A morte do líder sindical e ambientalista Chico Mendes, assassinado com um tiro de escopeta disparado à queima roupa contra seu peito, em dezembro de 1988, mataram o homem – mas jamais suas ideias de preservação. Uma nova geração de ambientalistas está surgindo na Reserva Extrativista que leva o nome do sindicalista abatido e no Seringal Cachoeira, onde ainda vivem muitos dos familiares de Chico Mendes, e prometem levar adiante os ideias de preservação pelos quais o líder sindical foi assassinado.
Os novos ambientalistas, filhos de seringueiros que lutaram ao lado de Chico Mendes e autênticos herdeiros dos ideias do sindicalista assassinado, acabam de participar de um curso de formação de lideranças, promovido por entidades que apoiam a causa ambiental, uma iniciativa do Conselho Nacional das Populações Extrativista (CNS), Comitê Chico Mendes e WWF Brasil.
“São jovens da Reserva que manifestam, assim como jovens de outros lugares do país, sua insatisfação com a atual situação das políticas ambientais do País”, disse a ativista Ângela Mendes, filha mais velha de Chico Mendes e uma das monitoras do curso de formação de novas lideranças.
Os alunos do curso são jovens moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes, cuja área abrange os municípios de Rio Branco, Xapuri, Brasiléia e Assis Brasil. Eles querem ser protagonistas e ocupar espaços no movimento ambiental e debater as políticas públicas que envolvem as ações relativas às unidade de conservação. Todos se manifestam contra as políticas implementadas pelo presidente Jair Bolsonaro e seu ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Ronaira Barros, filha de Raimundo Barros, primo e seguidor de Chico Mendes, disse que o objetivo do curso é formar novas lideranças que possam ocupar os espaços de discussão e fazer o enfrentando aos discursos ameaçadores dos governos federal e estadual que, segundo ela, tendem a colocar em risco tanto a integridade física da Resex Chico Mendes quanto o próprio legado do líder sindical. “Somos jovens, filhas e filhos de seringueiros, e não devemos ter vergonha em dizer que moramos no seringal ou que somos seringueiros, pois foi com essa luta que obtivemos muitas conquistas e que muito sangue foi derramado”, afirmou Ronaira, se referindo a uma crise de identidade que afetaria os jovens de origem extrativista na atualidade.
Como resultado do encontro, os jovens elaboraram uma carta de repúdio “a todo e qualquer ato que possa colocar em risco o território da Reserva Extrativista Chico Mendes e manifestando total apoio as ações do ICMBio que vem sendo atacado veementemente por suas ações de combate aos invasores da referida unidade de conservação”. O curso foi encerrado com uma espécie de oração no meio da floresta, no qual os participantes recitaram um texto de autoria de Chico Mendes sobre a necessidade da preservação. Os participantes gravaram um vídeo sobre este momento.