Confraria dos Últimos Românticos: Quem ama, recomenda

Os mais antigos hão de recordar daquele casal nu, como numa referência a um dos trajes mais adequados à felicidade no romance, onde suas figuras sempre eram acompanhadas pelo famigerado preâmbulo “Amar é…”. Se, num desses lances de sorte, me permitissem dar uma contribuição para o legado dos naturalistas conselheiros, diria: “Amar é… recomendar.”

Quem ama recomenda. Só se quer apresentar o novo, o melhor, a experiência, o ponto de vista para quem se ama. Já amei, e como não podia deixar de ser, recomendei. Recomendei tudo que mais admirava. Tudo que mais sabia.

Para a dama, provei meu amor ao apresentar Robert Crumb, The Office, “Réu Confesso” do Tim Maia entre outras preciosidades. Ao explicar que se dormisse oito horas por noite podia se sentir melhor. Que se você entornasse aquela tequila sem ingerir muita água antes, podia ter aquela ressaca apocalíptica. Ou quando sugeri que o arroz podia ficar um pouco melhor com ervilhas.

Expliquei a mágica que só pipoca salgada e com pedaços de chocolate podem proporcionar. Lembro quando pedi pra que saísse um pouco mais cedo da faculdade para termos mais um tempinho juntos naquela sexta-feira cuja aula era um vídeo da Ilha das Flores.

Recomendações dadas.

Sei reconhecer as recomendações que me ofertaram. Lembro que me recomendaram ouvir uma certa banda. Ou que assistisse a grande película hermana “El secreto de sus ojos”. A macarronada naquele restaurante italiano escondido. Ou que tentasse comer melhor – se pá fizesse uns exercícios pra não ficar doente. E teve a vez em que me foi pedido morder de leve quando se finaliza o beijo.

Recomendações recebidas.

Na recomendação não cabe a arrogância professoral. Não tem espaço para a mesquinhez do “te avisei”. Não se obriga. Faz se quiser, e não ofende por deixar de fazer. A recomendação não foi inventada para se mudar alguém. Apenas é um bônus de afeto. Se não for, não é recomendação.

Uma recomendação sempre carrega no quengo uma dose de ingênuo bem querer. Se recomenda é porque se torce a favor. Repito, é porque se ama.

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