afirmou. “Infelizmente, ainda há muito preconceito. As pessoas, quando vêem uma árvore grande derrubada e sendo transportada, não pensa que aquele produto vai gerar emprego e renda para a nossa economia”, afirmou.

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