Paixão de muitos acreanos aficionados por futebol e pelo clube, o Rio Branco Futebol Clube, fundado em junho de 1919 – portanto, há mais de cem anos – e que já esteve na lista dos melhores times de futebol da região Norte, vai às urnas, nesta quinta-feira (14), para eleger uma nova diretoria a qual vai dirigir uma autêntica massa falida e administrar dividas que chegam à casa de pelo menos R$ 1 milhão. A sede do clube, situada na Avenida Getúlio Vargas, no centro da Capital, é o retrato acabado de um clube vitorioso que, no entanto, está a caminho da falência absoluta, sem time, sem glórias e sofrendo uma goleada de problemas.
“A situação está tão difícil que a gente não tem sequer onde se reunir para eleger a nova diretoria”, disse o advogado Welinton Barbosa, o “Bira”, sócio do clube e candidato a vice-presidente na chapa encabeçada pelo empresário Neto Alencar. A eleição será por aclamação já que apenas a chapa de Neto disputa a eleição.
Mas o que pode parecer algo pacífico e sinônimo de união entre os sócios, esconde uma guerra ranheta pelo poder envolvendo a atual diretoria, encabeçada pelo empresário Getúlio Pinheiro, do Grupo Pinheiro Palace Hotel, cujo mandato se encerra dia 31 de dezembro deste ano, quando só então a atual diretoria pretende entregar o cargo à diretoria a ser eleita. “A gente quer tomar posse logo porque temos pressa em retomar as atividades do clube, inclusive com seu time de futebol. O campeonato de futebol de 2020 começa em fevereiro e até o momento o clube não dispõe sequer de uma bola, imagine um time para a disputa”, disse Neto Alencar. “Além disso, temos pressa em trabalhar para recuperar a sede e outros bens do clube”, disse.
Entre os bens do clube, além da sede fantasmagórica sede do centro da cidade, abandonada e sem telhado e que consiste apenas nas paredes que resistem em pé, o Rio Branco Futebol Clube é dono da Galeria de Lojas no entorno do Estádio José de Melo, na Avenida Ceará, no centro da cidade. Ali a maioria das lojas comerciais está com aluguéis vencidos e há locatários com dívidas superiores a R$ 200 mil. A diretoria a ser eleita pretende negociar e executar essas dividas a fim de começar a recuperação do clube.
No entanto, dividas trabalhistas, de funcionários do clube e ex-jogadores, ameaçam o patrimônio do RBFC. Um terreno avaliado em R$ 20 milhões, localizado próximo à Cidade do Povo, no Segundo Distrito da cidade, foi leiloado por decisão da Justiça do Trabalho e arrematado por um empresário da cidade por menos de um por cento de seu valor real, para sanar dívidas com jogadores. “É uma tristeza o que fizeram com este clube”, disse Neto Alencar.
A história de fundação do clube
Documentos históricos informam que o clube foi fundado na noite do dia 8 de junho de 1919, em uma reunião ocorrida no Eden Cine Theatro (no local do Cine Teatro Recreio), na Rua 17 de Novembro, Segundo Distrito da cidade de Rio Branco. A reunião foi convocada pelo advogado amazonense Luiz Mestrinho Filho, o qual estava na cidade para presidir uma comissão de inquérito na Agência dos Correios. Compareceram ao todo 16 pessoas, entre os quais estavam Nathanael de Albuquerque, Conrado Fleury, José Francisco de Melo, Mário de Oliveira, Luiz Mestrinho Filho, Alfredo Ferreira Gomes, Manoel Vasconcelos, Francisco Lima e Silva, Pedro de Castro Feitosa, Jayme Plácido de Paiva e Melo, que assinaram a primeira ata do clube, revelam os documentos.
Após eleita a primeira diretoria, o clube recebeu a doação de um terreno no local onde hoje está situada a Praça Plácido de Castro, por parte do prefeito, Augusto Monteiro. O terreno doado consistia em uma área de mata nativa, que em poucos dias foi substituída por um campo de terra batida para, mais tarde, tornar-se a sede social do clube.
A primeira partida oficial disputada pelo Rio Branco ocorreu no dia 14 de julho de 1919, com vitória por 5 a 0 sobre o Militar Foot-Ball Club, equipe da Polícia Militar do território. O primeiro uniforme do Rio Branco era totalmente branco, com uma grande estrela vermelha no local do distintivo da camisa. No dia 18 de julho de 1920, o Rio Branco faria sua primeira partida intermunicipal, com vitória sobre a Seleção de Xapuri pelo placar de 1×0.
Em seu primeiro ano de existência, o Rio Branco disputou nove amistosos e venceu todos. De acordo com a ata de fundação, as cores do clube – presentes no escudo, uniforme e bandeira oficial – são o vermelho e branco; Seu mascote é a Estrela Solitária, símbolo da Revolução Acreana, que também está presente na bandeira do Estado do Acre. A estrela representa a vitória e a independência do Acre.
A história também conta os principais triunfos o clube rendem 41 Campeonatos Acreanos, 3 Copas da Amazônia e uma Copa Norte, conquistada de forma invicta no ano de 1997, garantindo ao RBFC vaga na Copa Conmebol, tornando-se o primeiro clube da Região Norte a disputar uma competição oficial sul-americana.
O ano de 1921 marca a criação da Liga Acreana de Esportes Terrestres (LAET). O Rio Branco foi um de seus fundadores, juntamente com o Acreano Sport CIub e o Ypiranga Sport Club. A associação recém-criada promoveu a disputa de um torneio, a Liga Torneio Initium, no dia 9 de junho daquele ano. O Rio Branco sagrou-se campeão, vencendo o Acreano por 10×0 e o Ypiranga por 2×0. No dia 1º de agosto de 1921, teve início o primeiro campeonato oficial da LAET, disputado em dois turnos. No primeiro, o Rio Branco goleou o Acreano por 4×0 e o Ypiranga por 8×0. No segundo, novamente 4×0 no Acreano e 8×0 no Ypiranga. O time do Rio Branco que foi campeão da competição estava assim formado: Alfredo; Zé Bezerra e Olavo; Nobre, Bandeira e Joca; Fortenelle, Gaston, Mello, Jacob e Carlos.
Inauguração do Estádio José de Melo
Dez anos depois de sua fundação, o Rio Branco inaugurava o seu estádio próprio no dia 8 de junho de 1929, em um terreno oferecido pelo fundador e chefe de Polícia, José Francisco de Melo e a sua esposa, dona Isaura Parente. O estádio foi batizado de Stadium José de Melo, e está localizado na Avenida Ceará. É lá onde a sede do clube se encontra até os dias de hoje. Nas décadas de 30 e 40, o Rio Branco reinava absoluto no futebol do Acre, conquistando nada menos do que 13 títulos estaduais consecutivos, entre 1935 e 1947, sendo doze deles organizados pela LAET e o primeiro campeonato organizado pela Federação de Futebol do Estado do Acre (FFEAC) (criada em 24 de janeiro de 1947). Na anos 1950, o clube faturou mais cinco títulos estaduais.
Entre 1964 e 1970, o Rio Branco amargou um jejum de títulos, algo incomum para um clube acostumado com conquistas. A torcida teve que esperar até 1971 para comemorar outro campeonato. Após a implantação do profissionalismo no futebol acreano em 1989, o Rio Branco consolidou seu domínio local.
O ano de 1997 ficou marcado como o ano mais importante do clube até o momento, com a principal conquista da história do clube: a Copa Norte. Após estrear na competição com um empate sem gols com o Ji-Paraná-RO, o Rio Branco passou por Baré-RR (1×0), Independência (1×0) e goleou o Nacional-AM (4×1), garantindo o primeiro lugar em seu grupo e, consequentemente, a vaga para a final.
O adversário da decisão foi o Clube do Remo. No primeiro jogo, no José de Melo, um empate sem gols. Na decisão em Belém, o Rio Branco não tomou conhecimentos do time mandante e venceu o Remo em pleno Estádio Mangueirão pelo placar de 2 a 1, com gols de Palmiro e Vinícius. A conquista permitiu que o Rio Branco fosse a primeira equipe da região Norte a disputar uma competição sul-americana: a Copa Conmebol.
O dia 27 de agosto 1997 foi um marco importante para o Rio Branco e para o futebol do Norte: Era a estreia na Copa Conmebol. O jogo era na Colômbia, contra o Deportes Tolima. Em um jogo bastante equilibrado e pegado, o Rio Branco saiu da Colômbia com uma derrota por 2×1. No jogo de volta, dia 03/09/97, no Estádio José de Melo lotado, o Rio Branco partiu para cima, em busca do resultado. O time colombiano foi para o jogo pensando no regulamento, jogando todo atrás. Mas foi aí que brilhou a estrela de Gomes, que marcou o único gol da partida, levando o jogo para os pênaltis. Porém nas penalidades, o Estrelão saiu derrotado por 3×1, fechando assim a sua única participação na competição.
Também em 1997, o clube conquistaria o Campeonato Acreano, eliminaria o Goiás (venceu o primeiro jogo no José de Melo por 1×0, e no segundo jogo perdeu por 2×1 no Serra Dourada, conseguindo a classificação para a próxima fase) e venceria o Flamengo (2×1 em casa), ambos pela Copa do Brasil, e terminaria na oitava colocação na classificação geral da competição, sua melhor participação.
A queda do clube mais querido do Acre
Depois do auge, veio a queda. O Rio Branco passou por reformulação, mas não conseguiu forças para continuar crescendo no cenário nacional. O clube acumulou dívidas e não conseguia repetir os bons resultados, chegando até a desistir de participar do Campeonato Brasileiro da Série C por motivos financeiros em algumas edições. Somente a partir de 2002, o Estrelão voltou a se impor na região.
Entre 2002 e 2005, o Estrelão sagrou-se tetracampeão estadual, o primeiro e único desde a profissionalização do futebol local. Em 2007, conquistou o Campeonato Acreano com uma campanha impecável, vencendo os dois turnos do campeonato de forma invicta. Eme 2007 e 2009, o clube fez belíssimas campanhas pela série C do Campeonato Brasileiro. Em 2007, o Estrelão chegou à terceira fase da competição. Em um grupo com ABC-RN, Bahia e Fast-AM, o Rio Branco acabou perdendo a vaga para o octogonal final no número de gols marcados para o Bahia, em meio de muita polêmica. A equipe terminaria na 10ª colocação na classificação geral da competição.
Em 2008, O Rio Branco começou o ano querendo consolidar de vez o sonho do torcedor: conquistar de vez o acesso à série B do Campeonato Brasileiro, divisão que o clube não participa desde 1991. A equipe manteve boa parte do elenco e contratou alguns reforços de peso, como o goleiro Ronaldo, ex-Paysandu, e o meia Rossini, ex-Santos. Novamente o Rio Branco conquistou o Campeonato Acreano, vencendo novamente os 2 turnos do torneio. Vinha a série C.
O primeiro foco era permanecer na competição, uma vez que seria criada a 4ª divisão, a Série D. A equipe passou de forma brilhante das 2 primeiras fases, sendo líder dos 2 grupos, permanecendo na série C 2009. A primeira meta estava cumprida. Agora era pensar no Octogonal final e na série B.
Na 3ª fase, o Rio Branco teria pela frente o Paysandu, Luverdense-MT e Águia-PA. Começou perdendo para o Papão em Belém, mas se recuperou muito bem contra Águia e Luverdense, conseguindo a classificação para o octogonal final e a primeira colocação disparada do grupo. No último jogo, já classificado, o Rio Branco recebia o Paysandu, que precisava de uma vitória para se classificar. O Estrelão se impôs em casa e,apesar da pressão do adversário no final do jogo, o Estrelão mostrou porque hoje ele é considerado o Melhor do Norte, e venceu o jogo em casa por 2×1, eliminando outro grande paraense (já havia eliminado o Remo na 2ª fase) da competição. O Rio Branco estava finalmente no Octogonal final.
Vitória sobre o Campeão Mundial de Futebol
A história do Rio Braco Futebol Clube conta com uma curiosidade: uma vitporia sobre o São Paulo Futebol Clube, então campeão mundial de futebolinterclubes. Após eliminar o Sul América de Manaus na primeira fase da Copa do Brasil de 1993, o Rio Branco enfrentou o São Paulo, então campeão do Mundial Interclubes. Na primeira partida da segunda fase da competição, no Estádio José de Melo, o Rio Branco não se intimidou perante ao Campeão da América e do Mundo e venceu por 1×0, gol de Vinicius, no segundo tempo. No mesmo ano, o São Paulo conquistava os bicampeonatos da Libertadores e do Mundial. Esse jogo efetivou-se dia 20 de abril e os clubes estavam assim escalados:
Mas, por falar em vitórias, para definir a importância do clube para o futebol do Acre, basta dizer que, nas décadas de 30 e 40, o Rio Branco reinava absoluto no Acre, conquistando nada menos do que 13 títulos estaduais consecutivos, entre 1935 e 1947, sendo doze deles organizados pela LAET e o primeiro campeonato organizado pela Federação de Futebol do Estado do Acre (FFEAC), criada em 24 de janeiro de 1947. Seus sócios, algo em torno de 500 pessoas que estão sendo chamados à votação desta quinta-feira (13) esperam de volta os tempos de glórias