A educação brasileira apresenta avanços significativos no que diz respeito a fatores como infra-estrutura, formação de professores, material didático, inovações tecnológicas, entre outros aspectos que deveriam favorecer a aprendizagem. Mas, apesar dos investimentos e incentivos, os dados de aprendizagem, obtidos através das mais diversas avaliações, apontam resultados que não condizem com os esforços governamentais e os investimentos feitos na área.
O ensino ofertado em nossas escolas públicas não tem conseguido dar conta dos aspectos mais básicos e primordiais da aprendizagem, como, por exemplo, o domínio de leitura/escrita e operações matemáticas triviais. É comum ouvir de professores queixas do tipo: os meninos de hoje não leem, decodificam; os alunos chagam ao final do ensino médio sem compreender o que lêem e sem saber fazer uma redação; o aluno não consegue resolver um problema simples de matemática porque nem entender o problema ele consegue.
O aluno está chegando ao final da educação básica com sérias deficiências. Sendo assim, todas as outras áreas do conhecimento ficam comprometidas, uma vez que ele não sabe escrever nem compreende o que lê. O mesmo acontece ao se deparar com números e equações complexas, pois é essencial que se conheça a base da matemática, que está fundamentada nas quatro operações: soma, subtração, multiplicação e divisão.
Filósofo, historiador, pedagogo, especializado em Gestão Escolar, também graduado em Teologia pela Pontifícia Facoultà Marianum de Roma/Itália e, atualmente, doutorando em Educação. Foi fundador e vice-reitor da faculdade Diocesana São José (Fadise), além de gestor geral da escola Heloísa Mourão Marques.
Na sua concepção, não se pode pensar educação se não houver um projeto de nação. Nação, ainda segundo ele, caracteriza-se por ter um povo soberano, unido e que luta incansavelmente por justiça social e bem-estar de seus cidadãos. Ele recebeu a reportagem do ContilNet em seu gabinete e avaliou o seu trabalho, apontou rumos para a melhoria do ensino e, sobretudo, falou sobre o papel da escola, que, a seu ver, é uma instituição a serviço da transformação. Vejam os principais trechos da entrevista:
Como é administrar uma secretária complexa e estratégica com a Educação?
Mauro Sérgio – É um grande desafio, mas a nossa vontade de colaborar com o avanço da educação também é enorme. Eu faço parte do quadro da educação há muito tempo. Esse desafio nos motiva a propor algo novo. Estamos diante de índices que não são confortáveis para um estado que investe R$ 1 bilhão em educação anualmente. Podemos avançar muito mais, pois recursos existem. O nosso foco principal é na gestão. Precisamos de uma secretaria mais eficiente que possa se fazer presente dentro da escola. Essa é a voz de comando que temos aqui: todo dia tem Secretaria de Educação dentro das escolas.
Quais são os índices educacionais desfavoráveis que o senhor encontrou?
Mauro Sérgio – Os índices no estado estão aquém. O IDEB do ensino médio é de 3,6 e precisamos avançar. O ensino fundamental 2, a nota é 4,7 e precisamos chegar a 5. No fundamental 1, estamos com 5,2 e podemos precisamos chegar a 5,5. Estas são as metas para este momento porque, daqui a dois anos, teremos uma nova avaliação. Encontramos muitas dificuldades. Iniciamos o ano letivo com atraso porque não existia processo seletivo para contratação de professores. O tempo foi mínimo para que a gente pudesse fazer um trabalho adequado e focado na formação e no ensino de qualidade. Nos próximos anos, esperamos chegar com a nota 7 no IDEB.
O senhor tem prioridades para a educação indígena e de adultos?
Mauro Sérgio – Eu já estive em várias conferências indígenas. Sabe o que foi que eles falaram para a gente? Há 14 anos não recebiam formação inicial continuada e formações próprias de professores dentro das aldeias. Hoje, estamos presentes em quase todos os povos, dando formação e adequando e reformando escolas indígenas. Temos um projeto novo, que é o das escolas centralizadas. Ano que vem, estaremos inaugurando um centro de formação dos servidores da educação, inclusive com escola de magistério voltada para a formação do professor indígena. Podemos avançar muito mais, principalmente se a gente levar em consideração o que existe de peculiar em cada nação, valorizando a sua língua e as suas manifestações culturais e costumes. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) vai passar por algumas adequações porque a evasão é grande. Iniciamos o ano com 19 mil alunos e, em agosto, esse número tinha caído para 12 mil. Precisamos estabelecer um diálogo e trazer a educação técnico-profissional para dentro do EJA. Se o aluno se matricular no EJA, num curso do Iepetec e receber uma bolsa ele não terá motivo para desistir de estudar.
O que o senhor destaca do seu trabalho nesses nove meses?
Mauro Sérgio – Estou contente, feliz com a equipe e com o apoio que recebemos do governador Gladson Cameli. É um apoio incondicional e já perdemos as contas das vezes que ele esteve aqui na secretaria. Ele é ovacionado pelos servidores, não apenas pelo o que ele é, mas principalmente porque todos reconhecem o esforço dele em querer melhorar a qualidade do ensino. Ele deposita essa esperança em nossa equipe e isso nos motiva ainda mais. Bom, fizemos a manutenção de quase 230 escolas; temos o projeto “Olhar Digital”, onde fazemos as consultas e entregamos óculos para os alunos que precisam; estruturamos e climatizamos dezenas de escolas; adquirimos mais de 20 ônibus; e investimos na per capta da merenda escolar, que é mais comida na escola. Quanto mais a gente investe em qualidade, para que o aluno se sinta bem, maior é a possibilidade de ele permanecer na escola. Doze por cento dos alunos matriculados abandonam a escola. Para evitar que ele entre para o mundo das drogas e violência, trouxemos o Unicef e adotamos um programa de busca ativa, que o “Todo Aluno na Escola”. Até o ano que vem, vamos fazer 30 quadras de esporte. Eu suma, escola bonita e estruturada, professores preparados e alunos bem alimentados geram ensino de qualidade. Ah, temos ainda o projeto “Escola Aberta”. Todo mês a gente escolhe uma escola e vamos para lá com médicos, atividades culturais, desportivas e outros serviços. Este ano quase todos os professores receberam a VDP. Por fim, temos um programa de saúde bucal onde os alunos fazem obturações, canais e até entregamos aparelhos ortodônticos. É o projeto “Sorriso Feliz”. Além disso, temos um projeto voltado para a saúde do professor chamado “Mente, Corpo e Voz”. Por fim, a partir do ano que vem, estamos focando em dar um reajuste no salário dos trabalhadores em educação.
Quais são as experiências com as escolas em tempo integral e militares?
Mauro Sérgio – Já na campanha, o governador assumiu alguns compromissos, notadamente com a construção de mais colégios militares. Aqui em Rio Branco já existem dois. Este ano já inauguramos mais um em Cruzeiro do Sul, que é um modelo de escola, uma referência. Vamos abrir mais um, que será numa comunidade carente, o bairro Miritizal, agora com apoio do Exército e MEC. Teremos mais um em Senador Guiomard. Vamos iniciar a construção de mais dois, um em Brasiléia e outro em Sena Madureira. Embora não seja exclusivo, é um modelo importante. Outro modelo é a escola em tempo integral, que uma experiência interessante e com resultados bastante expressivos, com inúmeras aprovações no Enem. É um projeto que precisa continuar e ser ampliado para o interior. E ainda temos mais um modelo, que é escola vocacionada, local onde serão trabalhados os potenciais e aptidões dos alunos em áreas como música, esporte, arte cênicas, atividades lingüísticas, entre outras. Também pretendemos construir escolas agrícolas nas cinco regionais do Acre.
Qual é a sua concepção de escola? Qual é o papel dela?
Mauro Sérgio – Conforme a LDB de 1996, a escola é um espaço que deve ser aberto, democrático, que vise à formação cidadã e integral dos alunos. Deve ser voltada para os direitos humanos e ao respeito mútuo. O seu papel é formar pessoas do bem, que acreditem no Brasil com todo o seu potencial econômico. A missão da escola é nortear a sociedade para o bem. Comparada com aquela escola dos anos 70 e 80, percebemos muitos avanços. Para se ter uma ideia, até a década de 80, poucos professores possuíam curso superior. Mas precisamos avançar mais, principalmente com a formação continuada. Uma vez formado, o professor precisa se capacitar constantemente para que se adéque às novas exigências do processo educacional. No passado existia uma presença maior da família na escola. Por causa da dinâmica da sociedade, essa presença foi reduzida. Além da educação formal, precisamos da família na escola. Hoje, os desafios da educação são diferentes comparados à educação de 30 ou 20 anos atrás. A educação é dinâmica e precisamos acompanhá-la para fazer frente a novos desafios.
Qual a função da educação na construção de sociedade melhor?
Mauro Sérgio – A educação é o motor principal do nosso trabalho. Acreditamos que, através dela, a gente consegue transformar vidas. Cada um de nós aqui fomos transformados na escola, pelos nossos professores, pelo conhecimento e pela boa educação. A gente quer que isso também aconteça na vida dos nossos alunos. A educação transforma. Nenhuma sociedade atingiu etapas de desenvolvimento sem investir maciçamente em educação. Eu sou um educador e um entusiasta. O que a gente quer colher? Jovens engajados, bons cidadãos, bons trabalhadores que colaborem para um Acre melhor. Esse também é o desejo do nosso governador.