O primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2019 apresentou questões que abordavam temas ligados aos direitos das mulheres e minorias, além de questões raciais como refugiados e escravidão. Itens que tratavam de discursos de ódio também apareceram nas provas de linguagens e ciências humanas.
Na redação, o tema foi ‘Democratização do acesso ao cinema no Brasil’. A prova contou com quatro textos motivadores: um trecho do artigo “O que é cinema”, de Jean-Claude Bernardet; um trecho do texto “O filme e a representação do real”, de C.F. Gutfreind; um infográfico do periódico “Meio e Mensagem” sobre o percentual de brasileiros que frequentam as salas de cinema; um trecho do texto “Cinema perto de você”, da Ancine, a agência do governo brasileiro para o audiovisual. O texto fala sobre como o Brasil é apenas o 60º país na relação de habitantes por sala de cinema, com pouco mais de 2 mil salas, uma queda em relação à década de 1970.
Neste ano, as frases de identificação do caderno de provas eram de músicas da banda Legião Urbana.
Veja uma lista de temas que apareceram nas provas de linguagens e ciências humanas:
- Música “In this life”, da cantora americana Madonna
- Canção “O blues da piedade”, de Cazuza e Frejat
- O físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser
- Trecho do livro “1822”, de Laurentino Gomes, sobre Maria Quitéria, heroína da Guerra da Independência
- Poema “Lua enlutada”, da escritora brasileira Hilda Hilst
- Bullying
- Anorexia
- Liberdade de expressão e discursos de ódio nas redes sociais
- Refugiados
- Direitos do idoso
- Exposição de crianças na internet pelos pais, desde a gravidez
- Relação entre agrotóxicos e a morte de abelhas, e como a produção agrícola pode crescer de forma mais sustentável
Uma das questões trazia um anúncio de um site português que tratava de bullying e anorexia, e o estudante tinha que saber fazer a análise do discurso.
Perigo dos agrotóxicos para as abelhas
Uma questão de geografia citou uma notícia publicada em 2014 no site do Ministério do Meio Ambiente sobre a ligação entre o uso de agrotóxicos e a morte de abelhas em São Paulo e Minas Gerais, e pediu detalhes sobre como é possível promover uma produção agrícola mais sustentável.
Outra abordava os refugiados. A questão trazia um anúncio da Acnur, a agência da ONU para refugiados, que mostrava uma imagem com sapatos e a questão perguntava o que esses sapatos simbolizavam. O estudante tinha que interpretar a questão e falar sobre a empatia e o colocar-se no lado do refugiado.
Hannah Arendt e o totalitarismo
‘Veterana’ no Enem, a filósofa alemã Hannah Arendt voltou a aparecer na prova. Uma questão citou sua obra “Origens do totalitarismo” para falar sobre como o totalitarismo aprisiona a população a ponto de elas acharem normal o extermínio de pessoas.
Já o Estatuto do Idoso apareceu em uma questão que falava sobre a condição de vida dos mais velhos. A questão trazia dois textos, um do jornal Folha de Londrina e outro do site do governo Brasil.gov.br. O estudante precisava relacionar o que eles tinham em comum.
‘Blues da Piedade’, Cazuza e Frejat
A letra da música “Blues da Piedade”, de Cazuza Frejat, foi um dos temas da prova do Enem 2019.
O primeiro verso da canção é: “Agora eu vou cantar pros miseráveis / Que vagam pelo mundo derrotados / Pra essas sementes mal plantadas / Que já nascem com cara de abortadas / Pras pessoas de alma bem pequena / Remoendo pequenos problemas / Querendo sempre aquilo que não têm.”
A pergunta era para o estudante analisar a letra e interpretar o que ela queria transmitir.
O estudante tinha que interpretar a letra e dizer qual o objetivo da mensagem e o que ela queria transmitir.
Marcelo Gleiser no Supertrunfo
O físico e astrônomo carioca Marcelo Gleiser caiu em uma das questões do Enem. Ele foi anunciado em março deste ano como o grande vencedor do Prêmio Templeton 2019, considerado o Oscar da espiritualidade.
A questão do Enem trazia uma carta do jogo “Supertrunfo” com a imagem do astrônomo e características da vida dele. A questão perguntava como a imagem subverte o gênero textual e de que maneira ela fazia isso.
Uma obra do Picasso foi tema de uma das questões do Enem: a obra “Cabeça de Touro”. A obra de 1942 é composta por um celim e um guidão de bicicleta em bronze. A questão pedia para interpretar a obra e ver como objetos abstratos transmitiam a imagem que o artista queria.
Uma das questões apresentou o trabalho da quadrinista Ju Loyola, que é deficiente visual. Ela escreve “narrativas silenciosas”, pois seus quadrinhos não têm palavras, só imagens. Outro texto de apoio da mesma questão foi do site “Catraca Livre”, contando quem é Ju Loyola e sobre sua participação em um evento “geek”. A questão era de interpretação dos textos em conjunto.
O Enem perguntou aos candidatos sobre a originalidade da releitura de uma foto em que o pintor norte-americano Jackson Pollock aparece pintado seus quadros. Pollock é um ícone do impressionismo abstrato. A foto original é de 1951, enquanto a releitura é do artista plástico brasileiro Vik Muniz, de 1997. Ele faz pinturas usando chocolate.
Outra questão perguntava sobre os objetivos da campanha “Palavras têm poder”, realizada pelo Ministério Público de Pernambuco. O texto da campanha diz: “A liberdade de expressão é uma conquista inquestionável. O que todos precisam saber é que liberdade traz responsabilidades. Publicar informações e mensagens sensacionalistas, explorar imagens mórbidas, desrespeitar os Direitos Humanos e estimular o preconceito e a violência são atos de desrespeito à lei.”