Ela tem um currículo invejável na área de educação: funcionária da Universidade Federal do Acre (Ufac), como técnica em assuntos educacionais com habilitação em química e pós-graduada em MBA em gestão de recursos humanos, mas não quer saber de dar aulas. Pelo menos para seres humanos. A acreana de Xapuri Maria do Socorro Costa de Souza, 54 anos, casada e mãe de cinco filhos, apesar de todo o currículo, prefere dar aulas para cachorros, ensinando-os sobre boas maneiras e bom comportamento.
O nome do “curso” seria “Comportamento e Obediência Básica para Cães”, que consiste em orientação para que o animal caminhe junto, ao lado, do dono – que, na linguagem técnica, é chamado de tutor – sentar, deitar e ficar quieto. São palavras de comando que o animal aprende.
Para chegar à condição de “professora de cães”, Maria do Socorro foi buscar conhecimento em São José dos Campos, junto à “Perfect Dog”, uma empresa especializada em adestramento de cães. Maria do Socorro sempre gostou de cachorros, desde criança. Quando descobriu que poderia ganhar dinheiro, misturando diletantismo com lucro, ela entrou de cabeça no negócio. Aliás, as coisas deram tão certo que a “professora” vai poder realizar um sonho de infância: uma viagem internacional ao Israel e Roma, na Itália – turismo religioso que ela não conseguiria fazer se vivesse apenas do salário de servidora pública.
A definição da atividade, face ao curso que ela fez, seria adestradora – mas ela prefere ser chamada de educadora de cães por entender que seu trabalho, realizado em domicílio, na casa dos clientes, é mesmo de educação. “Eu educo, mas quem completa o ensinamento é o tutor”, diz ela referindo-se ao dono – “tutor”, no “cachorrez”, na linguagem de quem trabalha na área. Ao que tudo indica, ela é a única profissional atuando nesta área em Rio Branco (AC). No mercado faz quase um ano, já atendeu pelo menos 100 animais de pelo menos 60 clientes (é que há pessoas que têm mais de um cachorro em casa). O atendimento é feito duas vezes por semana – oito vezes por mês, durante uma hora por dia. “Já cheguei a atender cinco cachorros por dia”, revelou.
O custo do treinamento é de R$ 500, por mês, para animais de qualquer raça. Socorro diz que não sabe se há raças que são mais inteligentes que outras. “Sempre soube que os animais mais inteligentes são os Border Collie”, disse ela, referindo-se à raça desenvolvida na região da fronteira anglo-escocesa na Grã-Bretanha para o trabalho de pastorear gado, em especial gado ovino, com os quais ela nunca trabalhou. “Mas, pelo que já vi ate aqui, todas as raças são inteligentes, principalmente os vira-latas”, disse.
Toda raça tem necessidade de aprender, “porque todo cachorro tem curiosidade”, na definição da “professora”. O curso, segundo ela, tem utilidade principalmente para os “tutores”, que passam a ter animais obedientes. O ideal é que os treinos comecem com animais, de ambos os sexos, com 60 dias de nascidos, mas animais mais velhos têm dificuldades de aprendizagem. “Mas, com paciência, é possível ensinar mesmo aos mais velhos ”, disse Socorro.
Gritos e violência, ameaças de espancamento com paus ou cintos, são coisas que não podem jamais ser utilizados nos treinamentos. “O anima é reflexo de seu tutor ou do ambiente em que ele vive”, diz a adestradora. Ela aconselha, para que o animal seja intimidado, que o dono ou tutor coloque caroços de milho dentro de uma garrafa do tipo pete e, quando quiser chamar atenção do animal ou repreendê-lo, deve bater a garrafa na mão. “O barulho, seguido de um não vigoroso, faz com que o animal recue”, revela.
Maria do Socorro diz ainda que crianças que crescem ao lado de cachorros têm possibilidades de serem pessoas mais felizes e mais humanizadas. E, segundo ela, não há perigos ao lado de crianças porque o animal sempre avisa de alguma forma o que vai fazer, se vai agredir ou não. “Até para fazer suas necessidades fisiológicas, o cão avisa. Se vai morder, criança ou não, ele também avisa. Basta se observar”, ensina.
A adestradora já foi convidada a ensinar gatos, mas declinou do convite por entender que esses animais são mais independentes que os cães. Mas nos últimos dias ela vive uma experiência diferente com um gato de uma cliente da cidade, uma empresária que a contratou para que ela ensinasse seus cães a conviver com o felino, já que os cachorros queriam matá-lo. “Comecei a dar aula comportamental aos cachorros, mas o gatinho, de nome Pantera, começou a participar. Hoje ele praticamente atende os mesmos comandos que dou aos cachorros. Acho que ele pensa que também é cachorro”, disse.