Confraria dos Últimos Românticos: A thing of beauty is a joy for ever*

*John Keats

[Para ler ao som de Elephant Gun – Beirut]

__ Ai, eu amo essa música.

Você vinha pelo jardim, o sol fraco da manhã chegando na gente aos poucos. Você vinha pelo jardim com um copo na mão e o olho semi-cerrado, tentando enxergar na claridade recém-chegada. Você vinha pelo jardim e parou quando a música começou, e você fechou os olhos e sorriu, e virou a cabeça para o lado como se dançasse. E ali, bem ali, eu vi meu destino inteiro. “Ai, meu coração”, eu disse. Bem ali eu descobri que te amaria pra sempre.

Eu levei você pra casa e coloquei a música pra você dançar. E você dançou, e você me puxou pra dançar, e dançamos juntos. E nos amamos. Horas, dias, meses a fio. Eu te amei com urgência e uma ligeira adoração, fiz daquela cama um altar onde você reinava solene, os olhos semi-cerrados enquanto eu, de joelhos, adorava você. Você me amou sem pressa e sem grandes surpresas, seus olhos semi-cerrados em busca das janelas por trás das cortinas enquanto eu, de joelhos, adorava você.

Você me amou sem pressa, e até o fim.

Eu te amei com uma urgência sem fim.

Você se cansou do amor que eu sentia, e você partiu numa tarde de sol quente, óculos escuros guardando lágrima nenhuma, e você partiu sem parar, e eu vi meu destino inteiro ali. Bem ali eu me lembrei daquela manhã, daquela música, do teu olhar semi-cerrado e do teu sorriso de canto de boca. Eu gritei teu nome, você virou a cabeça como se dançasse, como se prestasse atenção à música mais triste do mundo – e partiu.

Ai, meu coração.

Por Daniela Andrade

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