Pecuaristas acreanos estão comemorando, desde o início da semana, o aumento no preço da arroba do boi, que saiu de R$ 145,00 – valor que estava praticamente congelado desde 2015 – para R$ 175, 00 – um aumento significativo da ordem de R$ 30,00, e com tendência de subir ainda mais nos próximos dias. A tendência de aumento vem ocorrendo em todo o país e nos grandes centros, como São Paulo, o preço já é de mais de R$ 200,00.
No final desta sexta-feira (22), em São Paulo a arroba estava cotada a R$ 206,00 e os pecuaristas locais acham que, no máximo na semana que vem, o Acre vai se aproximar deste valor. Uma arroba corresponde a 15 quilos.
A empresa Scot Consultoria, que assessora o mercado da carne bovina no país, divulgou que nos últimos dias houve alta na cotação na carne de boi em 27 praças pelo país. Só em Mato Grosso, Estado que possui o maior rebanho bovino, o aumento foi de 4% de um dia para o outro. Consequência: já estão sendo registrados aumentos no preço da carne nas gôndolas dos supermercados por conta do choque de oferta. Ou seja, o acréscimo chega ao consumidor.
Os dados vieram via Índice de Preços ao Produtor Amplo, da Fundação Getúlio Vargas: houve alta de 5,26% em novembro, dez vezes acima do mês de outubro. No caso do contrafilé, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) registrou acréscimo de 6,04%. Já em outubro, foi de 2,69%. Economistas da Fundação Getúlio Vargas acreditam que o preço da carne vai continuar subindo e vir a ser um desafio para a dona de casa. O Acre está acompanhando esta tendência.
O aumento vai se refletir no bolso do consumidor, mas não será nada capaz de inviabilizar o consumo de carne no país, avalia o pecuarista acreano Fabio Medeiros. “Uma banda de boi inteira, que o açougueiro compra para descarnar, terá carne a ser oferecida de R$ 7,00 a R$ 15,00 o quilo”, disse Fábio Medeiros.
Dois fatores vêm contribuindo para o amento do preço da arroba do boi. Em nível nacional, o aumento é decorrente do aumento de vendas de carne para a China, país com a maior densidade populacional do mundo, com mais de 2,6 bilhões de habitantes – e muita fome, que é o maior comprador de carnes do país. Em nível local, o aumento nas vendas e no valor da arroba seria decorrente de uma medida adotada pelo governador Gladson Cameli de redução da alíquota de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias), na ordem de 80%. “Por isso, está saindo muito boi do Acre isso faz com que aumente a procura por carne e consequentemente aumentar o valor do produto”, avalia outro pecuarista, Túlio Lemos. “Esse ambiente está favorável ao aumento nas vendas e na elevação dos preços”, acrescentou.
Outro pecuarista, Maurilo Leite, atribui o aumento no preço da arroba às informações sobre a qualidade e sanidade do rebanho acreano, que deve passar a ser livre da aftosa sem vacinação a partir deste ano. “Isso melhora muito a nossa situação em nível de mercado. O Acre não exporta para a China, mas como outros mercados do país exportam, essa carne tem que ser substituída e é aí onde entra a nossa”, disse Leite.
O Acre abate uma média de mil bois por dia. Com o peso médio de 240 quilos por cada boi batido, o volume de carne negociada no Estado, nos mercados externos e internos, diariamente, é de 2,4 mil toneladas. A maior parte desta carne vai para exportação. Em outubro de 2019, segundo números da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o Brasil exportou 185.537 mil toneladas e faturou US$ 808,4 milhões. Esses números são recordes e a China, assim como alguns países do Oriente Médio, foram os principais importadores.
A tendência de aumento irá se manter após as recentes habilitações de novas unidades frigoríficas, que saltaram de 16 no início deste ano para 40 unidades atualmente, informa a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). O Acre tem dois granes frigoríficos em funcionamento.
O pagamento do décimo-terceiro salário e o pagamento do funcionalismo em dias são incentivos para o consumidor brasileiro adquirir mais carne para o seu churrasquinho natalino. Resultado: a indústria passa a ter dificuldade para adquirir animais para o abate e paga bem aos pecuaristas, aumentando o valor que estava praticamente congelado, “É um momento muito bom para nós, pecuaristas. O mercado está aquecendo”, comemorou o pecuarista Fábio Medeiros.