Na semana em que dois deputados conhecidos como irritadiços e dispostos a tudo para defender suas posições e ideias quase saíram no braço no plenário da Assembleia Legislativa, quando Roberto Duarte (MDB) desafiou o líder do Governo Gerlen Diniz (Progresistas) a retirá-lo do plenário, a reportagem do ContilNet procurou ouvir a ambos, mas só um deles se mostrou disposto a falar sobre assunto tão delicado.
Lutador de jiu-jitsu, Roberto Duarte avalia que os debates na Assembleia, embora acalorados, nunca hão de chegar às vias de fato, dá nota cinco – numa escala de um a dez – ao governo de seu aliado – pelo menos em tese e na campanha eleitoral do ano passado – Gladson Cameli, admite que o MDB colocou seu nome como candidato a prefeito e fala também sobre seu comportamento acerbo na Assembleia. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Deputado, pessoas que o conhecem dizem que o senhor, na Assembleia Legislativa, mudou muito. E mudou para pior porque o rapaz gentil e afável de antes do mandato, teria cedido lugar a um homem irascível, nervoso e raivoso ao ponto de chamar um colega de parlamento para a porrada. O que está acontecendo? São as pressões da política ou isso é da sua natureza?
Roberto Duarte – Em hipótese alguma eu fui agressivo com ninguém. Fui sempre muito respeitoso. Só quero que, na Assembleia, se cumpra o regimento interno…
Nem que seja na porrada…?
Não, na Assembleia, nunca tivemos princípio de violência, tampouco de porrada. O que aconteceu na Casa, na semana que passou, foi justamente o seguinte: nós estávamos debatendo a questão da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e em determinado momento houve um pedido de questão de ordem de minha parte, outro pedido da parte do deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB) e depois do deputado Jenilson Leite (PSB), os quais todos nós respeitamos o princípio da questão de ordem com base no regimento. Mas aí o deputado Gerlen Diniz, na condição de líder do Governo, também pediu uma questão de ordem, mas a dele era para contrapor as outras três anteriormente apresentadas. Isso, regimentalmente, não é permitido.
Por quê? A questão de ordem é só para acrescentar e não para requerer?
Regimentalmente, a questão de ordem pode ser até para se somar à outra, anterior, Mas não pode ser para debater, porque o debate é outra coisa. A questão de ordem é para requerimento. Não se suscita uma questão de ordem para contraponto ou para debates – os debates ocorrem na tribuna. O Regimento busca isso. Quando houve um pedido de questão de ordem pelo líder do Governo, solicitei ao presidente da Casa que cortasse a fala do líder do Governo naquele momento em respeito ao Regimento Interno, uma vez que não permite questão de ordem para debates.
E aí o que aconteceu para que o senhor ficasse tão enfurecido?
O deputado Gerlen Diniz pediu para que a segurança fosse chamada para me retirar do plenário.
Regimentalmente, isso é permitido?
Não existe. Nunca aconteceu. Nem na ditadura militar houve um caso assim. Nunca aconteceu de um parlamentar ser retirado do plenário, principalmente a pedido de um colega. Quem me colocou ali, naquele plenário democrático, popular e soberano foi o povo. Então, só quem pode me retirar de lá é a população, e pela autoridade de seu voto. No dia em que a população entender que não sou mais digno de estar ali, que não me eleja, como já aconteceu com tantas lideranças que hoje não têm mandatos… Então eu achei aquilo um absurdo – até porque é um desrespeito ao próprio Legislativo e seu Regimento.
Ainda sobre o episódio: e se houvesse a tentativa de retirada do senhor do plenário? Afinal, o deputado Gerlen Diniz também faz quase o mesmo estilo do senhor de não levar desaforo para casa. Haveria ali vias de fato?
Ele não me retiraria em hipótese alguma!
Então, haveria porrada?
Não, claro que não. Só se ele viesse me agredir. Mas, de minha parte, não. Eu teria no máximo uma defesa pessoal. Aí seria a defesa do meu mandato, a defesa da população e de quem me elegeu.
O senhor tem defesa pessoal? É praticante de alguma arte marcial?
Eu faço jiu-jitsu.
Então, o deputado Gerlen Diz, se fosse para cima do senhor, teria problemas?
Não, não teria porque a gente não está ali para trocar agressões físicas. Eu acredito que o deputado nunca viria para as vias de fato comigo, assim como ele não iria com qualquer outro colega. Acredito que ali, dos 24 deputados, nenhum seria capaz de ir para a agressão física. Somos homens de debates. Os debates são salutares, às vezes poderão ser acalorados – e serão sempre! -, mas sem violência física. E serão acalorados porque cada um ali está fazendo a defesa daquilo que entende como melhor para o seu mandato e para a população.
O senhor está se sentindo pressionado por algum setor em face deste seu comportamento em que o senhor se apresenta como um parlamentar independente?
Eu nunca sofri pressão nem partidária, nem do governo e muito menos da população que, graças a Deus, tem entendido a nossa mensagem e que estamos ali para defender os direitos dela e está, de certa forma, reconhecendo nosso trabalho.
O seu comportamento e posições na Assembleia Legislativa têm causado alguns incômodos para algumas pessoas do MDB, o seu Partido, como é o caso da secretária de Estado de Turismo e Empreendedorismo, Eliane Sinhasique, que já anunciou que vai deixar o Partido. A causa seria o senhor. O que tem a dizer sobre isso?
Até o momento não recebi comunicado oficial nem o Partido recebeu qualquer informação da deputada e secretária Eliane Sinhasique sobre sua desfiliação. Seria muito triste se isso acontecesse. Eu não gostaria de ver uma secretária da qualidade e do quilate da Eliane Sinhasique, uma das mais competentes – junto com a Maria Alice, também do MDB, que está na administração -; aliás, essas duas estão fazendo uma excelente gestão, eu ficaria muito triste se essas duas quisessem sair do Partido. Mas eu respeito o posicionamento delas e também espero que o respeito seja mútuo. Acredito que isso está acontecendo até o momento porque, até aqui, elas não vieram até a eu dizer dos seus descontentamentos com as minhas atitudes e ações no parlamento, assim como eu não fui a elas para reclamar. Aliás, eu só tenho a tecer elogios às secretarias Eliane Sinhasique e Maria Alice. Para mim são as duas melhores secretárias da gestão Gladson Cameli.
O senhor, ao adotar este comportamento que diz ser independente na Assembleia Legislativa, é por um viés ideológico ou porque o senhor quer ser candidato a prefeito de Rio Branco? E, de antemão, acrescento: se é ideológico por que então o senhor não saiu candidato pelas forças políticas que hoje fazem oposição ao atual Governo?
O meu posicionamento no parlamento segue uma coerência. E a coerência é a seguinte: eu sou a mesma que era quando vereador. Os mesmos votos que eu dei enquanto vereador, estou dando agora como deputado estadual; as mesmas críticas que eu fazia enquanto vereador, eu estou fazendo agora… o que eu…
Desculpe a interrupção, mas isso me permite fazer outro questionamento: os votos e os questionamentos que o senhor fazia como era vereador eram contra adversários do MDB, prefeitos e vereadores da Frente Popular, e não como agora, quando o senhor ataca um governo em cujo palanque se elegeu. Como explicar isso?
Estou agindo assim justamente porque estou agindo em defesa da população. As críticas que eu faço são construtivas para que o governo melhores suas ações. Nunca me coloquei como inimigo ou adversário de alguém, muito menos do atual governo. Eu nunca me manifestei como adversário do Gladson Cameli. Tanto é que, de todos os projetos encaminhados este ano pelo Governo para a Assembleia Legislativa, fui relator em pelo menos em sete e votei favorável em quase todos. Votei contra apenas a um artigo de uma lei que criava mais cargos comissionados e agora contra o projeto que altera a LDO. E votei contra alterações na LDO, porque estou respeitando ao parlamento, a um acordo que foi firmado.
Tudo bem. Mas este seu comportamento e posicionamento são iguais ao do deputado Evaldo Magalhães, que é um legítimo parlamentar de oposição já que foi eleito para esta função ao ter seus aliados derrotados na disputa para o Governo. Mas sua situação é ao contrário e, no entanto, politicamente, o senhor parece irmão gêmeo do deputado do PC do B. Como explicar isso?
Aí é que você se engana como jornalista que acompanha a política e a Assembleia Legislativa. O deputado Evaldo Magalhães votou favorável ao pedido de empréstimo de R$ 268 milhões do governador Gladson Cameli, que foi aprovado com meu voto contra.
Por quê?
Porque ai, sim, são questões ideológicas distintas, bem diferentes. Votei contra porque entendo que o governo já está muito endividado e não pode se endividar ainda mais; o deputado Edvaldo Magalhães entende que os recursos são para investimentos e que ele sempre votou favoravelmente a isso desde lá atrás, da época do PT. E eu, lá atrás, quando era adversário do PT, sempre votei contrário. Eu sempre fui contra o endividamento e contratação de empréstimo e me mantenho contrário. O Edvaldo sempre foi a favor e se mantem a favor. Simples! Ali dentro da Assembleia, nós não temos uma simbiose com a oposição. Somos dois núcleos diferentes. A oposição e os independentes. A oposição respeita a independência, a independência respeita a oposição…
Mas quem são os independentes além do senhor? O senhor me parece líder de si mesmo…
Na independência nós estamos, hoje, eu, o Calegário (PV) e Maria Antônia (Pros). A deputada Maria Antônia tem nos acompanhado e o Calegário, como a gente é democrático e respeita o voto, ele votou favorável às alterações da LDO, enquanto eu a deputada Maria Antônia, votamos contrários. Conosco há respeito a votos, às opiniões, mesmo contrárias.
O senhor não teme que este seu comportamento possa vir arranhar de vez sua relação com o governador Gladson Cameli ao ponto de ele trabalhar contra sua candidatura à Prefeitura, no ano que vem?
Eu não temo porque tenho feito o meu trabalho da forma que eu acho que ela deve ser feita e recebo elogios e críticas da população. Quando eu recebo as críticas, procuro analisar essas críticas e, quando construtivas, procuro fazer as mudanças que a própria população quer. O que me interessa é a população do Estado do Acre.
O senhor mantem sua candidatura à Prefeitura no ano que vem?
Eu nunca disse a ninguém que era candidato a prefeito. Quem disse isso é o meu Partido e a nossa militância. O meu Partido é que já definiu e decidiu que vai ter candidato próprio à Prefeitura e sempre tem colocado o meu nome para discussão dentro do Partido. E nós estamos avaliando tudo isso, mas por enquanto eu sou candidato apenas a fazer um bom mandato de deputado estadual.
Essas suas posições não têm incomodado também o presidente regional do MDB, o deputado federal Flaviano Melo?
Não, não incomodou em nenhum momento. Antes de dizer que era independente, sentei com a executiva do meu partido, inclusive com a presença do deputado federal Flaviano Melo, nosso presidente, e expus a eles todos os meus motivos para me tornar independente e eles avalizaram essa minha independência. Claro que sempre eu converso com o Partido e presto contas de como são as minhas votações dentro da Assembleia.
De 1 a dez, qual seria a nota que o senhor daria para o Governo Gladson Cameli?
No momento, daria uma nota cinco. Por quê? Porque a gente ainda ver mais desajustes do que ajustes. Existem coisas boas: Existem! Alias, não só boas, como maravilhosas, como, por exemplo, a contratação dos PMs e Policiais Civis do concurso realizado ainda no governo de Tião Viana. E a promessa dele, que vem mantendo a palavra, de contratação do cadastro de reserva da Policia Civil e da Polícia Militar. Isso é uma ação louvável do Governo.