Na última vez que a vi, ela segurava as lágrimas enquanto abraçava a si mesma com força, como se estivesse arrumando uma maneira de segurar a própria alma. A observei segurar o choro e fugir do meu olhar, não sei se por medo de desabar na minha frente ou com vergonha por estar quebrando meu coração. Eu queria beijá-la uma última vez, mas não queria acreditar que aquela seria a nossa última vez.
Então não a beijei.
Em vez disso abri a porta quando ela pediu, caminhei com ela pelo corredor do condomínio, observei seu carro ir embora do estacionamento e chorei em silêncio.
Como agora sei que foi minha última oportunidade, fico tentando lembrar de todas as nossas últimas vezes. A última vez que a beijei, que fizemos sexo ou que ouvi o som de sua risada. Não consigo lembrar de nenhuma, como se minha cabeça tivesse apagado cada uma dessas lembranças. Fico em dúvida se é algum tipo de mecanismo de defesa, como acontece com crianças traumatizadas, ou se em algum momento eu usei aquela máquina para apagar memórias de “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”.
Teria sido mais fácil esquecê-la se tivesse usado essa maldita máquina, mas não é assim que as coisas funcionam.
Eu nem sei se quero deixar essas lembranças. Por muito tempo esse foi o meu maior desejo, apagar todos os sentimentos que me aprisionavam naquela areia movediça do fim de relacionamento.
A sua ausência era mais insuportável que sua presença inconstante. Eu ansiava por todas aquelas mudanças de humor que não entendia, os silêncios desconhecidos e as barreiras emocionais que por meses me irritaram. Acho que, de alguma forma, ainda espero que ela volte para usar a escova de dente que joguei no lixo, deitar na minha cama e se embrulhar em mim, mesmo estando mais quente que eu usando aquele moletom velho.
Uma parte de mim sempre vai esperar por ela, enquanto a outra vai ficar feliz de tudo ter acabado.
Até hoje não consigo saber qual foi o momento que ela deixou de me amar. Se foi antes ou depois de terminarmos. Até hoje tento descobrir qual foi o momento, qual foi a briga, qual foi o instante em que as coisas começaram a desandar. Quando vi, já estávamos rumo ao final e foi mais rápido que um estalar de dedos.
Eu não queria que aquela fosse nossa última noite. Então acreditei que não era e a deixei ir embora. Se eu pudesse mudar alguma coisa, qualquer coisa, em toda a nossa história, eu teria lhe dado um último beijo. Eu pediria para que parasse de segurar as próprias lágrimas, porque foi insuportável vê-la sendo forte enquanto eu estava em prantos. Porque é insuportável, até hoje, não ter a lembrança do seu último beijo.
Eu realmente não me lembro, e eu costumo me lembrar de tudo sobre nós.
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