Fundada por ex-seringueiros, cooperativa do Acre exporta para 10 países europeus

A Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), acaba de completar a maioridade, enfrentando o momento de crise na economia do país mas com um faturamento de causar inveja a muitas empresas brasileiras. Fundada em 2001, chega os 18 anos de atividade como uma das maiores cooperativas em atividades no país, é a maior produtora e beneficiadora de castanha-do-brasil no Brasil, trabalha com mais de 2.500 famílias e movimentou, nos últimos três anos, a média anual de R$ 38 milhões. Seus fundadores são ex-seringueiros, a maioria sem formação que, no entanto, vêm dando demonstração de que acertaram no negócio.

“Nós fundamos esta cooperativa com a missão de trabalhar pelo desenvolvimento econômico de atividades agroflorestais sustentáveis dos pontos de vista ambiental, econômico e socialmente justo”, disse o fundador Manuel José Gameleira, 70 anos, que está há seis mandatos no cargo. “Somos uma cooperativa de comércio e indústria de produtos florestais que hoje agrega outras 22 associações e cooperativas dedicadas a atividades extrativistas como a coleta da castanha ou a extração da borracha e do óleo de copaíba que também vendemos para as indústrias”, acrescentou.

Empresa exporta produtos para países europeus/Foto: cedida

A fábrica gera 31 empregos diretos, mais 13 na comercialização e beneficia quase duas mil famílias ligadas às 22 associações e cooperativas com as quais trabalha em rede. A proposta de formar uma cooperativa que respondesse pela comercialização dos produtos agroflorestais extrativistas passou por várias entidades, com várias tentativas fracassadas anteriormente. Ao ser assumir a Cooperacre, que estava mergulhada em dívidas e enfrentava uma série de dificuldades, um grupo de estudantes, filhos, sobrinhos e parentes dos velhos seringueiros, recebeu bolsas para encontrar estratégias administrativas e financeiras. O descrédito gerado pelos insucessos de outras cooperativas prejudicou a Cooperacre, até que em julho de 2006, o governo cedeu a usina de Brasileia.

“A vontade de vencer era tanta que em menos de 30 dias toda a fábrica já funcionava, inclusive com embalagens e caixas levando a marca da cooperativa. Embora nunca tivessem administrado uma fábrica, fomos aprendendo com os erros anteriores”, disse o atual superintendente da Cooperacre Manuel Monteiro. O sucesso veio com o trabalho de muitas mãos, a começar pelos pesquisadores da Embrapa, que desenvolveram técnicas de manejo capazes de garantir a saúde e uma maior produtividade das castanheiras. Além disso, processos práticos a partir da coleta passaram a evitar a formação do fungo Aspergilus que infecta a castanha com o veneno Aflatoxína, que é capaz de estimular o surgimento do câncer no aparelho digestivo de seus consumidores.

Devido a isso a comercialização da castanha do Brasil chegou a ser proibida em vários países da Europa. Uma das chaves das vitórias alcançadas pela Cooperacre é manter sua essência cooperativa – ou seja, os cooperados são informados de tudo o que se passa nos negócios através de uma assembleia geral realizada uma vez por mês. Além de analisar relatórios, as lideranças associadas tomam decisões coletivas assumindo a responsabilidade sobre sucessos e erros.

A comercialização de castanha-do-brasil desidratada exige cada vez mais melhorias do ponto de vista tecnológico e sanitário, assim como a sua forma de apresentação ao mercado consumidor. Mediante recursos próprios e de projetos junto aos governos federal estadual, a Cooperacre ampliou e modernizou sua planta das indústrias de beneficiamento do produto. “As indústrias estão localizadas nos municípios de Brasileia e Xapuri. A modernização foi capaz de garantir a ampliação dos nossos negócios com elo menos dez países da Europa, principalmente da Alemanha”, diz Monteiro.

Nas indústrias, o processo de automação garante o processo de produção onde o contato com as amêndoas, após o descasque, é o mínimo possível. “Isso permite uma produção com segurança e qualidade exigida pelos órgãos de fiscalização, além dos clientes nacionais e internacionais”, disse o superintendente.

A procura pela castanha, principalmente em nível internacional, aumentou a partir da descoberta de cientistas de que a amêndoa é rica em lipídios e proteínas que todos os aminoácidos essenciais à saúde humana, além de outros componentes importantes como o selênio. O selênio é um antioxidante natural, que atua na proteção das células contra os radicais livre. “Uma alimentação diária balanceada pode auxiliar na prevenção do envelhecimento precoce, doenças cardiovasculares, câncer, artrite e doenças neurodegerativas como parkinson e alzheimer”, disse o superintendente Manuel Monteiro.

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