Deputado estadual em segundo mandato, Wendy Lima lidera a ‘bancada do silêncio’

Líderes carismáticos em suas comunidades, principalmente em se tratando do bairro 6 de Agosto e de boa parte do Segundo Distrito de Rio Branco, a capital do Acre, o deputado estadual Wendy Silva e seu pai, o vereador e também ex-deputado N. Lima, têm as mesmas ideias e são filiados ao mesmo partido – o PSL do presidente Jair Bolsonaro, mas desenvolvem seus mandatos de forma bem diferente.

Na Câmara Municipal, o vereador N. Lima, um oficial aposentado da Polícia Militar apontado como linha dura, é um boquirroto que fala sobre os mais diversos assuntos – até mesmo de assuntos que fogem à alçada e à competência de parlamentares considerados mirins. Já seu filho, na Assembleia Legislativa, lidera a chamada “bancada dos mudinhos”, como são chamados os deputados que falam pouco ou praticamente não falam, não pedem aparte e não usam a tribuna para discursos.

Aos 37 anos, Wendy Lima está no seu segundo mandato. No primeiro, de 2014 a 2018, fez, segundo o registro dos arquivos da Casa, seis pequenos discursos no pequeno e grande expedientes e também em explicações pessoais. Ou seja, 2,5 discursos para cada ano de mandato. Apartes aos discursos de seus pares, nenhum. Este ano, completados nove meses de mandato, o silêncio é geral por parte do deputado. E que se registre uma coisa: ele é um dos mais assíduos deputados, que não costuma faltar às sessões as quais assiste com um mutismo impressionante para alguém que exerce uma função cuja essência é o exercício da fala, do verbo francês parlar, o qual, aliás, dá nome ao “parlament”, como são chamadas em todo mundo as casas de leis de regimes democráticos regidos por uma constituição cujo integrantes, caso de Wendy Lima, são chamados por isso mesmo de parlamentares.

Para um parlamento como o da Assembleia Legislativa do Acre, que já teve entre seus membros oradores como um Alberto Zaire, Hermelindo Brasileiro, Carlos Simão, Nabor Júnior, Wildy Viana, Édson Cadaxo, Luis Saraiva, Edmundo Pinto, João Tezza, Said Filho, João Correia e Adalberto Ferreira, e outros deputados que fizeram história no Estado exatamente pela oratória e pelo barulho que faziam na tribuna daquela casa, o silêncio de Wendy Lima chega a ser ensurdecedor.

Mas, se servir de conforto aos seus eleitores, que certamente gostariam de vê-lo falando em defesa de suas causas, o deputado Wendy Lima não está sozinho em matéria de silêncio histórico na Assembleia Legislativa. Faz-se acompanhar, por exemplo, do ex-deputado Elson Santiago, o mais longevo parlamentar da história da Assembleia, na qual exerceu pelo menos sete mandatos e chegou inclusive a ser presidente da Casa, que nesses anos todos usou a tribuna muito pouco.

Elson Santiago/Foto: reprodução

Gago desde a infância, Elson Santiago não se arriscava ir à tribuna para não revelar a gaguice que o constrangia, mas, mesmo assim, para poder chegar à presidência da Casa, em cuja sessões ele era obrigado a falar, ainda que frases curtas em que concede ou cassa a palavra dos demais parlamentares, aos poucos foi perdendo a timidez e agora, no pagar das luzes, quando deixaria de ser reeleito para o oitavo mandato, já não tinha tanto medo dos microfones.

Aliás, em matéria de gagueira, Elson Santiago também não está sozinho na história da Assembleia. Manuel Machado, outro gago, foi deputado por vários mandatos e também chegou à presidência da Assembleia. Mas este é assunto para outra história.

No caso de Wendy Silva, ele parece não se importar com a pecha de líder da bancada dos mudinhos. Ao ContilNet, disse que a diferença de atuação entre ele e seu pai, que já foi um dos mais duros e mais assíduos oradores, é uma questão de estratégia pessoal. “Mas a atuação de um deputado não é só dentro da Assembleia e nem pode ser medida pelo uso da tribuna”, disse o deputado ao concordar com o dito popular segundo o qual, mesmo no parlamento, “quem fala demais dar bom dia a cavalo”.

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